Terapia Hormonal na Menopausa : Um risco para o seu coração ou um benefício?
Redação Diário da Manhã
Publicado em 29 de junho de 2025 às 05:46 | Atualizado há 2 dias
Com o aumento da expectativa de vida, estima-se que até 2030, teremos 1.2 bilhão de mulheres na menopausa. Cuidar dessas mulheres, proporcionando saúde física, mental e sexual, tem sido um desafio constante.
Os sintomas da menopausa interferem diretamente na qualidade de vida dessas mulheres.
Se por um lado há uma busca constante por tratamentos que resolvam ou minimizem esses desconfortos, por outro há um medo dos riscos, sobretudo da terapia de reposição hormonal.
Medo de câncer de mama, medo de trombose, medo de ganhar peso e até do hormônio fazer mal ao coração.
E foi por isso, que fomos ouvir Drª Kecia Amorim, cardiologista, que nos contou o que a ciência tem mostrado sobre riscos e benefícios da terapia hormonal para a saúde cardiovascular.
Drª Kecia, como a queda dos níveis de estrogênio durante a menopausa afeta a saúde cardiovascular da mulher?
A queda dos níveis de estrogênio na menopausa leva à perda do efeito protetor cardiovascular, favorecendo:
• Disfunção endotelial (piora na dilatação dos vasos)
• Aumento da rigidez arterial e da pressão arterial
• Piora do perfil lipídico (aumento do LDL, redução do HDL)
• Aumento da gordura visceral e resistência à insulina
• Maior inflamação e estresse oxidativo
Tudo isso irá contribuir para o aumento do risco de hipertensão, aterosclerose, infarto e AVC após a menopausa.
O uso da terapia hormonal na menopausa é seguro para o coração? Quando ela é recomendada?
• Segura e benéfica quando iniciada em mulheres jovens na menopausa (<60 anos ou <10 anos do início da menopausa) sem doença cardiovascular estabelecida.
• Ela pode reduzir sintomas climatéricos, melhorar o perfil lipídico, a função endotelial e pode retardar a progressão da aterosclerose inicial.
E há alguma contraindicação?
• Sim, pacientes com Doença cardiovascular estabelecida (infarto, AVC, angina), histórico de trombose venosa, tromboembolismo ou câncer de mama/hormônio-dependente e doença hepática grave.
O risco depende do tipo de hormônio e da via de administração. A via transdérmica é mais segura do que oral.
Drª Kecia enfatiza ainda que os problemas cardiovasculares podem afetar também a saúde sexual. Ao reduzir o fluxo sanguíneo, essas mulheres podem ter mais dificuldade para atingirem o orgasmo. Além disso, precisamos considerar fatores psicológicos como ansiedade e medo de eventos cardíacos durante o sexo.
Alguns medicamentos anti hipertensivos como os beta bloqueadores e os diuréticos, podem diminuir a libido, impactando diretamente na vida sexual e nos relacionamentos. Por outro lado, a disfunção sexual pode ser um marcador precoce de doença cardiovascular.
E como fica a vida sexual de uma mulher após a colocação de stents ou pós-angioplastia?
Após a recuperação adequada, as pacientes podem retomar a atividade sexual com segurança.
• Geralmente estão liberadas após 1 a 2 semanas, se não houver complicações.
• A prática sexual equivale a um exercício físico leve a moderado (subir dois lances de escada, por exemplo).
• Avaliação cardiológica pode ser necessária em casos de dúvida ou presença de sintomas.
E as mulheres que já tiveram um infarto do miocárdio?
• A vida sexual pode ser retomada após a estabilização clínica, geralmente entre 1 a 4 semanas, dependendo da gravidade do infarto e da capacidade funcional.
• É recomendada uma avaliação médica prévia, especialmente se houver sintomas como dor no peito ou falta de ar aos esforços.
E Drª Kecia deixa ainda algumas dicas para a vida sexual de quem já passou por algum evento cardíaco:
- Escolha ambientes tranquilos, sem pressões emocionais
- Evite refeições pesadas e álcool antes do sexo
- Utilize posições confortáveis que reduzam o esforço físico
Fazer uma avaliação cardíaca periódica é fundamental para as mulheres na menopausa. Uma boa orientação médica e um trabalho multidisciplinar, em conjunto com o ginecologista pode ser fundamental para que as mulheres sejam bem orientadas nos cuidados com sua saúde nessa nova fase da vida, que é a menopausa.
E se você chegou lá, não se desespere. Procure ajuda! Essa nova fase pode ser muito bem vivida, com saúde e prazer!
Para falar com Drª Kecia Amorim – @dra.keciacardiologista
Para falar comigo – @drajoicelima