Artigo: Racismo sem fronteiras
Diário da Manhã
Publicado em 22 de junho de 2015 às 21:56 | Atualizado há 10 anosUma grande variedade de pistas sobre os motivos que levaram Dylann Storm Roof, o suspeito no massacre da Igreja Metodista Episcopal Emanuel, em Charleston, na Carolina do Sul, a agir, surgiu recentemente. Primeiro, havia as bandeiras na jaqueta que ele vestia em seu perfil do Facebook: as bandeiras de regimes da África e da Rodésia que defendiam, de maneira brutal, a supremacia da minoria branca.
Depois, uma nova coleção de fotos de Dylann — em muitas delas, portando a bandeira confederada — foi descoberta num website, “Last Rhodesian” (“O último rodesiano”), registrado em seu nome, juntamente com um manifesto e um apanhado de ideias supremacistas, nas quais o autor, muito provavelmente Dylann, conclama os brancos a tomarem “atitudes drásticas” para reassumir o controle nos Estados Unidos e na Europa.
Esta retórica, popular entre os supremacistas nos Estados Unidos, também é sinal de um crescimento globalizado do nacionalismo branco. Quando pensamos no terrorismo islamista de grupos como a al-Qaeda e o Estado Islâmico, reconhecemos sua dimensão internacional. O mesmo não acontece quando o assunto é o terrorismo doméstico de extrema-direita.
Americanos tendem a ver ataques como o massacre de Charleston como crimes de ódio isolados, ações de racistas enlouquecidos ou de um grupo de fanáticos furiosos, sem conexões com movimentos mais amplos. Essa é uma visão que não podemos mais permitir.
Quando, segundo sobreviventes, Dylann disse às vítimas na igreja que os negros estavam “se apoderando do país”, ele expressava sentimentos que unem nacionalistas brancos dos EUA e do Canadá à Europa, Austrália e Nova Zelândia. Ao contrário do período em que seu objetivo era manter a segregação no Sul dos EUA, os supremacistas brancos de hoje não veem fronteiras, e sim uma tribo branca sob ataque de pessoas de outra cor.
O fim do domínio dos brancos na Rodésia (atual Zimbábue) e na África do Sul, eles acreditam, antecipou um futuro apocalíptico para todos os brancos: um “genocídio branco” que deve ser interrompido antes que seja tarde demais.
Nos últimos anos, extremistas transformaram a ideia do genocídio branco num mantra que, em partes, se manifesta em outdoors no Sul do país e também em salas de bate-papo na internet. “Diversidade=genocídio branco” e “Diversidade significa perseguir até a última pessoa branca”, culpando o multiculturalismo por minar a “raça branca”. O Partido da Liberdade Americana, de orientação supremacista, fez do autor do mantra, um segregacionista da Carolina do Sul chamado Robert Whitaker, seu vice-candidato presidencial para 2016.
Os dias de tratar o terrorismo doméstico como a simples ação de membros da Ku Klux Klan ou de skinheads beligerantes acabaram. A mensagem do genocídio branco se espalha na rede. Sabemos que os terroristas islâmicos estão pensando de maneira global e confrontamos esta ameaça. Temos demorado muito a perceber que os supremacistas brancos estão fazendo exatamente a mesma coisa.
Morris Dees e J. Richard Cohen são o fundador e o presidente do Southern Poverty Law Center.