Clássico de Shakespeare, chega a Goiânia este final de semana para curta temporada
Redação DM
Publicado em 3 de março de 2016 às 19:21 | Atualizado há 9 anosPor Rariana Pinheiro
Uma peça de Skakespeare transportada para os dias atuais, com elenco de 15 atores, cuja protagonista é nada menos que uma diva da dramaturgia brasileira. Tudo isto está presente na adaptação do diretor Nicholas Hytner em parceria com o dramaturgo Ben Power, no espetáculo Timon de Atenas. O drama que é protagonizado por Vera Holtz, chega para pequena temporada na capital, que se inicia hoje e segue até o próximo domingo (6), no Teatro Goiânia.
Hoje e amanhã o espetáculo se inicia às 21h, enquanto no domingo a sessão começa mais cedo, às 18h30. A conversa com público e profissionais da arte também está na programação: sábado, antes da encenação os atores se unirão ainda – entre às 10h e 12h -, para uma oficina destinada a atores e diretores da cena local.
No último dia da curta temporada após a encenação, elenco e direção se encontrarão os goianos novamente para uma mesa redonda sobre a construção do espetáculo, às 20h30. Um detalhe importante é que esta atividade estará aberta até para quem não assistiu o espetáculo – mas a entrada está sujeita à lotação do Teatro Goiânia.
O espetáculo, que possui direção de Bruce Gomlevsky, é baseado na tradução de Barbara Heliodora e estreou no Teatro Maison de France no Rio de Janeiro, em outubro 2014. E lá permaneceu, com sucesso, até dezembro do mesmo ano. Na época da estreia, o espetáculo era um elenco grandioso, com 28 atores, mas nas apresentações de Goiânia, a equipe foi enxugada. Logo, 15 atores viverão 22 personagens.
Além da famosa atriz de 63 anos, que deu vida a personagens inesquecíveis, como Mãe Lucinda, Santana e Dona Redonda, estão no elenco: Alice Borges, Camilo Bevilacqua, Paulo Giardini, Iano Salomão, Marcelo Morato, Lourinelson Vladmir, Lorena Sá Ribeiro, Giovanna de Toni, Luisa Maldonado, Paola Castilho, Charles Asevedo, Junior Prata, André Rosa e Braulio Giordano.
Encontro de épocas
Nesta montagem, o público vai poder conferir o que tem se tornado uma tendência nos teatros da Europa: mulheres interpretando personagens masculinos de Shakespeare (a atriz francesa Sarah Bernard já deu a vida a Hamlet, no fim do século XIX e a britânica contemporânea Fiona Shaw já interpretou Ricardo II). É fato que neste caso, os diretores optaram pelo gênero neutro, ou seja: Vera Holtz não vai entrar no palco transvestida de homem.
A cenografia de Helio Eichbauer, aliada ao trabalho de videoarte de Lais Rodrigues trazem um toque moderno ao texto centenário. A dupla optou por um cenário no qual projeções e animações interagem com os objetos de cena, e não é raro grafites aparecerem para caracterizar a urbanidade do ambiente.
Outro sinal de interação entre o século XVI e o século XXI é que a história do dramaturgo inglês foi transportada para os dias atuais. Logo, a trama é se passa em uma grande Capital Federal. É neste contexto, que a vida do dada à festas, arte e poder de Timon de Atenas, vivido por Vera Hotz.
Como um bom mecenas, ele patrocina com prazer a artistas, amigos, prostitutas, e quem mais estiver presente. Por isso, é exaltado, à revelia em seus jantares imponentes. Mas, a vida boa deste homem não dura para sempre. Na trama, ele se depara com a ruína financeira, é rejeitado pela sociedade que o endeusava e até se torna morador de rua.
Cheio de ira e fúria contra a humanidade, Timon se une a manifestantes, que estão prestes a tomar o poder. Contudo, outra decepção do ex-ricaço é que os tais revolucionários resolvem se unir ao governo vigente.
“Shakespeare antecipa o que estamos vivendo. Da corrupção política à revolta nas ruas, passando por quem se sente roubado e pouco representado e pela eloquência com que artistas bajulam patrocinadores”, disse o diretor.
