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Sempre que escuto essa frase: “ Ela não gosta de sexo” eu me pergunto, “será que ela realmente não gosta de sexo ou não gosta do sexo ruim que ela fez a vida inteira?”
Existe uma diferença grande entre não gostar de sexo, não ter desejo e estar insatisfeita com o sexo vivenciado com a parceria.
Em tempos de tanta informação, vira e mexe rotulam essa mulher como uma Assexual e pode até ser que ela seja, mas antes de dizer isso precisamos avaliar vários fatores.
Primeiro vamos entender o que é um Assexual. A Assexualidade é uma orientação sexual , onde o indivíduo pode se relacionar afetivamente com outras pessoas, mas o sexo não é importante naquele relacionamento. Existem várias categorias de assexuais. O assexual estrito não se relaciona sexualmente com ninguém. O Demissexual prioriza a relação afetiva, mas eventualmente pode se envolver em relações sexuais. Em resumo, para o assexual, o sexo não é o mais importante na relação. E o termo correto é assexual e não assexuado. A palavra assexuado se refere aos organismos que não têm órgãos sexuais, como por exemplo as amebas.
Quando um assexual se relaciona com alguém que gosta muito de sexo, isso pode ser um grande problema. Para o assexual, compreender o seu funcionamento é um grande alívio, pois eles estão sempre sendo cobrados quanto ao desempenho e frequência sexual, e não conseguem corresponder a essa cobrança. Ficar sem sexo para eles não traz nenhum sofrimento. É diferente das pessoas que gostam de sexo, mas estão com o desejo diminuído, o que pode ocorrer por vários motivos e trazer sofrimento.
O desejo sexual é multifatorial e é por isso que é tão desafiador encontrar a pílula mágica, que melhore de fato o desejo.
A palavra “frígida” já foi usada com frequência na história para rotular as mulheres que não gostavam de sexo. E trazia essa ideia de uma mulher totalmente fria e sem tesão.
O sexo para as mulheres era algo proibido antes do casamento e depois dele passava a ser uma obrigação matrimonial, com função reprodutiva e jamais com função de proporcionar prazer a essa mulher. Quem é que vai gostar de algo assim? Isso é realmente broxante.
E, apesar de acharmos que hoje temos toda a liberdade sexual, a dificuldade para falar do assunto ainda é imensa. Ainda carregamos todos esses mitos e tabus históricos e culturais relacionados à sexualidade. Uma mulher que gosta muito de sexo ainda é mal vista socialmente. Essa é uma ideia absurda e controversa, pois ao mesmo tempo que cobram das mulheres que elas tenham muito desejo, não permitem que uma mulher expresse seu desejo da forma como melhor lhe convier.
Os estudos mostram que menos da metade das mulheres no Brasil está satisfeita com sua vida sexual. Isso é assustador quando consideramos que a sexualidade é um dos quatro pilares para a qualidade de vida, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Como está a qualidade de vida dessas mulheres?
A forma como homens e mulheres aprendem (ou não aprendem) a fazerem sexo é muito diferente. Os meninos, na adolescência, são incentivados a exercerem sua sexualidade, e têm uma relação muito mais tranquila com seus genitais. O fato do pênis ser um órgão mais exposto e visível, facilita o autoconhecimento masculino e o contato com seu próprio corpo. O pênis é visto como sinal de masculinidade, virilidade e poder.
Ao contrário, as meninas são ensinadas, desde cedo, a fecharem as penas e esconderem seus genitais. E enquanto os homens valorizam seu pênis, as mulheres escutam de outras mulheres próximas, como mães, avós e tias que nossa vulva é feia. Me lembro de uma paciente no consultório, que levou as duas filhas adolescentes para eu atender.
Na hora do exame físico ela disse: “agora vai lá pra Dra. examinar aquela coisa feia de vocês”. Isso é muito triste. O nosso corpo é perfeito e tudo está em harmonia. Cada parte tem sua função e beleza. Não fazemos sexo só com os genitais, mas com o corpo inteiro, e uma boa relação com esse corpo é fundamental!
Mulheres que conhecem o próprio corpo e o potencial de prazer que esse corpo pode dar a elas, usufruem da sua sexualidade com muito mais desejo e satisfação.
Se você é mulher e acha que não gosta de sexo faça uma reflexão sobre como tem sido o sexo na sua vida. Como você aprendeu a fazer sexo? Era permitido falar do assunto em casa e na escola? Como você vivencia o prazer? Ao sentir prazer no sexo, você ainda carrega a sensação de que está fazendo algo errado ou proibido?
Você ainda acha que precisa esperar ser procurada ao invés de procurar a parceria e manifestar a sua vontade?
Você conhece seu corpo? Sabe o que você gosta, como gosta, onde gosta?
O que te dá tesão, faz o coração acelerar e molhar a calcinha? Preste mais atenção ao seu corpo! E antes de achar que você não gosta de sexo, avalie a qualidade do sexo que você vivencia hoje.
Será que durante todos esses anos, você preferiu fingir orgasmo, ao invés de dizer à parceria o que você não gosta e o que te deixaria muito mais excitada e desejante?
Todos nós nascemos com a capacidade de ter desejo sexual, mas, no decorrer da vida, criamos muitos bloqueios. E além disso, estamos sempre acreditando nas mentiras que nos contaram e mandando essas mensagens como verdades para o nosso cérebro.
As mulheres também gostam de sexo e podem gostar tanto quanto acham que os homens gostam, desde que se permitam vivenciar o prazer sem culpa e usufruírem da sua sexualidade como elas merecem!!!!
E se você é homem e tem uma parceira que não gosta de sexo, abra espaço para conversarem sobre isso, invistam em autoconhecimento, em momentos de intimidade sem sexo e momentos onde vocês possam explorar novas sensações corporais além dos genitais e novas práticas sexuais que despertem esse desejo e prazer!
Pois afinal , o prazer é todo seu, e só é possível vivenciar esse prazer com o outro quando eu me conheço!
