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2.504 municípios do Brasil não tem jornalismo local, mostra pesquisa

Redação DM

Publicado em 2 de outubro de 2025 às 21:38 | Atualizado há 7 horas

O Brasil encerrou julho de 2025 com 2.504 municípios sem jornalismo local em atividade, segundo a nova edição do Atlas da Notícia. Nesses locais vivem cerca de 20,66 milhões de pessoas (10,2% da população), o equivalente a 9 em cada 20 municípios brasileiros classificados como desertos de notícias. Embora tenha havido melhora recente, o déficit de cobertura permanece elevado e concentra assimetrias regionais. 

Nos Estados Unidos, um levantamento inédito de 22 de julho aponta que a média nacional é de 8,2 “equivalentes de jornalistas locais” por 100 mil habitantes, após um declínio de 75% desde 2002; cerca de dois terços dos condados ficam abaixo dessa média. A metodologia, criada por Muck Rack em parceria com a Rebuild Local News, ajusta o número de repórteres por carga de trabalho para estimar a força real de cobertura local. 

O impacto é direto: onde faltam repórteres que acompanham temas como saúde, educação e economia, a circulação de boatos cresce e a vida cívica perde qualidade. 

“Janelas de oportunidade” para Relações Publicas no Digital

A escassez de cobertura nas cidades médias e pequenas abre um flanco para estratégias de RP Digital, que é a evolução das Relações Públicas para o ambiente digital, baseadas em dados locais (levantamentos próprios, relatórios temáticos, microindicadores). Em vez de “publieditoriais” pouco críveis, marcas e organizações podem produzir evidências indiretas como um índice de preços do bairro, um raio-X de vagas e salários locais, ou um mapa de acesso a serviços (saúde, creches, cultura).

Quando metodologicamente sólidos e com recortes municipais, esses estudos viram pauta em portais regionais e nacionais, geram autoridade e atraem links editoriais de qualidade. Inclusive, Felipe Cardoso, CEO da Rank Certo, agência especializada em Link Building e PR Digital, diz que a ausência de veículos locais fortes não significa ausência de interesse público.

“Se você entrega dados verificáveis sobre problemas do território, a imprensa regional publica e a nacional repercute quando há série histórica e comparações entre municípios. O segredo está no valor da informação que você sugere e a clareza metodológica, disponibilizando planilhas abertas para checagem, por exemplo”, explica. 

Dados locais: preencher desertos e ganhar relevância no Google

Os desertos de notícias deixam um vazio não apenas no jornalismo, mas também na circulação de informação digital. Quando cidades inteiras não contam com repórteres para levantar indicadores de saúde, educação ou economia, essas informações simplesmente não existem no ecossistema informacional e o Google, que depende de fontes confiáveis para organizar resultados, reproduz esse vácuo.

É justamente aí que iniciativas de produção de dados locais ganham importância dupla. De um lado, cumprem uma função pública: oferecem à comunidade insumos para o debate democrático. De outro, fortalecem a reputação digital de quem os produz, já que relatórios originais tendem a gerar citações e backlinks em veículos de imprensa, órgãos públicos e universidades.

“O Google valoriza sinais de autoridade. Quando uma pesquisa local é referenciada por jornais ou instituições, isso reforça a confiabilidade da fonte. Em desertos de notícias, onde faltam dados consistentes, o efeito é ainda maior”, explica Felipe.

Além disso, métricas comparativas (como índices por município ou rankings regionais) têm mais chances de aparecer em destaques de busca (featured snippets) e resultados enriquecidos. “Na prática, quem supre essa falta de informação acaba ocupando o espaço tanto na imprensa quanto no Google”, comenta.

Como produzir dados locais que viram pauta

Metodologia antes do megafone

O padrão LJE por 100 mil habitantes usado nos EUA mostra o valor de métricas comparáveis. No Brasil, equipes de comunicação podem adaptar boas práticas: taxas por 10 mil ou 100 mil habitantes, séries temporais de dois a três anos, fontes oficiais (IBGE, DataSUS, portais de transparência) e amostragens reproduzíveis. Relatórios com notas metodológicas, limitações e glossário aumentam a confiabilidade e a chance de cobertura.

 Distribuição inteligente

  • Pitch hiperlocal: ofereça recortes por município ao jornal regional (ex.: “como está o meu município na comparação com vizinhos”);
  • Embargos e exclusivas: negociar exclusiva por estado com rádios e TVs aumenta a taxa de publicação;
  • Ativos reaproveitáveis: publique mapas interativos, sheets baixáveis e APIs simples;
  • Ciclos editoriais: programe atualizações próximas a datas-gancho (volta às aulas, orçamento municipal, eleições).

“Dados públicos (ou privados que se tornam público pela relevância social), explicados e contextualizados, viram serviço. A redação quer mapas reutilizáveis e listas por cidade. Isso economiza tempo do repórter e maximiza a citação da fonte”, reforça o CEO da Rank Certo.

Para marcas, instituições e terceiro setor, a resposta que faz sentido (e que respeita o papel do jornalismo) é produzir dados locais de interesse público, com método transparente e utilidade real. Isso preenche lacunas de cobertura, gera autoridade informacional e ajuda a reconstruir as pontes entre imprensa e sociedade. 

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