É o que disse Vera Holtz em entrevista ao DMRevista. No bate papo por telefone, a artista que chega hoje a Goiânia, falou um pouco sobre o desafio de interpretar Timon de Atenas e também comentou sobre o sucesso, que tem feito na internet. Com performances artísticas – quase sempre de roupa e óculos com armação preta -, ela tem conquistado um batalhão de seguidores. Um de seus posts mais famosos aconteceu no Carnaval, quando produziu uma série de fotos ao lado de um grande copo do bom e velho boldo. Cada foto desta série atingiu mais de 20 mil curtidas. Confira alguns trechos da entrevista a seguir.
DMRevista: Este espetáculo você estreou em 2014 em um processo de produção bem acelerado. Você precisou decorar cerca de mil de palavras em quatro semanas – e isto deve ter sido uma loucura, né? Como analisa sua interpretação do Timon da estreia, com a de hoje
Vera Holtz: A minha participação na peça foi montada em quatro semanas. Eu sinto que hoje a personagem mais aterrada. Tenho mais tranquilidade para estar em cena. As relações no palco hoje estão mais assumidas, o desenho em cena está mais claro. Eu entro então mais tranquila, porque durante as apresentações fui conquistando esse espaço.
DMRevista: Sem dúvidas você deu vida com maestria a muitas figuras na TV e no teatro. Mas, um personagem de gênero neutro, ainda era novidade. O que mais te encanta nesta experiência?
Vera Holtz: O personagem dinâmico, tem energia, conduz toda ação. E eu queria experimentar isso. Esse personagem foi desafio. É uma história ótima. O que pesa para escolhas dos trabalhos que participo é o conteúdo mais que do que qualquer outra coisa. E nesta peça gostei desse jogo, desse play. Gosto muito de como vamos contar essa história.
DMRevista: Como se sente em completar 35 anos de carreira com uma peça como Timon de Atenas?
Vera Holtz: Todo personagem me desafia. Mesmo que um ator tenha muita técnica, background, tudo é desafiador. Nunca tinha feito uma obra, assim. Então a gente aprende, entra na obra nova meio zerada. Acho bom eu ter essa dinâmica de zerar e recomeçar. O que for importante vou manter, o que não for, vou descartar.
DMRevista: No Instagram e Facebook você tem sido um fenômeno. Você ganhou até um bloco de Carnaval. Por que acha de ter se tornado uma “web celebridade”?
Vera Holtz: É um segmento específico que me acompanha na internet. É um público mais jovem, que aprecia a utilização da imaginação e um mundo mais lúdico. Vejo as redes sociais como plataformas de criação. Vejo que as pessoas que me seguem se identificam com esta forma lúdica e brincalhona de viver a vida. Para mim o papel das redes sociais é esse.
DMRevista: Nas redes sociais seus posts, mais que criativos, são artísticos e possuem toda uma produção. Neles, muito da artista plástica aparece, né? Como é que nascem estas fotos tão performáticas?
Vera Holtz: Tenho formação em teatro, música e em artes plásticas. Isso permeia não só o trabalho das redes sociais, como também meu trabalho de atriz. Esta formação está em tudo, eu sempre coloco nos meus personagens.
DMRevista: Sua volta a TV será na novela em Sagrada Família. Pode nos contar um pouco do seu personagem?
Vera Holtz: Começamos em abril o trabalho de pré-produção. Assim que começar Velho Chico. Na verdade ela iria começar antes de Velho Chico e foi adiada. Anda estamos recebendo os capítulos. Ainda tem como falar muito sobre o personagem.
Você é uma atriz que já fez praticamente tudo no teatro. Como você avalia a qualidade, produção e incentivo a esta arte no Brasil?
Vera Holtz: O mundo é um reflexo da gente, né? E o que sinto é há que cada vez mais companhias. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, o teatro está muito presente e, por onde tenho andado percebo este envolvimento. Em Goiânia não sei ainda, vou conhecer agora. Vejo também um bom momento no cinema, nas artes plásticas. Estamos indo bem!
Serviço
Espetáculo Timon de Atenas
Quando: Hoje e amanhã às 21h, domingo às 18h30
Onde: Teatro Goiânia (Avenida Tocantins com Avenida Anhanguera, Qd. 67 Lt. 32 Setor Central)
Pontos de venda: FNAC (Shopping Flamboyant), Livraria Leitura (Goiânia Shopping), Pharmacia Therapeutica (Setor Sul Rua 83, 206)
Bilheteria do Teatro – somente nos dias do espetáculo