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Falha omitida antes do acidente da Voepass é revelada por testemunha

Redação Online

Publicado em 2 de agosto de 2025 às 07:51 | Atualizado há 10 horas

Uma nova denúncia revelou um elemento até então desconhecido sobre o acidente com a aeronave da Voepass Linhas Aéreas que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, em agosto de 2024, deixando 62 mortos. Segundo o relato de um ex-funcionário da empresa, uma falha técnica identificada na aeronave horas antes da decolagem foi registrada e depois retirada do diário de bordo.

O relato indica que a omissão foi deliberada, com o objetivo de impedir que a tripulação tivesse ciência do problema técnico durante o preparo para o voo. A alteração teria ocorrido durante a última manutenção feita no ATR 72-500 de prefixo PS-VPB, o mesmo modelo envolvido no acidente.

Testemunha aponta conduta irregular na manutenção

A testemunha trabalhava no setor de manutenção e disse ter presenciado o momento em que a falha foi registrada por um colega e, em seguida, retirada do sistema oficial de registros. A natureza exata do defeito não foi detalhada, mas a supressão do dado pode ter impactado diretamente a segurança da operação.

Segundo o relato, a tripulação não foi informada e decolou sem saber do risco. A informação reforça suspeitas de falhas sistêmicas nos procedimentos internos da empresa, especialmente em relação ao controle de segurança e manutenção preventiva.

“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] (alerta emitido quando há problema no degelo) durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer.” , afirmou a testemunha.

Um ano após a tragédia, investigação permanece em andamento

O voo, que partiu de Ribeirão Preto com destino a Campinas, caiu poucos minutos após a decolagem, em uma área rural de Vinhedo. Todas as 62 pessoas a bordo morreram. O relatório preliminar do CENIPA indicou que o sistema de degelo da aeronave apresentou falhas durante o voo, especialmente em um trecho com formação de gelo em altitude.

Dados da caixa-preta confirmaram acionamentos intermitentes do sistema de proteção contra gelo. Documentos obtidos pela imprensa revelaram que a mesma aeronave havia apresentado, pelo menos seis vezes em 2023, falhas semelhantes no mesmo sistema.

A recorrência de problemas e o suposto histórico de manutenção incompleta levantaram dúvidas sobre a conduta da empresa e a vigilância de órgãos reguladores.

ANAC cassou autorização da companhia em 2025

Diante da gravidade do caso, a Agência Nacional de Aviação Civil suspendeu as operações da Voepass em março de 2025. Três meses depois, em junho, a ANAC cassou definitivamente o Certificado de Operador Aéreo da empresa, impedindo o retorno de qualquer atividade comercial.

A empresa foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até o momento. A nova revelação poderá influenciar os rumos da investigação e resultar em responsabilizações administrativas, civis e até criminais.

“Se o piloto reporta, essa aeronave tinha ficado aqui [em Ribeirão Preto] ou ela não teria ido para o destino final que ela foi. Então, assim, com certeza um acidente poderia ter sido evitado.”

Famílias das vítimas seguem cobrando esclarecimentos e punição aos responsáveis. A nova informação reforça o entendimento de que a tragédia poderia ter sido evitada. A omissão intencional de informações técnicas pode configurar fraude administrativa e negligência grave.

O Ministério Público e a Polícia Federal, que acompanham o caso, avaliam aprofundar a apuração com base no novo depoimento. O CENIPA ainda não divulgou o relatório final do acidente.

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