Opinião Pública

A luz do sol nos erros médicos e o avassalador aumento das escolas de medicina

Redação DM

Publicado em 4 de março de 2024 às 15:04 | Atualizado há 1 ano

O Brasil passa por profundas mudanças no tocante à qualidade dos cursos de medicina no país. A proliferação de escolas de medicina destituídas de hospitais universitários, de docentes em tempo integral e de coisas básicas como cadáveres para que os alunos possam aprender algo fundamental para quem almeja ser um médico de verdade: anatomia.

Digo isso, porque é do meu conhecimento que, em inúmeros desses tamboretes médicos, há a utilização de bonecos de plástico para entender o ser humano que é feito de carne e osso.

Por outro lado, o que hoje se constata é o enfraquecimento da academia médica ante ao número, cada vez maior, de professores que usam a universidade como uma espécie de grife para arregimentar pacientes em seus consultórios. Nessa situação, o paciente deixa essa condição para se tornar um mero cliente desse tipo de medicina, movida pelo lucro, mas não pelo atendimento às pessoas.

Conheço essa realidade, não só por ter sido vítima de um erro médico cometido por um mal profissional que operou quatro vezes meu olho esquerdo para colocar o chamado Anel de Ferrara. Fui salvo por um grande médico que, ao olhar o estrago feito por esse dispositivo que já havia perfurado minha córnea, foi logo dizendo: ”vou retirar esse anel imediatamente. Pois você tem grandes possibilidades de perder seu olho esquerdo”. Logo eu, que já não enxergo bem do olho direito, seria um sério candidato à cegueira.

Em situações como essa em que o lucro é mais importante que as pessoas, cabe aqui recordar o conceito de acumulação primária de capital de que tantos nos fala Karl Marx em seus escritos. Nesse contexto, podemos citar o preço abusivo das consultas, a fábrica de exames desnecessários e operar por operar para faturar.

Dado meu testemunho, creio ser oportuno, explicitar dois outros casos de erros médicos ocorridos com duas pessoas do meu relacionamento pessoal.

No primeiro caso, uma paciente que pagou um preço elevado na sua qualidade de vida. Diagnosticada com o mal de Parkinson ,essa paciente agonizou, por anos, a ineficácia do remédio. Ineficácia essa comprovada no momento em que a enferma resolveu procurar ajuda num centro avançado em medicina de São Paulo. Lá, um médico brilhante não levou mais que meia hora para descobrir o diagnóstico errado desse seu colega chegado na tal medicina comercial.

Outro caso que cabe aqui citar é o de um advogado ,filho de uma amiga minha, que foi operado por umas dessas “sumidades”, que fazem da universidade federal uma espécie de grife marketeira capaz de lotar consultórios.

Essa tal sumidade deixou um longo fio dentro do corpo do profissional. Resultado: após passar meses agonizando pela dor, o advogado foi submetido a uma nova cirurgia para retirar esse fio que já estava bem próximo do coração.

Isso posto, cabe aqui relatar alguns importantes pontos relacionados ao que se revelou nestes escritos.

Primeiro: o erro médico materializa-se na indicação do médico e não na operação em si.

Nesse caso, o que, de fato, importa é que o médico tenha respostas consistentes do porquê que a cirurgia foi indicada. Se o profissional recusar-se a assinar o procedimento, que ele indicou, não há outra saída a não ser esta: fuja dele

Segundo: desconfie desses profissionais midiáticos que fazem da propaganda um instrumento valioso para faturar. A boa propaganda é aquela em que o paciente agradecido faz de boca a boca.

Terceiro: a fábrica de exames desnecessários.

Se lhe for solicitado exames de que você desconfie como desnecessários, a prudência aconselha procurar outro médico ou, se você tiver acesso à média de exames solicitados por outros profissionais, também serve para comparar.

Quarto: a “Fogueira das Vaidades” derruba máscaras. Quanto a essa questão, volto ao que vivi para contar.

Certa vez, fui consultar com um oftalmologista. Quando adentrei à sala de espera, contei cerca de 40 certificados de participação em congressos. Ao ver aquilo, não tive dúvidas: fui embora para nunca mais voltar. Como sou uma pessoa proativa, consultei as melhores revistas científicas da oftalmologia, mas não encontrei nada, absolutamente, nada desse fabricador de ilusões metido a cientista.

Ao encerrar minhas preocupações com esse tema, acho importante ressaltar a lisura da grande maioria dos médicos. Muitos deles são verdadeiros apóstolos da profissão. A esses, e somente a esses, vai o meu respeito. Nesse sentido, é necessário separar o joio do trigo.Quem,de fato, esses escritos incomodam são os donos de tamboretes médicos e falsos profissionais, que usam o dom de iludir os clientes, arrotando uma sabedoria médica, que jamais tiveram.

Engenheiro, bacharel em Administração de Empresas e mestre em Energia pela Unicamp

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