Para a mais bela
Redação DM
Publicado em 7 de março de 2016 às 01:06 | Atualizado há 9 anos“Para a mais bela” era a inscrição que estava na maça de ouro, anonimamente entregue aos deuses do Olimpo durante uma festa. A semente da discórdia estava plantada. Afrodite, Atena e Hera de imediato se consideraram a mais bela, merecedora do pomo de ouro. Ninguém quis se meter na confusão, tanto é que o próprio rei do Olimpo, Zeus, se livrou da responsabilidade, deixando essa dura decisão a cargo de Páris, um mortal, culminando na guerra, e queda, de Tróia.
A infindável luta pela beleza e a forma de expressá-la fazem parte do pensamento humano desde os tempos mais antigos. Durante a história da humanidade o belo foi contemplado nos contos, nas artes e nos corpos. A beleza foi vista de diversas maneiras, e em diversos padrões; mas com o desenvolvimento das novas tecnologias houve um redimensionamento do que é bonito e do que é feio. Percebemos isso através da mídia e sua forte influência sobre as pessoas.
Veículos de comunicação, operando com um poder massificador, uniformizam o belo, baseando-se no consumismo capitalista. O novo padrão é comercial, apresentado sob o véu da mais pura felicidade, bem aventurado aquele que é formoso; entretanto, por trás das propagandas, o que existe são controle e poder.
Como dizia Rousseau, no discurso sobre as ciências e as artes; reina a vil e enganadora uniformidade, parecendo que todos os espíritos foram atirados num mesmo molde, e sem cessar, todos seguem os usos, jamais o seu próprio gênio. Ninguém mais ousa parecer aquilo que é; e, nesse constrangimento perpétuo os homens se formam em um rebanho, controlado pelos poderosos.
Tanto a beleza, quanto o seu oposto, são subjetivos. Não se trata, portanto, de uniformizar os gostos, e sim de preferências. A beleza não deve ser tratada como uma norma, uma regra a seguir, como o único caminho do bem estar e da felicidade. A beleza deve ser apreciada por todos, cada um conforme a sua sensibilidade.
Não estamos errados quando nos preocupamos com a beleza, a inquietação em torno desse tema sempre nos acompanhou, enfeites e adornos estiveram presentes até nos objetos primitivos. O perigo está nos moldes que são impostos a nós, e também nos meios que usamos para alcançar o belo, a beleza tem seu preço e, para alguns, ela cobra o preço de uma vida.
Espelho, espelho meu, existe no mundo alguém mais belo do que eu?
(Eder Carneiro é escritor)