“Mulheres do grelo duro”, ”tanques-de-guerra”, “mulherada”
Redação DM
Publicado em 10 de abril de 2016 às 01:56 | Atualizado há 9 anosTentando entender por que não gerou comoção entre o “exército feminino de Lula” serem assim chamadas pejorativamente
Se qualquer “homem machista” assim tivesse chamado as mulheres de esquerda, seria crucificado em praça pública. Por que, no caso de Lula, elas se sentiram honradas? Este artigo é uma tentativa de entender psicologicamente este fenômeno.
Estes dias, num evento médico sobre a organização do SUS, eu compunha a mesa com mais dois homens e três mulheres. Nós, homens, tivemos uma visão compartilhada de que o SUS vem massacrando as iniciativas dos médicos brasileiros. Em nome dele (“para preservar o SUS”) foi que Dilma – uma das prováveis mulheres do grelo duro, como as chamou Lula, recentemente – acabou com a regulamentação da profissão médica, acabou com o diploma médico ( não-médicos podendo exercer a profissão), acabou com a residência médica (quem trabalha para o governo tem aprovação certa nesses concursos), acabou com as especialidades médicas (critérios ridículos para diplomar especialistas), etc. Também concordamos, os “homens individualistas” da mesa, que os impostos, exigências, regras, obrigatoriedade de contratação de uma enormidade de cabides-de-empregos-de-profissionais-de-saúde, etc, vêm também impossibilitando as iniciativas individuais, privadas, da maioria dos médicos remediados , hospitais remediados, fora do SUS (os médicos/hospitais ricos – tipo “os campeões do BNDES” – esses sempre tiveram o apoio do Governo para prosperar). No entanto, na mesa-redonda, mal tecemos nossas considerações, quando nós, os “fálicos médicos”, fomos atacados por uma saraivada de impropérios da bancada esquerdista-feminina. Todas defendendo o socialismo com palavras bonitas : “o coletivo perpassa toda a ideia do SUS”, “o SUS é um matriciamento equilibrado das demandas e do controle social”, “o SUS é uma conquista inolvidável do povo brasileiro, que não tinha assistência antes dele”, “50% do orçamento da saúde vai para os médicos empresários”, etc. Uma das componentes era uma representante do Denem/ligada à UNE , “o coletivo dos estudantes de medicina” (olha a bonita palavra “coletivo” aí de novo). Outra era uma enfermeira que já foi alta gestora estadual da Saúde e outra era uma diretora de hospital público. No discurso de todas “perpassava” (gostei muito desta palavra) o clima de que é “no SUS”, é “no Governo”, é no “coletivo”, que se opões, se desafia e se quebra o fálico poder do frio empresário, do homem, do ganancioso, do individualista (aqueles que “só querem coisas para si, em detrimento do “coletivo”) . Eu me dei conta, ali naquela hora, da imensa batalha que o “poder feminino” enceta, hoje, contra a “iniciativa individual fálica” neste País (homens e mulheres que querem acreditar em seu potencial próprio e fazer alguma coisa, sem depender do Estado). Não é preciso que se diga aqui que uma eventual mulher que não se dobre ao “poder do coletivo lulista” também é julgada pelo exército do grelo duro como alguém de sexo fálico, ou, melhor dizendo, serão julgadas como “mulheres do grelo mole”. É estarrecedor que “as mulheres greludas” de Lula, tão ciosas de seu valor, tão ciosas da dominação secular sofrida pelo patriarcalismo machista, se entreguem tanto à sanha fálica dos homens do PT, Lula, Dirceu, Genoíno, etc. Mais estarrecedor ainda é que, mesmo após serem vilipendiadas em público pelas palavras de Lula (“vou colocar as mulheres do grelo duro para bater nesse cara”, “joguem a MULHERADA em cima dele”, e por aí vai…) elas se sintam tão amadas e identificadas com o agressor (Freud explica?). Será que, psicologicamente, para elas, Lula encarna aquela figura masculina do vovô bonzinho que lhes fez falta protetiva durante a infância? Um vovô já dessexualizado, “brochinha”, que não tem mais o ignóbil falo para humilhá-las, oprimi-las e colocá-las limpando chão e fazendo janta? Sim, com certeza, o Lula-camaleão também se presta bem a este papel do vovô des-masculinizado: trata-as, ao fundo, como “as mulheres de grelo duro”, mas na frente delas chama-as melosamente de “queridas”. Isto as faz cegas para o enorme poder fálico que eles – os “galãs do PT” (não diziam que o “lindinho Zé Dirceu/Lindembergh pegavam todas”?) – exercem, de fato, sobre elas um poder bem maior do que qualquer outro prosaico e truculento “bicho de três pernas” exerceria. O cultivo, por parte dos gurus/galâs/paizinhos-de-todos-os-povos, da “mulherada do grelo duro” é uma arte, e arte tão mais elaborada quando se utiliza de uma ideologia aparentemente anti-fálica-individualista-capitalista. Uma ideologia social, “coletiva”, “compactuada”, colegiada, como meio de cultura diluidor do falo. É uma fórmula perfeita, pois contempla tudo que o grelo duro requer: a) não somos ligadas afetivamente, conjugalmente, a homem nenhum, ninguém nos domina e nos coloca para limpar chão e fazer janta. b) ao mesmo tempo, os nossos chefes são homens viris, com os quais podemos trepar à vontade, no idílico ideal do “amor livre”. Não é assim que até hoje os Dirceus, Lindemberghs, etc, podem ter um estado civil indefinido? Não é assim que não demos um pio quando um eventual truculento Lula aparentemente traia sua feminina mulher com uma “femme fatale” (a representante da “República Brasileira” em SP)? Casamento, família, monogamia, compromisso servil com um macho? Tudo coisa de homem falastrão, patriarcal, e de mulheres do grelo mole; nós não, do exército-do-paizinho- de todos-os-povos, não somos assim. c) mesmo quando somos chamadas de “mulheres do grelo duro”, de “mulherada”, isso não nos atinge, quando parte o epíteto de nosso emasculado-eunuco-chefe-de-harém (o “pseudo-monogâmico-casto” Lula). Nos chamou assim carinhosamente, como um avôzinho, e fez isso para demonstrar e provocar nossa força; nos sentimos honradas… Stalin e Hitler também exerciam bem este pape : ambos evitavam ter um estado civil definido,”(“não somos de mulher alguma, podemos ser de todos”), uma relação sexual definida com alguém, tudo para poderem encarnar com justeza o ideal do “avôzinho-bom condutor das massas”, e “amante da pátria”. d) nossos “paizinhos”, nossos “avôzinhos”, nos dão, além de tudo, toda a proteção viril (mas convenientemente desfalocizada) da qual ressentimos inconscientemente a falta, além de nos guiarem seguramente pelas veredas do “coletivo” que perpassa todo igualitarismo social. Não há nada melhor do que o nosso exército mobilizado contra os homens que ainda tentam ser alguma coisa viva e individual no seio da geleia geral estrogênica em que se transformou esta republiqueta comunista abaixo do Equador.
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)