Brasil

Carência nutricional pode prejudicar eficácia da vacina em crianças

Redação DM

Publicado em 15 de março de 2022 às 13:12 | Atualizado há 3 anos

Com a expansão da cobertura vacinal contra a covid-19, o Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) alerta para a importância de garantir o acesso a uma alimentação adequada para que haja maior eficiência na resposta imunológica. O agravo nutricional experimentado pela população brasileira nos últimos anos dificulta a produção de anticorpos pelo organismo, explica a professora Magda Carneiro-Sampaio, titular de Pediatria da FMUSP e imunologista.

A professora conta que, embora a vacina estimule a ação do sistema imune, ela depende de outros fatores para garantir a proteção adequada contra agentes infecciosos. “Em um primeiro momento, ocorre a proliferação dos chamados clones de linfócitos T ou B no organismo. São eles que, em sua fase mais diferenciada, irão produzir os anticorpos, que são formados por proteínas.” Desse modo, a ingestão de aminoácidos, unidade básica de estruturas proteicas, se faz necessária para gerar e liberar linfócitos na circulação sanguínea, onde eles poderão detectar agentes estranhos e facilitar sua destruição.
“A preocupação é que a população vive um momento de muita carência. Há índices crescentes de famílias em situação de risco alimentar, passando fome ou restrições muito graves de alimentos de grande valor nutricional”, aponta Magda. Segundo o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em abril de 2021, entre os mais de 116 milhões de brasileiros consultados pelo estudo, 43 milhões não tinham alimento em quantidade suficiente e 19 milhões enfrentavam a fome. Além disso, 16,2% das moradias possuíam residentes com idades entre 5 e 17 anos. “Uma criança, para ter uma boa resposta vacinal, precisa ter disponibilidade de proteínas, vitaminas e sais minerais. Esses nutrientes vêm de alimentos caros, como o leite, carne e frutas.”
Para a pediatra, a volta às aulas é uma oportunidade de melhorar ou reforçar a alimentação infantil. “Seria muito interessante que a escola oferecesse duas refeições boas, e não apenas lanchinhos. Isso ajuda a família a ter um pouco mais condições para comprar bons alimentos para as outras crianças da casa”, diz Magda, que continua: “Poderia existir, inclusive, algum tipo de programa para que as crianças na escola, se têm algum irmão, possam levar comida para casa, para sua família toda”.
Ademais, a alimentação insuficiente torna os jovens mais suscetíveis a infecções e doenças. “A falta de nutrientes não apenas impede que a criança tenha uma reação adequada a vacinas, como também induz uma menor resposta do organismo ao invasor diretamente.” Magda finaliza afirmando que, embora as perspectivas a curto prazo para a resolução do problema não sejam animadoras, é necessário encará-lo com certa urgência. A desnutrição pode causar deficiências significativas ao organismo na fase adulta.

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