A “chama” de Sonia Maria Santos
Redação DM
Publicado em 17 de julho de 2015 às 23:25 | Atualizado há 7 mesesAcaba de chegar-me às mãos o livro de poemas Lúcida Chama, da poetisa Sônia Maria Santos, 141 págs. Ed. Kelps, dedicada ao marido José Evaristo, filhos e netos.
A obra se divide em três partes.
A primeira, “Lúcida Chama”, propriamente dita; a segunda, “Coração Aceso”; e a terceira, “Cintilações”.
Na primeira parte, “Lúcida Chama”, os poemas “A Voz Inquieta”, “A Voz Amadurece”, “No Cair da Noite”, “Meu Tapete”, “A Flor do Lótus”, “Arvores e Frutos”, “A Vida em Pétalas”, dentre outros.
Na segunda parte, “O Coração Aceso”, em que se destacam os poemas “O Convite do Céu”, “Inteira Fico no Céu”, “A Gota Última”, “A Rosa Aberta”, “A Casa Consente Amar”.
Na terceira parte, “Cintilações”, “O poema em Flauta”, “O Ritmo Sagrado Sonda”, ”Palavras, Poucas e Cuidadas”, “Ser como a Lua, sua prata”.
Toda a obra é precedida de um estudo de José Fernandes, crítico literário lira de afinadas cordas, estudo esse compreendendo: 1 – Inquietação existencial e metalingüística; e, na segunda parte, “Imagem – cifra do poético”, escrito de sua mansão no “Refúgio do Poeta”, em Santo Antônio de Goiás, Grande Goiânia.
Toda a obra poética é ilustrada por belas aquarelas de Amaury Menezes, em que a poetisa proclama:
“Bebo a vida / na curvatura do planeta.
Desembrulho os lábios / os dentes / o corpo / se desdobra, até que eu seja / flor / (desassombradamente aberta. / Na eternidade / Nas suas altas velas).
Na palma do silêncio/ Na sua asa frágil/
Na água que bebo/ no pão que como/ No fio que solto/ Cadente/ no vento./ Tenho o amor por aprender/ e o mundo/ Desde a primeira madrugada/ à luz mortiça das candeias/ no meu rosto.”
Em “O Coração Aceso”, ela canta, maviosa: “A Convite do céu/ Noturnas álmas em procissão./ Canto, rezo, regozijo-me / Embora outro o corpo, / Os nós dos dedos, as mãos.
Que um dia não souberam / Dos bíblicos talentos/ O que fazer. / “Nem do coração aceso / dos jasmins / Dos perfumados cântaros
No último desejo/ No cansaço das despedidas, / Entre mãos e rostos, como se já / fantasma eu fosse, / e me fosse ainda / concedida a vida eterna, / seria ventura / Uma Atlântida emergida / ou uma estrada miúda; / ou um colo de mãe, quem diria, / iluminado, renascentista.”
E noutro poema: “A gota última, a rosa aberta, / A dor entregue em pétalas.
Aos mortos / Alvejadas túnicas em linho branco / No corpo que (não) se revela.
Adágios, dores: Taça servida, / A quem vai tocar ainda / Sua flauta doce.
Por inventário, fiquem as lâmpadas / Na casa que se levanta. / Fiquem as cores.”
Em “Cintilações” a poetisa canta, sonoramente:
“O poema sobre a mesa / é fruto fendido / Até o sumo e a seda.
Ceia de insetos. / Festa de ácidos e aromas / Em lenta asfixia.
Seja ele, enfim, / Mínimo solfejo, / Uma vela ao menos, / luz / calçando o dia.
Poema, Horto / Onde nasço e morro / Até brotarem / Os ramos sagrados.
Apressado, olho, / Apressada alma: / Quero os pássaros. / Quem me dera / Os de São Francisco / Em círculos, em campos de paz.”
É verdade. José Fernandes tinha razão…
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro Efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])