A alma no futebol
Redação DM
Publicado em 23 de março de 2017 às 02:40 | Atualizado há 8 anos
De uns tempos para cá, ficamos com medo de entrarmos em campo. Sob a égide de Dunga, a seleção não convencia e a possibilidade de levarmos uma chacoalhada rondava o imaginário nacional tal qual um disco de Jorge Ben Jor. Em suma: temos o 7 a 1 entalado na garganta. E não é para menos.
Mas desde que Tite assumiu a seleção, o escrete passou a jogar bem. Neymar, que antes tinha responsabilidade de decidir o jogo, agora joga aparentemente mais leve, com liberdade para driblar e envolver os adversários. Faz tabelas. Um dois. Formou uma dupla promissora com Gabriel Jesus, mas o camisa 9 se machucou em partida do campeonato inglês e ficará um tempo fora, sendo substituído por Firmino, de qualidade técnica inferior, é claro.
O Brasil enfrenta o Uruguai, pelas eliminatórias da Fifa. Talvez possamos tirar proveito da pancada emocional que Cavani levou, contra Barcelona, em jogo válido pelas oitavas-de-final da Liga da Campeões. De qualquer forma, o atacante é perigoso. Nem pensar em deixá-lo livre.
Nossos zagueiros também não podem cochilar. Quanto menos os defensores sorrirem, na partida, melhor. Zagueiro que é zagueiro tem de jogar calado com a cara feia e, como canta Jorge Bem Jor, “tem de ser pouco sentimental”. No famigerado 7 a 1, tínhamos Thiago Silva, popularmente conhecido como “chorão”, e David Luiz, também chamado de senhor afobação.
Ainda bem que mudou a dupla de zaga. David Luiz está jogando bem no Chelsea, mas não consigo vê-lo como camisa 3 da seleção. Ao olhar David, o centroavante adversário deve pensar: “Hoje vai ser fácil, esse sujeito é maluco, afobado, quer sair jogando de forma impensável”.
Não dá. Mas Tite tem consciência disso. O entrosamento mesmo vem do meio de campo, que conta com Paulinho, esquecido no futebol chinês, e Renato Augusto, também exilado por lá – e milionário -, que dão um quê de classe ali na meia cancha brasileira.
Sem dúvida, a esperança de algo diferente está nos pés de Neymar. O jogador do Barcelona é craque, sabe jogar, cobra falta, tira coelhos da cartola e, com Tite, tornou-se mais equilibrado psicologicamente. Vantagem para nós.
O Brasil tem tudo para conseguir a classificação com antecedência. A equipe é organizada, joga bem e parece que encontrou um estilo de jogo com Tite. Bom. Ponto para nós. Só que clássico é clássico e jamais podemos entrar em campo com o nariz empinado – e sim pronto para enfrentá-los, em casa, com torcedores habituados a shopping center.
Também quem tem dinheiro para pagar os ingressos com esse preço? Somente o público que se acostumou a ir a shopping centers. A geral não existe. Eis os delírios de futebol moderno: estádio que se assemelham público de teatro. Até palmas eles batem, dá para acreditar?
Os jornais ovacionam o público das arenas. Por exemplo: na transmissão televisiva, será comum ver o narrador frisar que há pais e filhos no estádio. Vejam vocês: se isso não é clamar por um público frívolo não sei o que é, ora pois.
Para nós, pobres desalmados, fãs de futebol, o esporte bretão não é apenas um jogo, onde os times têm onze jogadores e buscam empurrar a bola para a rede. Não: para nós, o futebol é puramente emocional.
Basta lembrarmos das torcidas cantando nos estádio – e que foram impedidas de irem em São Paulo pelo Ministro do STF, Alexandre de Moraes, aquele que é acusado de plagiar trabalhos acadêmicos.
Pense: as principais torcidas organizadas da capital paulista possuem escolas de samba, mas não podem cantar nos estádio porque um cara, cujo histórico lhe atribui ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital) e como advogado de Eduardo Cunha, proibiu-as em dia de clássico.
Estou vendo o dia que isso chegar até as terras goianienses – e o Poder Judiciário optar por torcida única em dia de clássico, como forma de “segurança”.
Bem, voltando ao clássico: quem perde e ganha esses jogos é a alma. Nossos princípios e alma, por exemplo, que ruíram contra a Alemanha, na semifinal do Mundial de 2014, podem pôr o Uruguai para sambar.
Clássico é clássico e devemos jogá-lo com a alma. Não?