Bolsonaristas do agro serão os mais lesados pelo tarifaço de Trump
Redação Online
Publicado em 10 de julho de 2025 às 13:11 | Atualizado há 7 horas
A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma nova tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, a partir de 1º de agosto, afeta diretamente o agronegócio brasileiro. Os setores de carne bovina, suco de laranja e açúcar pilares das exportações rurais estão entre os mais atingidos. Todos são amplamente representados por produtores e empresários alinhados ao bolsonarismo e simpatizantes de Donald Trump, autor da medida.
Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior destino das exportações do agro brasileiro, com 9,4 milhões de toneladas enviadas e receita de aproximadamente US$ 12 bilhões. O crescimento da participação americana no comércio exterior do setor vinha sendo comemorado por exportadores, mas o novo pacote tarifário muda completamente o cenário.
Entre janeiro e março de 2025, o Brasil exportou 181,4 mil toneladas de carne bovina para os EUA, movimentando mais de US$ 1 bilhão. No caso do suco de laranja, foram 570 mil toneladas embarcadas entre janeiro e maio, com receita de US$ 692 milhões. O setor já havia sido impactado por um aumento de 10% nas tarifas em abril e agora enfrenta uma elevação mais severa. A indústria estima prejuízos superiores a R$ 1 bilhão por ano, considerando os custos adicionais de exportação.
No setor sucroalcooleiro, o impacto também é relevante. A cota de açúcar brasileiro nos EUA é de 150 mil toneladas por safra, com retorno de cerca de R$ 600 milhões. Só nos primeiros cinco meses de 2025, o Brasil exportou 322,9 mil toneladas ao mercado americano, com faturamento de US$ 210,7 milhões. A nova tarifa pode inviabilizar parte desses embarques, com reflexos econômicos principalmente nas regiões produtoras do Nordeste.
A medida integra a retomada da agenda protecionista norte-americana, com foco no fortalecimento da produção interna. Mesmo com histórico de barreiras semelhantes durante o mandato anterior de Donald Trump, parte expressiva do agronegócio brasileiro manteve apoio político e ideológico ao ex-presidente dos Estados Unidos. Agora, o setor enfrenta os efeitos diretos de uma política comercial que prioriza o produtor americano e restringe o acesso de países concorrentes ao mercado dos EUA.
Com a entrada em vigor das tarifas, as exportações brasileiras perdem competitividade, e o setor agropecuário nacional passa a lidar com incertezas comerciais em um de seus principais mercados.
Um tiro no pé
A imposição de tarifas pelos Estados Unidos pode ter um efeito colateral direto no mercado interno brasileiro. Com a perda de competitividade no exterior, muitos exportadores devem ser forçados a escoar sua produção dentro do próprio país. Isso vale especialmente para setores com grandes volumes e forte dependência do mercado norte-americano, como carne bovina, suco de laranja e açúcar.
O redirecionamento de estoques ao mercado interno tende a gerar excedente de oferta, criando pressão sobre os preços. Em outras palavras, o agronegócio pode ser obrigado a vender mais barato no Brasil para não acumular prejuízos ainda maiores com produtos parados. Essa dinâmica afeta diretamente a rentabilidade das cadeias produtivas e pode gerar efeitos em cascata, atingindo produtores, cooperativas e até o varejo.
Ao apoiar líderes estrangeiros cujas políticas comerciais prejudicam o Brasil, parte do setor rural contribui para medidas que desvalorizam seus próprios produtos. A tarifa de Trump, embora apresentada como estratégia nacionalista americana, pode resultar em um revés econômico local. O agro bolsonarista, ao mirar no lucro externo, pode acabar empurrando seus preços para baixo dentro de casa e sentindo no bolso as consequências de sua idolatria ideológica.