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Comunidades Indígenas em RR sofrem de desnutrição infantil, lutas territoriais e Covid

Informações G1*

A maior reserva indígena do país, que fica na comunidade Alto Catrimani, em Roraima, Terra Indígena Yanomami, sofre com diversos casos de crianças desnutridas, disputas territoriais e conflitos com garimpeiros ilegais. Além disso, o Acesso difícil a comunidade não impediu chegada do coronavírus.

Em uma das comunidades, um menino de 10 anos foi resgatado com desnutrição grave. A criança pesava apenas 8 kg (peso considerado quatro vezes menor que o ideal para as crianças da mesma idade que se alimentam regularmente). Em outra aldeia, Surucuru, um menino de 9 anos, pesava apenas 10 kg, peso também considerado baixo para a sua idade.

Imagens do corpo franzino, com os ossos completamente aparentes, choca e comove. Foto/reprodução G1

Os dois garotos foram resgatados com desnutrição grave e levados para a capital do estado, Boa Vista, onde fizeram um tratamento no Hospital da Criança Santo Antônio. Recuperados, um dos garotos (o da imagem acima) está em um abrigo do governo estadual e o outro voltou para a aldeia pesando 16 kg.

A realidade dessas duas crianças somam a de outras crianças indígenas desnutridas dentro da maior reservado indígena do Brasil. As imagens vem à tona e mostra em evidencias, a grave situação que assola a Terra Indígena Yanomami. Para pesquisadores, o maior impacto na falta de nutrição das crianças está ligado ao garimpo ilegal de ouro na região.

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA) a busca pelo minério, se intensificou muito nos últimos anos. O que agravou a degradação das florestas, ameaçando a saúde dos moradores. Somente no primeiro trimestre deste ano, foram desmatados cerca de 200 hectares de floresta (o equivalente a 200 campos de futebol)

"São mais de 20 mil garimpeiros espalhados e prejudicando a vida do povo Yanomami e Yekuana. A nossa terra está destruída por maquinários. É uma situação muito grave e preocupante. O povo Yanomami está com a vida muito perturbada", afirma Dário Kopenawa Yanomami, da Hutukara Associação Yanomami.

A extração do minério com mercúrio contamina os rios, mata os animais e destroem a possibilidade de plantação e alimentos na comunidade. O garimpo é o grande causador da degradação e desequilíbrio ambiental. Além disso, os garimpeiros tem sido responsáveis por ataques armados as aldeias (por disputas de território) e ainda serem os principais transmissores de outras doenças ao povo indígena.

O terror das invasões assusta a população local, que, inclusive, relatou que crianças se afogaram ao tentar fugir. São pouco mais de 20 mil garimpeiros, para uma região que preserva 28 mil indígenas.

Além do terror, a transmissão de doenças, entre elas, a Covid-19 tem sido preocupante para as autoridades que lutam pelas causas deste povo. Embora a comunidade indígena seja do grupo prioritário para a vacinação contra a Covid-19, apenas 79% dos indígenas acima de 18 anos estão com a primeira dose e 58%, com a segunda.

Desnutrição

Um estudo do Unicef (braço da Organização das Nações Unidas para a infância) e a Fiocruz aponta que oito em cada dez crianças menores de 5 anos têm desnutrição crônica dentro da Terra Indígena Yanomami. Segundo um dos autores do estudo, o pesquisador e médico especialista em saúde indígena Paulo Basta, "a desnutrição que acomete os indígenas está diretamente ligada à pobreza... a falta de renda e falta água potável para beber".

"Eles estão ameaçados sob vários aspectos e por outras doenças, como diarreia, verminose e malária. É um cenário que está totalmente relacionado à pobreza.

"A criança nasce dentro do padrão de peso esperado. Enquanto mama, está garantido o alimento e ela cresce bem. Depois que começa a desmamar e interagir com o meio ambiente, se contamina rapidamente, pega uma diarreia, uma verminose e, aí, perde peso, cai o estado nutricional. Ainda vai estar permanentemente exposta à água contaminada e alimentos de baixa qualidade e também pode se contaminar por malária ou ter uma infecção respiratória”, ressaltou o pesquisador.

"Existe a desnutrição onde há problemas de invasão, problemas no rio e a terra não está boa, não está produzindo muito bem a comida. Onde há os problemas do garimpo, tem, sim [desnutrição], porque não tem como trabalhar, não tem como cuidar da família", relata.

Segundo ele, nas localidades sem a presença de garimpeiros, as roças são produzidas. "Então, as crianças são saudáveis, porque a família está trabalhando bastante e produzindo alimento", explica.

Tradicionalmente, os indígenas se alimentam de produtos que a floresta oferta. No entanto, para Paulo Basta, a chegada de não indígenas, provoca um escasseamento dos alimentos ao afugentar a caça e contaminar os rios. Na falta de alimento, os indígenas acabam consumindo também produtos ultraprocessados, pobres em nutrientes, que são levados por pessoas de fora da terra indígena, como biscoitos, salgadinhos e enlatados. A soma desses fatores, leva ao quadro de desnutrição.

Para o pesquisador a gravidade do quadro de desnutrição ressalta ainda a falta de políticas públicas do governo federal nas terras indígenas.

“Se o estado brasileiro cumprisse seu dever constitucional e, de fato, desenvolvesse políticas públicas inclusivas, visando uma reparação histórica por danos e exploração impetrados aos povos indígenas [...], a situação de saúde dos povos indígenas, sobretudo das crianças, poderia ser muito diferente”, explica.

Paulo defende a criação de uma rede de captação, de tratamento e abastecimento de água potável às famílias, além do fornecimento de coleta e destinação adequadas dos resíduos sólidos, com oferta de serviços de saúde de qualidade para os indígenas. Para ele as alternativas econômicas por intermédio de projetos de desenvolvimento sustentável, adaptados à realidade e respeitando a cultura local é a melhor saída.

O Ministério da Saúde diz ter implementado ações de combate à desnutrição infantil na área indígena e lista programas de suplementação de vitamina e minerais, além da qualificação das equipes de saúde.

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