A morte anunciada dos bichos
Redação DM
Publicado em 4 de julho de 2017 às 04:18 | Atualizado há 8 anos
Os retirantes das matas chegam nas cidades, transidos de pânico. Banidos das verdejantes matas, onde viveram na placidez da natureza violentada, invadem as cidades onde são imolados. O olhar deles é a expressão de um medo atônito, cruel, estupefato. Como protagonistas de um conto surrealista, intuem o fim trágico que os esperam. Uns morrem estorcidos nas estradas, debaixo das rodas dos carros. Outros logram chegar nas cidades, se tornando vítimas das barbáries dos humanos. Miríades de pássaros, de animais trepadores, entre eles, macacos e bichos preguiças, quatis, gambás e quejandos, são sacrificados no torvelinho da fúria urbana, sob a algazarra de crianças correndo em bando ou de adultos em repentina ira assassina. Quatis estertoram no asfalto, morto a pedradas. Nos fios elétricos morrem eletrocutados, maritacas graciosas e repelentes gambás que invadem as casas penduradas em portas, portões e grades de ferro sob os olhares pavorantes dos seus algozes. Como convidados para um ritual funesto, uns são esmagados por cachorros, outros são abatidos a tiros. Os de mais sorte sobrevivem com marcas no corpo com membros mutilados a golpes de facas e tesouras. Os envenenados morrem em quintais, ruas e esgotos.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)