Diagnóstico tardio do câncer de colo do útero aumenta custos e reduz chances de cura no SUS
Léo Carvalho
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 11:53 | Atualizado há 5 horas
Levantamento da MSD Brasil, empresa farmacêutica estadunidense presente em 67 países, divulgado em agosto desse ano, acendeu o alerta do diagnóstico tardio do câncer de colo do útero no país. A pesquisa analisou cerca de 207 mil mulheres com mais de 18 anos, diagnosticadas entre 2014 e 2021 a partir de dados do DataSUS, e revelou que 60% dos casos são descobertos apenas em estágios avançados da doença.
E é justamente nesse estágio que os custos sobem de forma acentuada, conforme revela o levantamento. Em estágio inicial, menos da metade das mulheres precisa de quimioterapia. No entanto, entre aquelas diagnosticadas no estágio 4, mais de 85% passam pelo procedimento, além de registrarem maior número de internações e consultas ambulatoriais.
Dinheiro Público
Dados do Observatório de Oncologia também revela que o custo médio por internação por câncer de colo do útero variou de R$ 1.871,50 em 2019 para R$ 2.224,65 em 2022. Isso pressiona diretamente o orçamento do SUS, que já gasta mais de R$ 250 milhões por ano apenas com internações relacionadas ao câncer de colo do útero, segundo informações de ambos levantamentos.

A necessidade de conscientizar a população sobre prevenção e diagnóstico precoce não se restringe ao câncer de colo do útero. O mesmo raciocínio vale para outros tipos de câncer, porque não se trata apenas de economia de recursos públicos, mas, sobretudo, de saúde e qualidade de vida.
Escalada
Um estudo do Observatório de Oncologia reforçam esse alerta: em 2022, o SUS gastou mais de R$ 3,8 bilhões em tratamentos oncológicos. Um valor que poderia ser significativamente menor se a maioria dos casos fosse identificada em fases iniciais e tratável com procedimentos menos agressivos.
Ainda de acordo com informações do Observatório, uma única sessão de quimioterapia para câncer de mama em estágio 1 custa R$ 134, enquanto no estágio 4 esse mesmo tratamento é cerca de seis vezes mais caro e chega a R$ 809. Ainda que o dado seja de outro tipo de câncer, ele ilustra bem o padrão de escalada de custos conforme a doença avança.
Desigualdade
Outro recorte social preocupante, segundo levantamento MSD Brasil, a maioria das pacientes diagnosticadas tardiamente é formada por mulheres negras, de baixa escolaridade e dependentes exclusivamente do sistema público. Além disso, quase 70% precisam viajar para outras cidades em busca de tratamento, expondo a desigualdade de acesso aos serviços especializados.
A situação ficou ainda mais escancarada na pandemia de Covid-19, que agravou o cenário. Em 2020, houve queda expressiva no número de cirurgias e radioterapias, enquanto os tratamentos baseados apenas em quimioterapia cresceram mais de 20%. Para especialistas, isso reflete o impacto da interrupção de consultas e exames de rotina.
Vacinação
Apesar do quadro, a prevenção está ao alcance. O vírus do HPV, responsável por 99% dos casos, pode ser prevenido por meio da vacinação oferecida pelo SUS a meninas e meninos. Já o exame Papanicolau, recomendado para mulheres de 25 a 64 anos, permite identificar lesões antes que evoluam para câncer. Quando realizado de forma regular, o rastreamento pode evitar até 9 em cada 10 casos.
O estudo da MSD Brasil reforça que investir em vacinação e diagnóstico precoce não é apenas uma medida de saúde, mas também uma estratégia de economia para o país. Quanto antes a doença for detectada, menores os custos para o sistema e maiores as chances de sobrevida das mulheres.
O recado do estudo é direto: investir em vacinação e rastreamento precoce não é apenas salvar vidas, mas também reduzir custos desnecessários para o sistema de saúde