Brasil vai lançar foguete
Redação Online
Publicado em 10 de agosto de 2025 às 10:49 | Atualizado há 56 minutos
JOÃO GABRIEL
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Está previsto para outubro o lançamento de um foguete que, se bem-sucedido, será o primeiro a entrar em órbita saindo do Brasil.
Além de histórico, o evento é uma das apostas do país para conseguir atrair um novo mercado: o de empresas espaciais privadas.
Isso porque o lançamento, apesar de ser realizado no Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão, controlado pela FAB (Força Aérea Brasileira), vai ser operado pela companhia Innospace, da Coreia do Sul.
Segundo a Agência Espacial Brasileira (AEB), hoje apenas duas empresas privadas estão habilitadas para atuar no país –além da sul-coreana, a canadense C6 Launch.
Ambas têm contrato para utilizar a base de Alcântara, mas a ideia é ampliar esse escopo, de acordo com o diretor de governança da agência, Rogério Veríssimo. “Temos esperança de que a própria operação de lançamento vá atrair novas empresas [para este mercado]”, diz.
Há espaço para construção no local de diversas estações voltadas ao mercado privado, além de planos de expansão. O projeto brasileiro é também oferecer o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, que fica no Rio Grande do Norte.
Paralelamente, a Prefeitura de Maricá –cidade no Rio de Janeiro famosa por ser uma das que mais arrecadou dinheiro com a exploração de petróleo no pré-sal– planeja a construção de uma base de lançamentos em ilhas que ficam a cerca de quatro quilômetros da costa.
Segundo Veríssimo, o mercado atual de foguetes privados dispõe de poucas opções ao redor do mundo, notadamente na Rússia, nos Estados Unidos, na Índia, na China e na Guiana Francesa –que serve a países da Europa.
A fila para um lançamento pode demorar 18 meses e o mercado está em crescimento, diz Veríssimo, ao ressaltar que a promoção de novos negócios na área é um dos objetivos do Programa Nacional de Atividades Espaciais –instrumento de planejamento das atividades espaciais brasileiras traçado até 2031.
“Institutos que ficam prospectando o mercado espacial têm errado suas projeções de crescimento sistematicamente para baixo. Então, o que eu quero dizer é o seguinte: esse negócio está crescendo, é uma janela de oportunidade”, afirma Veríssimo.
No caso da sul-coreana Innospace, foi a própria empresa que montou a plataforma para o seu foguete. “A atividade não concorre com o interesse do Estado, porque a gente continua lançando nossos foguetes nacionais suborbitais”, completa o diretor.
O Brasil, por sua vez, tem algumas vantagens, como a proximidade da linha do Equador, faixa onde a velocidade angular da Terra é maior –em outras palavras, região que gira um pouco mais rápida que as demais.
Isso faz com que o foguete, quando lançado, parta de uma velocidade também maior, o que reduz, por exemplo, a quantidade de combustível necessário para entrar em órbita em até 30% e permite não só a economia do insumo, mas também a utilização do espaço para armazenamento de outros itens.
Outro ponto é que o país pode construir bases voltadas para o oceano.
Por motivos de segurança, a área ao redor de um lançamento precisa ficar isolada, sobretudo na direção para a qual ele for disparar –isso porque a máquina solta partes durante o voo, que são de grande porte e podem causar danos em caso de queda sobre lugares habitados. Assim, regiões próximas ao mar minimizam esse problema e ampliam as possibilidades de uso das bases.
Segundo a AEB, não há uma estimativa de quanto um possível mercado de foguetes poderia movimentar no Brasil, mas a expectativa é que ele gere também benefícios econômicos indiretos.
Por exemplo, para o setor de construções, que precisará ampliar a infraestrutura dos locais mais utilizados, para dar conta da demanda exigida pela operação de uma base em amplo funcionamento.
Também pode ser benéfico para o turismo, já que pessoas do mundo inteiro costumam viajar para assistir a lançamentos e visitar museus sobre o espaço.
A atividade, porém, também traz também preocupações. Vale lembrar, por exemplo, que o Brasil foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos pela remoção de 312 famílias quilombolas para construir a base de Alcântara.
Já em Maricá, o objetivo é se concentrar em foguetes de baixa altitude, que não entram em órbita, explica Celso Pansera, presidente da Condemar (Companhia de Desenvolvimento do município).
Maricá tem em seu favor a proximidade de uma grande capital, o Rio de Janeiro, o que faz com que a logística para operação de uma base seja mais fácil pela facilidade de acesso, por exemplo.
O plano é construir o centro de lançamento nas Ilhas Maricás, um arquipélago próximo à costa da cidade que hoje é destino turístico. A gestão municipal articula para conseguir autorizações do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e da Marinha para o empreendimento.
“Especialistas na área espacial procuraram a prefeitura dizendo que ali havia lugar para uma possível base de lançamento de foguetes. É um mercado que tende a crescer muito nos próximos anos e não tem base suficiente para atender a demanda”, diz ele, que foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação no governo Dilma Rousseff (PT).
Pansera afirma que a prefeitura encomendou um estudo preliminar, que já indica a viabilidade do projeto.
Considerando a instalação de um porto para recepcionar carga, custos com deslocamento e mão de obra e criação de uma rede de radares no local, Pansera afirma que estimativas iniciais apontam para um investimento em torno de R$ 500 milhões para início da operação da primeira estação.
O projeto prevê quatro bases de lançamento. Detalhes e prazos só serão definidos após aprofundamento dos estudos.