Cultura

Diane Keaton virou símbolo da mulher livre

DM Redação

Publicado em 12 de outubro de 2025 às 19:59 | Atualizado há 4 horas

Diane Keaton e Al Pacino atuam na trilogia mafiosa "O Poderoso Chefão" - Foto: Paramount Pictures
Diane Keaton e Al Pacino atuam na trilogia mafiosa "O Poderoso Chefão" - Foto: Paramount Pictures

Marcus Vinícius Beck

Símbolo da mulher descolada, discreta por elegância, a atriz norte-americana Diane Keaton pegou neste fim de semana o mundo de surpresa. Keaton morreu no último sábado, 11, aos 79 anos, nos EUA. A notícia foi publicada pela “People”, mas sem revelar a causa da morte.

Keaton atuou em 70 filmes, dirigiu dois longas e assinou um episódio da série “Twin Peaks”, de David Lynch — um dos produtos mais cultuados e, ao mesmo tempo, inventivos já feitos na televisão. Muita gente se perguntou nos anos 1990 quem, afinal, matara Laura Palmer.

Nascida em janeiro de 1946, na Califórnia (EUA), Diane Hall — seu nome de batismo — manifestou interesse pelo ofício cênico ainda pequena. Isso a levou ao curso de artes na faculdade, que frequentou na segunda metade dos anos 60: Diane Hall virava Diane Keaton.

Com esse nome, chegou à Broadway. Esteve no elenco do musical “Hair”, onde fazia Sheila. Na peça seguinte, foi indicada ao Tony Awards, principal prêmio do teatro americano. Esse espetáculo a fez estreitar relações com Woody Allen — com quem, inclusive, namoraria.

A parceria fecundou trabalhos artísticos inesquecíveis. Em “Annie Hall”, de 1977, que no Brasil recebeu o estranho nome de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, a atriz conquistou a estatueta dourada. Keaton fazia a desconstruída, fashion e charmosa personagem-título.

Era, de certa forma, uma versão dela própria sob um olhar allenianamente apaixonado. Cinéfilo de carteirinha não esquece o humorista neurótico Alvy Singer interessado por aquela mulher pós-revolução sexual: Annie Hall, questionadora e livre, sabia-se feminista.

Logo após “Annie Hall”, em 1978, a jornalista Penelope Gilliatt notou que a artista tinha um andar “difícil de definir”. “Mas é até que se perceba que tem a ver com não ser aleijada por carregar uma bolsa na mão, o que inibe o andar das mulheres”, escreveu na “New Yorker”.

Para quem quiser rever Keaton naquela fita, é só ir ao Prime Video e dar o play. Para quem quiser apreciá-la noutra película, basta continuar no streaming. Pois é, veja que coisa: “Manhattan”, de 1979, está em cartaz na plataforma. “Manhattan” deve ser rebobinado.

Diane Keaton, como Mary, marcou o cinema de Woody Allen tanto quanto a imagem felliniana em preto e branco da ponte. Fala-se aqui, pudera, de uma mulher deslumbrante, inteligente, intelectual. Comparece a livrarias, assiste a filmes de arte, vai a exposições.

“Manhattan”: cena da ponte se tornou um marco no cinema do diretor Woody Allen – Foto: Divulgação

Personagem de Allen, o roteirista Isaac Davis parece viver dentro do filme “Casablanca”, no que imagina-se o “formidável” ator Humphrey Bogart, como aponta o crítico Inácio Araujo. Mas Davis, coitado, foi largado às traças pela mulher. A solidão o leva ao amigo Dick.

Esse sujeito — adivinhe — é casado com a estonteante Mary. Jornalista cultural, ela enfeitiça geral com seu figurino composto por blazers e calças. Tem-se a impressão de que ainda não está realizada pessoalmente. Doa a quem doer, tece suas opiniões, ainda que impopulares entre a patota de artistas e intelectuais, confrontando-se sobretudo com Isaac.

Sobre Keaton, ainda na reportagem de 1978, Gilliatt observou que a atriz sabia ocultar seus “prodigiosos dons cômicos”. “Ela tende a acumular esses dons, como se fosse uma convidada impostora em um banquete”, afirmou a jornalista na “New Yorker”.

Mas a artista agigantava-se no drama. Na trilogia “The Godfather” (Netflix), monumento do cinema erguido por Francis Ford Coppola, Kay Adams, sua personagem, expressava o medo e a decepção diante dos absurdos cometidos pela família Corleone — como todos nós.

Foi Kay, lembremos, quem disse na cara do herói trágico Michael Corleone (Al Pacino) que ele era um distinto monstro, algo que nem seus piores inimigos ousariam fazer. Nessa saga mafiosa, é verdade, Keaton aparece pouco em cena — mas o suficiente. 

Nos anos 1980, a atriz interpretou a feminista Louise Bryant em “Reds” (Prime Video), de Warren Beatty, baseado no livro “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, do jornalista John Reed. Essa obra de 1981 retrata os eventos da Revolução Russa por um viés pró-socialismo. 


Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia