Ney Matogrosso ganha biografia ilustrativa voltada ao público infantil
DM Redação
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 19:52 | Atualizado há 3 horas
Marcus Vinícius Beck
Lá no fundo azul, na noite da floresta, o cantor Ney Matogrosso volta renovado no livro “Ney Matogrosso: O Bicho do Mato”, que acaba de chegar às livrarias. A obra, editada pela Garotinha FM Books, selo da Garota FM Books, destina-se ao público infantojuvenil.
Assinada por Chris Fuscaldo, Camilo Solano e Isabela Sultani, “O Bicho do Mato” narra a vida de Ney sob uma perspectiva lúdica. Começa em Bela Vista (MS), onde ele nasceu e cresceu solto. Em primeira pessoa, conta das mangas que saboreava no alto das árvores.
Bailando entre corujas e pirilampos, Ney aventurava-se pelas matas, perdia-se nos sons da natureza, juntava-se aos bichos. “É onde me sinto mais humano. Sou os animais, sou a chuva, sou o rio, sou a vida!”, diz o menino, revelando que o estranhavam por isso.
Entre bichos e plantas, Ney cresceu. Sempre exibiu, segundo Chris, um jeito particular de ser. Pequeno, toda vez que podia, inventava de desenhar — diferente dos outros meninos. Já crescido, informa, chegou a utilizar figurinos que remetiam à infância junto aos animais.

“Quando pequeno, era diferente dos irmãos. Mais velho, não se encaixava no padrão masculino. Quando começou a cantar, sua voz se diferenciava por estar próxima das vozes femininas do coral. Foi essa característica que o tornou um dos maiores cantores do Brasil.”
Chris declara que há anos tinha vontade de levar a vida e a obra de músicos para crianças. “[Queria] perpetuar a memória da música brasileira, renovando o público e atendendo a demandas dos pais que são apaixonados por música e querem transmiti-la para os filhos.”
Ney Matogrosso tornou-se o primeiro artista da coleção “Música Brasileira para Pequenos”, porque o ex-Secos & Molhados, de acordo com Chris, estava mais acessível ao trio que produziu a obra — ela e Camilo Solano no texto, além de Isabela Sultani na ilustração.
Além do mais, esse senhor de 84 anos, vira e mexe, vai parar em livro ou filme. Teve, há quatro anos, sua vida documentada pelo crítico Julio Maria, numa obra caudalosa em histórias, fios artísticos e fofocas — grande parte das quais autorizadas pelo artista.
Não podemos, ademais, esquecer de “Homem com H”. Ora bolas, o filme do cineasta Esmir Filho fez sucesso tanto nos cinemas (quatro ou cinco semanas em cartaz) quanto na Netflix, onde, aliás, está disponível. Não à toa, o ator Jesuíta Barbosa, como Ney, recebeu elogios.
Como se vê, “O Bicho do Mato” contribui para que se renove o interesse pela história de Ney. O livro relembra ainda o período no qual se alistou na Aeronáutica. “Não gostei”, salienta o cantor. Humano, demasiado humano, foi cuidar de pessoas num hospital.
Depois, vendeu pulseiras e miçangas no Rio. Foi indicado pela amiga Luhli, cantora e compositora, para o Secos & Molhados. Com a intenção de musicar poemas, o grupo veio ao mundo pelas mãos de João Ricardo, filho do poeta e jornalista português João Apolinário.
Doutora em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, Chris lembra que, nos anos 1970, crianças e adultos amavam a banda. “A performance do trio no palco era teatral e os figurinos, sempre lembrando os animais, chamavam a atenção de todos”, declara.
Afirma ainda Chris: “as melodias e a voz sedutoras também faziam as músicas parecerem verdadeiras trilhas sonoras.” É quando o Secos & Molhados põe, conforme o jornalista e biógrafo Miguel de Almeida, a androginia na macarronada dominical dos brasileiros.
Nascida em 1980, Chris lembra-se do pai ouvindo Secos & Molhados e de como as capas dos LPs do grupo a impressionavam. “Lembro dele contando que meu avô, médico psiquiatra careta à beça, parava o que estava fazendo para olhar para a TV quando o Secos aparecia.”
“Pré-adolescente, fui levada por minha avó (também super careta) para ver um show dele no Canecão, no Rio, e fiquei arrepiada do início ao fim, de quando ele começou a cantar passando pelo momento em que tirou a roupa no palco e mostrou em um espelho seu corpo de costas desnudo. Achei aquilo corajoso demais e sem dúvida saí modificada”, recorda.
Ouvir Ney lhe dá vontade de dançar e cantar, mesmo que a voz não alcance nem metade da potência do contralto dele. “As melodias do Secos & Molhados sempre fazem meu corpo se mexer”, diz. Seja como for, “Ney Matogrosso: O Bicho do Mato” é uma beleza que só.
24 páginas
Preço: R$ 60
