Boogarins volta às origens no Martim Cererê
Redação Diário da Manhã
Publicado em 15 de julho de 2025 às 20:57 | Atualizado há 19 horas
Com apresentação nesta sexta, 18, banda apresenta álbum caseiro e guiado por sonhos. Obra cruza melodias lisérgicas com raízes sertanejas. Single ganha clipe ambientado nos anos 1970
Marcus Vinícius Beck
Ao sacudir plateias mundo afora, a banda goianiense Boogarins retorna ao ponto de partida nesta sexta-feira, 18, às 20h, no Martim Cererê, em show que marca o lançamento do disco “Bacuri”. No Cererê, reinará a poeira do sol, as asas aos corpos e os devaneios musicais.
Ei-lo: um álbum. O quinto de estúdio, para ser exato. Um álbum lúdico. Coeso, digamos. Mas, ainda assim, um álbum pós-tropicália, pós-Mutantes, pós-Clube da Esquina.
Sombra ou dúvida? Aqui, se você não sacou, nem nenhum nem outro. O lance é assim: “Essa tristeza não vem pra ficar.” Tenha fé, ora. “Sorriso vem sem avisar”, adverte o eu lírico na faixa “Chuva dos Olhos”, a terceira de “Bacuri”, já disponível nas plataformas digitais.
Lançado no ano passado, o novo material evita os intermináveis improvisos lisérgicos. “É o primeiro disco que sentimos que consegue capturar a energia dos nossos shows ao vivo”, afirma o guitarrista Benke Ferraz, cujos arranjos salientam sua musicalidade.
“É engraçado que sempre nos chamaram de ‘meninos’, e agora os ‘meninos’ são outros, os nossos filhos”, diz o artista, pai de Rafa, de 3 anos. Dessa vez, os meninos são seu filho e do guitarrista Dinho Almeida, José Lirio, 2. A paternidade atravessa o novo repertório, aliás.

Seja nas memórias da infância goianiense ou no fluxo da existência, o Boogarins se volta ao tempo pretérito. Aquele tempo no qual a vida parecia um novelo — desatava-se aos poucos. Daí, portanto, o disco apresentado em Goiânia ter demorado para sair. Pressa para quê?
Originada na língua tupi-guarani, a palavra “Bacuri” indica tanto o fruto amazônico quanto a infância, que se revela na capa do álbum. Criado por Samuel Saboia, o desenho se inspira em sonhos infantis. Como nesse jardim da meninice, o grupo perseguiu a novidade.
Isso se materializa em timbres, sem abrir mão, claro, das melodias lisérgicas nem das harmonias brasileiras. Entre 2022 e 2024, excursionaram interpretando o repertório do mítico Clube da Esquina. Já dividiram também o palco com a banda americana The Black Angels.
Assim, nasceram as dez faixas de “Bacuri” — Ynaiã Benthroldo, baterista, estreia na composição e no vocal nesse disco. Ele canta na faixa-título, a que escreveu. Trata-se de um mantra, um prólogo, com dimensões musicais indo dos sinos aos risos de criança.
Em certo sentido, a produção foi caseira — ao menos para uma banda internacional. A engenheira de som Alejandra Luciani, o baixista Raphael Vaz e o guitarrista Dinho Almeida comandaram os trabalhos na casa em que dividiram na Barra Funda, em São Paulo. A última vez que os artistas haviam criado nesses moldes fora em “As Plantas Curam”, de 2013.

Formado naquele ano, o Boogarins explodiu na gringa ao criar uma psicodelia consistente. A banda, em termos musicais, leva o ouvinte a uma trip onírica. Nos arranjos, reverbera uma profusão de riffs indies, sintetizador à la Ray Manzarek, bateria econômica — mas elegante.
Lembra os melhores momentos de Arnaldo Baptista, como se a música fosse a estrada que guia o ouvinte ao inconsciente. “Soprar, amar. Cantar sem medo. Um artifício meu. Melhor que sufocar”, entoa a voz poética da canção “Chrystian & Ralf (Só Deus sabe)”.
Essa composição se inicia com um violão folk — remete às raízes goianas do grupo. O Boogarins se esforçou para promover um encontro entre o rock psicodélico e o sertanejo, cuja atmosfera ganha corpo sonoro nas guitarras de Benke Ferraz e Dinho Almeida.
Estética vintage
No Youtube, o quarteto disponibilizou ontem o clipe de “Chrystian & Ralf (Só Deus sabe)”. Mostra imagens de um filme ainda não concluído, “Boulevard 70”, com direção de Patrick Mendes e fotografia de Larry Machado. A produção se passa em Goiânia nos anos 1970.
Sob o olhar de Mauricinho Hippie (Mar Dias Rosa), a obra retrata um cenário cultural em ebulição criativa. Com estética vintage, as cores remetem à câmera Super 8. Mendes e Machado escolheram a música sertaneja-psicodélica pela ligação com a capital goiana.
Segundo Patrick Mendes, a ideia é o filme ser exibido para o público em 2026. “Faz parte da retomada do cinema goiano pós pandemia, mas que ainda não pôde ser finalizado por falta de recursos, ressaltando a necessidade de polícias públicas e iniciativas privadas”, diz.
De volta ao lar, Boogarins reencontra o Martim Cererê afiado — já passou pelos palcos do Coachella, Lollapalooza, Primavera Sound e Rock in Rio Lisboa. Os ingressos estão à venda pelo site BilheteriaDigital.com, a partir de R$ 80. Os dois primeiros lotes já esgotaram.