CEAP-SOL alia rigor técnico e acolhimento emocional no enfrentamento da desnutrição hospitalar
Redação Diário da Manhã
Publicado em 9 de julho de 2025 às 09:21 | Atualizado há 7 horas
Em cada quarta-feira no CEAP-SOL, unidade estadual gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes e referência no atendimento a pessoas com doenças pneumológicas, HIV e condições neurológicas, as refeições chegam acompanhadas de algo além dos nutrientes: pequenos bilhetes com mensagens de incentivo e palavras de apoio emocional. A iniciativa, simples na forma, tem sido poderosa no enfrentamento da desnutrição hospitalar, uma preocupação crescente.
“Os recadinhos são um gesto de acolhimento. Sabemos que o estado emocional também interfere diretamente na aceitação alimentar e no processo de recuperação”, afirma a nutricionista clínica Marcela Garcia Reis, responsável técnica pela terapia nutricional na unidade.
O CEAP-SOL atende perfis diversos, muitos deles em internações prolongadas, o que exige uma abordagem nutricional diferenciada. “Temos pacientes com anos de permanência na unidade. Por isso, nossa atuação vai além da prescrição dietética; buscamos resgatar memórias afetivas e respeitar as particularidades culturais e religiosas de cada um”, explica Marcela.
Além das mensagens semanais, a equipe de nutrição realiza atendimento diário e, sempre que possível, incorpora desejos dos pacientes em momentos especiais. Pratos que remetem à infância ou a datas comemorativas são inseridos com o objetivo de oferecer conforto emocional. “A internação prolongada traz impactos psicológicos relevantes. A comida tem o poder de resgatar memórias e trazer um pouco de alegria para quem está longe da família”, ressalta Marcela.
A ação é integrada ao trabalho da equipe multiprofissional, que inclui psicologia, fisioterapia e assistência social. “A nutrição é um componente central, mas o cuidado é sempre multidisciplinar”, reforça.
Pilares do atendimento
No CEAP-SOL, todos os pacientes passam por triagem nutricional até 72 horas após a internação. Além de análise clínica e antropométrica, o protocolo inclui entrevistas detalhadas sobre hábitos alimentares, cultura e preferências pessoais. Cada paciente é único, e respeitar suas individualidades faz parte da nossa responsabilidade ética e humanizada.
Exemplos não faltam: pacientes estrangeiros com costumes alimentares distintos, vegetarianos, intolerantes ou com restrições culturais são prontamente atendidos com cardápios adaptados. “Recentemente, acolhemos uma paciente angolana que não consome arroz, por exemplo. Pequenos ajustes geram grandes ganhos na aceitação alimentar.”
A desnutrição hospitalar
Entre as principais causas de desnutrição durante a hospitalização estão fatores diretamente associados à doença de base. “Inflamação crônica, infecções, efeitos colaterais de medicamentos e o próprio quadro clínico acabam reduzindo o apetite e levando à perda de peso”, detalha a nutricionista.
Contudo, os efeitos da desnutrição não se restringem à balança. Segundo ela, o comprometimento nutricional impacta o sistema imunológico, retarda a recuperação muscular, altera o humor e até compromete a eficácia dos medicamentos. “É comum que o estado nutricional influencie na absorção de remédios. Por isso, a nutrição hospitalar precisa ser prioridade desde o início do tratamento.”
Para muitos pacientes, a ideia de comida hospitalar ainda está cercada de estigmas. “O mito de que a comida é sem sabor ou pouco atrativa é um dos primeiros que buscamos desconstruir. Trabalhamos diariamente para oferecer refeições saborosas e, ao mesmo tempo, equilibradas, sempre respeitando as necessidades clínicas de cada caso.”