Arquivo de Sinatra no FBI
Redação DM
Publicado em 8 de junho de 2015 às 02:35 | Atualizado há 10 anos
Faz algum tempo (não me lembro bem), fiz uma crônica sobre Frank Sinatra neste DM. Como ele nasceu no dia 12 de dezembro de 1915 em Hoboken, Nova Jersey, este ano faz cem anos de seu nascimento. Se vivo fosse, que não é impossível, seria centenário. Mas não é sobre isso o motivo deste texto. Durante quarenta anos, o FBI, a famosa polícia federal dos Estados Unidos, esmiuçou a vida dele. Fê-lo com a intenção de verificar se ele se encaixava no perfil dos dois vilões máximos nomeados em sua lista: o comunismo e a Máfia. Esses arquivos quilométricos em relação às vidas de personalidades americanas estiveram sob o comando do pai dos arapongas (acho que do mundo todo) J. Edgar Hoover. A ficha de Sinatra, segundo seus biógrafos, contém um amontoado de informações inúteis, de vez que nada se comprovou em relação ao grande cantor e ator, morto em maio de 1998, aos 82 anos, em Los Angeles. Por mais que se tentasse não conseguiram os espiões, apesar das suspeitas, apurar suas ligações com os mafiosos notórios da época, em cuja esfera o jovenzinho de família italiana foi criado e continuou a circular nesse círculo criminoso até depois de famoso. Falam que esses arquivos continham 1.300 páginas sobre Sinatra, liberadas após por força da suspensão de sigilo obrigatória depois da morte do investigado. Apenas 25 informações não foram divulgadas, porquanto poderiam prejudicar terceiros ainda vivos. Acredita-se, e aí tem o dedo dos fofoqueiros, que delas façam parte relatórios sobre Judith Campbell Exner, a garota que Sinatra apresentou a John F. Kennedy e que por algum tempo manteve romances paralelos com o Presidente e o chefão mafioso Sam Giancana. Uma coisa é certa: em outros registros consta que em 1938, quando tinha 22 anos e ainda não havia alcançado a fama, Sinatra foi preso, fotografado, fichado e solto sob fiança, em uma delegacia de Nova Jersey, por sedução. Fez sexo “sob promessa de casamento”, com uma jovem “solteira e de boa reputação”. Ocorreu que aproximadamente um mês depois, a acusação foi mudada para adultério, pois descobriu-se que ela era casada. O processo foi arquivado. Outro fato que chamou atenção do FBI para Sinatra foi uma nota que o famoso colunista da época, Walter Winchell (é preciso que se tenha muito cuidado com os colunistas sociais), afirmou que o cantor teria pago quarenta mil dólares para se livrar do serviço militar americano. Constatou-se depois que era falsa a notícia. A polícia investigou sua ficha médica e descobriu que ele conseguiu escapar do Exército (e da frente de combate na II Guerra) por ter o tímpano perfurado e sofrer (acreditem os leitores) de “instabilidade mental” (neurótico). Também, o que mais interessou ao FBI naquela época foi seu apoio a campanhas que cheiravam o comunismo, como, por exemplo, a “Cruzada americana pelo fim dos linchamentos”. Pegaram tanto no seu pé que em 1950 mandou, por meio de um intermediário, uma prova de patriotismo: oferecia-se a espionar outros atores para o FBI. A oferta foi recusada. Mas, o grosso das investigações concentravam-se na propalada ligação de Sinatra com a Máfia, uma vez que constam dos arquivos fotos do cantor com vários mafiosos, inclusive, registros de viagens e festas com Sam Giancana. Outras mentiras que não foram devidamente comprovadas. Falou-se na suspeita do envolvimento dele em contrabando de dinheiro e em tentativas de extorsão. Um araponga, antagônico de Sinatra, informou “tudo que Sinatra faz tem o dedo de Giancana”. Reviraram sua vida e os agentes federais bisbilhoteiros (como até hoje fazem) não acharam meio de acusá-lo formalmente. Na década de 80, com Hoover morto (nascido em 1 de janeiro de 1895, Washington, e falecido em 2 de maio de 1972, na mesma cidade), o Federal Bureau of Investigation arquivou tudo e Sinatra deu continuidade à sua consagração como lenda em todo o planeta.
(Luiz Augusto Paranhos Sampaio, membro da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, e-mail: [email protected])