Cultura

Artista goiana leva memória e resistência preta a galeria do Rio

DM Redação

Publicado em 10 de setembro de 2025 às 20:09 | Atualizado há 2 horas

Artista visual acredita que levar obras para Pequena África é mostrar força da arte preta em Goiás - Foto: Lucas Almeida
Artista visual acredita que levar obras para Pequena África é mostrar força da arte preta em Goiás - Foto: Lucas Almeida

A artista visual goiana e candomblecista Raquel Rocha estreia, hoje, sua primeira individual no Rio de Janeiro. Intitulada “Obirin Omi – Mulheres Água”, a mostra será inaugurada às 17h, na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, localizada na Gamboa, região conhecida como Pequena África. A programação é gratuita e segue até 11 de outubro.

Com produção do Orum Aiyê Quilombo Cultural, curadoria de Mariana Maia e produção artística de Rona Neves, a exposição celebra a força espiritual e histórica das Mães de Santo no Brasil por meio de obras inéditas e performances.

Na véspera da abertura oficial, também às 17h, o público poderá conferir a performance “Omi Eró”, conduzida por Raquel Rocha e com participação especial do artista Marcelo Marques. A ação envolve o preparo ritualístico de um banho de ervas, com cantigas em iorubá, aromas e ritmos que envolvem o público. Ao final, os participantes poderão levar consigo um pouco do banho, como gesto simbólico de cuidado e reconexão espiritual.

Destaques

Entre os destaques da mostra está a série “As Matriarcas”, lançada em 2024. As obras são compostas por pinturas em acrílica sobre peneiras bordadas com búzios, acompanhadas por quartinhas de barro cheias de água, em referência simbólica à ancestralidade. A série presta homenagem a importantes mães de santo brasileiras, tratando memória e espiritualidade como ferramentas de resistência ao racismo.

Também compõe a exposição a série “Orixás entre traços e versos”, com ilustrações em nanquim e pinturas feitas a partir de pigmentos naturais — os mesmos usados nos ritos de iniciação do Candomblé.

Para Raquel Rocha, apresentar este trabalho no Rio de Janeiro, especialmente na Pequena África, é uma conquista simbólica. “Levar um trabalho produzido aqui no Centro-Oeste, sobre memória preta e resistência afro-religiosa, para outros territórios, é mostrar que estamos aqui, pulsando arte preta no coração de Goiás”, afirma.

Cicatrizes históricas

Segundo a artista, a série reflete sua pesquisa sobre cicatrizes históricas deixadas pela escravidão e como elas moldam identidades e territórios. “As rachaduras se transformam em rios e lagos de resistência que fortalecem a cultura afro-brasileira”, define.

Raquel Rocha é licenciada em artes visuais pela UFG e fundadora do Orum Aiyê – Quilombo Cultural. Seu trabalho transita entre arte contemporânea e religiosidade afro-brasileira, promovendo visibilidade às narrativas negras e de matriz africana.

O artista Marcelo Marques, cofundador do Orum Aiyê, reforça o simbolismo da mostra: “Obirin Omi não é apenas sobre a obra de uma artista, mas sobre reconhecer o talento de mulheres pretas que transformam territórios de opressão em espaços de acolhimento e empoderamento”.


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