Brasil

Dona Mulambo protege herança da cultura afro em Águas Lindas de Goiás

DM Redação

Publicado em 1 de outubro de 2025 às 21:22 | Atualizado há 2 horas

Classe social: festejo acontece em região povoada, em grande medida, por trabalhadores de Brasília - Fotos: Henrique Cortes
Classe social: festejo acontece em região povoada, em grande medida, por trabalhadores de Brasília - Fotos: Henrique Cortes

Meyrithania Michelly

Os preparativos já começaram para a Festa Dona Mulambo, celebração tradicional que acontece neste sábado, 4, em Águas Lindas de Goiás, a 202 km de Goiânia, no Entorno do Distrito Federal. O evento, realizado gratuitamente em um terreiro de candomblé, traz uma programação diversa com exposição de trajes da Pomba Gira, apresentações musicais e de dança, oficina de ilustração e palestra sobre patrimônio imaterial afro-brasileiro.

A festa ocorre numa região que foi povoada, em grande parte, por trabalhadores de Brasília. Tornou-se conhecida em todo o cenário nacional pela vulnerabilidade social da sua população e os índices altos de violência. 

O festejo busca valorizar e desmitificar entidades da umbanda e do candomblé, como a Pomba Gira, além de reforçar a preservação da cultura afro-brasileira. A edição de 2025 é fruto de um projeto contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás (FAC Goiás). 

O evento, que ocorre há mais de uma década, movimenta não apenas o terreiro onde é realizado, mas também a comunidade local. Os preparativos envolvem moradores, lideranças religiosas e artistas que se dedicam a preservar tradições afro-brasileiras.

A festa acontece há mais de uma década no terreiro Ilê AsèOmiGbatoJegede e reúne esforços coletivos da comunidade local. Para Daniela Braga, artista visual e responsável pelo projeto, o evento representa mais que um encontro religioso. 

“Ao trazer a temática das pombas giras, meu objetivo é desmistificar as crenças equivocadas sobre essas figuras afro-brasileiras, que possuem grande importância cultural”, explica.

Laicidade

“Nestes tempos de intolerância religiosa, a festa mostra que o Brasil é um Estado laico e que todas as crenças merecem respeito. Além disso, fortalece a oralidade ancestral em diálogo com as novas gerações”, afirma Daniela Braga.

Segundo a arquiteta e artista, a oficina de ilustração terá como foco a representação das mulheres negras na arte e na cultura afro-brasileira, com destaque para figuras como Dona Mulambo e Maria Padilha.

A exposição de trajes tradicionais da Pomba Gira será um dos destaques do evento. As roupas foram desenvolvidas pelo estilista e babalorisá Henrique Cortes, que encontrou no candomblé a inspiração para iniciar sua carreira.

A festa incluirá ainda a palestra “Patrimônio Imaterial: Narrativa e Oralidade Ancestral”, prevista como contrapartida social do projeto. O encontro abordará histórias, cantigas e danças que envolvem a simbologia das entidades femininas da umbanda e do candomblé.

A proposta, segundo os organizadores, é ampliar o diálogo entre tradição e contemporaneidade, oferecendo ao público uma experiência que une celebração, aprendizado e resistência cultural.

A Iyalorisá Layane de Osun, líder do terreiro, destaca que a festa também amplia a visão sobre o espaço religioso como centro cultural. “Queremos que a comunidade veja o terreiro como lugar de aprendizado, onde se ensina a tocar atabaque, costurar, cozinhar e preservar tradições brasileiras”, diz.

Preconceito

Ao falar sobre a simbologia da festa, Henrique Cortes destaca que a pomba gira é muitas vezes mal interpretada pela sociedade. “A gente mostra que essas entidades rimam com oportunidade de evolução dentro da espiritualidade. Desmitificamos a aura demoníaca que, infelizmente, ainda é atribuída a elas.”

Ele acrescenta que a exposição de trajes é também um ato de preservação cultural: “A Pomba Gira tem uma simbologia profunda. Muitas foram mulheres escravizadas, curandeiras, guerreiras e líderes. Essa festa é uma forma de honrar sua memória e combater o apagamento histórico das manifestações.”

Henrique Cortes ressalta a importância da iniciativa como instrumento de esclarecimento. “O terreiro vive e celebra essa festa porque ela é uma oportunidade de mostrar à comunidade conceitos do candomblé e da umbanda. Mostramos que exu e pomba gira rimam com evolução espiritual. Desmitificamos sua aura demoníaca, que infelizmente muita gente ainda acredita”, afirma.

TRADIÇÃO, ARTE E FÉ

Rua Mato Grosso

Águas Lindas

Entrada franca


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