Cultura

Nay Porttela renova samba em novo disco

DM Redação

Publicado em 27 de agosto de 2025 às 18:59 | Atualizado há 11 horas

Antiga capital: cantora gravou ensaio de divulgação na histórica Cidade de Goiás - Foto: Rodolfo Ruben
Antiga capital: cantora gravou ensaio de divulgação na histórica Cidade de Goiás - Foto: Rodolfo Ruben

Gravado no estúdio Banana Música, em Goiânia, Nay faz canção brasileira dialogar com cultura oriental, evocando ao mesmo tempo Tom Jobim e Ryuichi Sakamoto

Marcus Vinícius Beck

Com o violão sussurrando brasilidade, a cantora goiana Nay Porttela deixa a luz entrar enquanto se volta à tradição do cancioneiro popular. É um respiro, se pensar bem. Um nascer do sol em forma de canção. Um ritmo que plasma os tais “Inverno Sem Verão”.

Pausas e texturas evocam sonhos. Entre ritmos e timbres, a voz entoa com finesse, alva como a bruma depois do beijo. “O tempo passou/ Mas o amor ficou/ E agora eu sei muito bem o que fazer”, canta o sujeito poético, que afaga nossos ouvidos ao conjurar memórias.

Mulher livre, Nay diz que o samba segue transcultural por uma razão simples: dialoga com múltiplos ritmos. Vai do jazz à bossa nova, ou mesmo integra-se à música eletrônica, tal e qual apreciamos no hit da cantora Mariana Froes, “Vaitimbora”, e ainda mantém seu pulso.

Essa faixa passeia pelo léxico da língua portuguesa falada no Brasil. Na primeira estrofe, arejando o samba e unindo-o ao som do século 21, Mariana dá voz à nossa gente: “Pio de sabiá, sariguê/ Caxinguelê, maracajá/ Voo de Matinta Perê/ Saci-Pererê, Boitatá.”

“A maleabilidade faz do samba um gênero que ultrapassa fronteiras, porque sua base rítmica nasce da mistura entre África e Brasil. Pra mim, é uma raiz universal”, diz Nay ao Diário da Manhã, que põe para rodar nas plataformas de streaming o recém-lançado disco “Alvorada”.

Na obra, piano, violão e viola sustentam arranjos que estão ali não apenas para acompanhar a voz, mas estabelecem emoção e intenção, como na música “Doce 甘い” — uma parceria além-mar com a artista japonesa Yuga. A canção abre o disco, dando o tom da travessia.

Para Nay, certas culturas têm capacidade de nos tocar de maneira inesperada. “A música é uma ponte entre culturas e, quando explorei o universo oriental, encontrei uma riqueza de sonoridades e filosofias que complementam a alma brasileira”, reflete a artista.

Cantora goiana lança disco em que cada acorde traz cultura e carrega história – Foto: Rodolfo Ruben

Assim, afirma a goiana, a disciplina e a serenidade presentes na música japonesa são elementos que lhe trazem a dimensão de sua própria arte. Nesse universo, o que mais a seduz é a estética, a fé e a filosofia do país onde nasceu o escritor Haruki Murakami.

Cada acorde traz cultura. Carrega história e significado. Como revela Nay, as raízes do budismo, taoismo e zen, a exemplo das práticas de meditação orientais, da busca pelo autoconhecimento e pela paz interior, inspiraram todo o repertório de “Alvorada”.

Minimalismo

Contemplativa, “Doce 甘い” atravessa samba e minimalismo japonês, como se o maestro soberano Tom Jobim bebesse um chope com o mestre Ryuichi Sakamoto numa quinta-feira. De mãos dadas com synths etéreos, a percussão se orientaliza — sem perder o molejo.

Mas, Nay, o que torna essas duas linguagens musicais tão parecidas? Ora, ela responde, ambas buscam o equilíbrio. “Sakamoto teve uma relação profunda com a música brasileira: colaborou com artistas como Caetano, Gil e o casal Morelenbaum, inclusive gravando um álbum na casa de Tom Jobim, no Rio”, analisa a cantora e compositora.

“Tanto Jobim quanto Sakamoto tiveram grande influência de Debussy, que, por sua vez, foi inspirado pela música asiática”, destrincha a cantora, dizendo haver entre os dois artistas uma conexão cultural que transcende fronteiras geográficas e até mesmo a noção de tempo.

Nay declara que o disco lhe traz “gatilhos emocionais”. “Escrevi ‘Doce’ em um momento de paz interior; estava feliz comigo mesma e era isso que queria transmitir. Em ‘Inverno Sem Verão’, me curo e perdoo amores do passado, transformando meu inferno astral em verão.”

Se aqui Nay canta o fim do amor sem dramatizações, “Seu Dengo” a coloca vocalizando o reencontro amoroso. A seção rítmica, com sotaque afro-brasileiro, se entrelaça aos sintetizadores e ao violão, de maneira que embala uma letra sobre sentimento e cuidado.

“Quando a gravei, estava me permitindo viver a paixão com toda a intensidade que a relação merecia”, lembra. “Ao compor ‘Sempre Vou Te Amar’, me entregava ao amor mais puro e verdadeiro, e a música se tornou quase um mantra de tanto repetir o refrão.”

Sim, reverbera-se a emoção. Sim, fala-se dos laços. Sim, celebra-se a união. Uma união que, como sugere a letra, trafega pelo tempo. Atemporaliza-se. Aí, então, “Alvorada” enfim nos conduz ao “Rio”, a canção que melhor traduz a concepção estética do disco.

Ali, o desencanto tomou conta do que imaginava ser felizes para sempre. “Mas em ‘Ainda É Cedo’ eu resgato aquela Nay de ‘Doce’, que já era feliz e em paz consigo mesma, só que agora mais consciente de tudo o que viveu”, elucida, num roteiro que desnuda o disco.

Gravado no estúdio Banana Música, em Goiânia, “Alvorada” tem mais duas joias: “Serra Dourada” e “Amanhecer”. Aos fãs de Caetano Veloso e Chico Buarque, Nay Porttela avisa: irá relê-los em 2026. “A música brasileira é a ponte entre o íntimo e o coletivo”, sentencia.


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