Com aval de Lula, Gleisi inicia corte de cargos do Centrão e acirra disputa por espaço no governo
DM Redação
Publicado em 13 de outubro de 2025 às 10:45 | Atualizado há 3 horas
A presidente nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann iniciou uma ofensiva para reduzir a presença de partidos do Centrão em cargos estratégicos do governo federal. A medida, segundo fontes do Planalto, tem o aval direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ocorre após uma sequência de derrotas do governo em votações no Congresso Nacional.
O gesto é visto dentro e fora da Esplanada como um recado claro aos partidos que, mesmo ocupando espaços relevantes na máquina pública, vêm se distanciando das orientações do Palácio do Planalto nas últimas semanas.
Entre os alvos principais da reestruturação estão legendas como PP, PSD, Republicanos e MDB, todas com presença expressiva na administração federal desde o início do terceiro mandato de Lula. Os cortes, de acordo com relatos internos, já começaram: nomes ligados ao PP e ao PSD perderam cargos em diretorias da Caixa Econômica Federal e no Ministério da Agricultura. O MDB, por sua vez, sofreu baixas no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
A movimentação foi deflagrada após a queda de uma Medida Provisória que tratava da reoneração gradual da folha de pagamento e de mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O texto perdeu validade sem ser votado na Câmara, o que o Planalto interpretou como uma derrota imposta por parte da base aliada.
Em tom firme, Gleisi declarou que “quem quiser estar no governo deve ser voto do governo no Congresso”. A frase foi lida como uma mensagem de endurecimento da articulação política, tradicionalmente conduzida de forma mais conciliatória pelo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
Desde o início do ano, Lula tem enfrentado dificuldades para consolidar uma base sólida em meio à fragmentação partidária. O Centrão, embora ocupe cargos de confiança e espaços estratégicos, tem votado de forma independente e, em muitos casos, contrária aos interesses do governo.
A redistribuição de postos é uma tentativa de reverter esse quadro e reforçar a mensagem de que o apoio no Congresso deve ser acompanhado de compromisso político. Contudo, o movimento também pode aumentar o desgaste com legendas que historicamente garantem maioria nas votações.
Líderes do Centrão afirmam, nos bastidores, que os cortes podem empurrar parte da base para a oposição. “É um erro político grave tentar governar sem o Centrão”, avaliou um dirigente de partido aliado sob reserva.
A iniciativa coloca o governo diante de um dilema conhecido: como cobrar fidelidade sem ampliar o isolamento político. Lula, que construiu sua governabilidade em mandatos anteriores por meio de amplas coalizões, agora busca ajustar o modelo para um cenário mais fragmentado e competitivo.
Aliados próximos do presidente defendem que a reorganização de cargos é necessária para “dar coerência” à base. Já parlamentares de partidos atingidos reclamam de falta de diálogo e alertam que o corte de espaços pode prejudicar futuras votações, especialmente no orçamento de 2026 e em temas econômicos sensíveis.
Nos próximos dias, a Casa Civil e o Ministério das Relações Institucionais devem revisar nomeações e exonerações em autarquias, bancos públicos e órgãos regionais. O objetivo é “premiar” partidos que mantiveram alinhamento e punir os que se afastaram.
Enquanto isso, interlocutores de Lula tentam conter o desgaste e evitar que a medida seja interpretada como um rompimento definitivo com o Centrão. O próprio presidente, segundo assessores, teria dado sinal verde à operação, mas pedido cautela e discrição na execução.