Brasil

De açougueiro a rei mundial da carne

Redação DM

Publicado em 10 de março de 2016 às 02:05 | Atualizado há 9 anos

Uma história épica de superação e sucesso de uma família começou em Goiás, em 1953, quando o mineiro José Batista Sobrinho deixou a lida de peão boiadeiro e montou um pequeno açougue, em Anápolis, onde cumpria uma incrível jornada diária: comprava e matava o boi, transportava as peças a reboque de um velho jipe e depois desossava, cortava e vendia a carne no varejo. Em pouco tempo, a Casa de Carne Mineira comprou um pequeno matadouro na Vila Fabril e passou a abater cinco cabeças por dia. Com a construção de Brasília, em 1957, alugou um frigorífico em Formosa e logo transformou-se no maior distribuidor de carne do Distrito Federal. Seis décadas depois, o lendário Zé Mineiro é o rei mundial da carne, dono do JBS – iniciais de seu nome – e de uma fortuna de US$ 21,27 bilhões (R$ 61,37 bilhões), juntamente com os filhos Júnior, Joesley e Wesley. É um dos 10 homens mais ricos do Brasil, conforme recente levantamento da Forbes.
A JBS é líder mundial em processamento de carne bovina, suína e de aves e maior exportadora do mundo de proteína animal, com capacidade de processar diariamente 100 mil bois, 72 mil suínos e 13 milhões de aves e de produzir mais de 100 mil peças de couro por dia. Segunda maior empresa global de alimentos, atingiu em 2015 receita líquida de R$ 127,9 bilhões (maior que o PIB do Paraguai) e lucro de R$ 15 bilhões. Com 340 plataformas de produção e escritórios, atua nas áreas de alimentos, couro, biodiesel, colágeno, embalagens metálicas e produtos de limpeza.
Para atender 300 mil clientes em mais de 150 nações e operar em 24 países de 5 continentes, o grupo gerado pelo açougueiro, que trabalhava praticamente sozinho, em Anápolis, emprega mais de 215 mil colaboradores. Por trás desta epopéia está a determinação e o pulso forte do pai e a ousadia de três irmãos visionários, extremadamente talentosos e operacionais, que largaram os estudos antes de completar o ensino médio e se tornaram bilionários. Apesar do poder econômico e da agressividade empresarial que levaram a JBS a uma aventura global, eles conservam a simplicidade e o arrojado do pai, que até hoje madruga para ser um dos primeiros a chegar na sede do grupo, em São Paulo.
Enquanto o resto do mundo vive às voltas com siglas sofisticadas, os Batista alavancaram seus negócios com o sistema “From Goiás”, estilo descomplicado de administrar, que transcendeu geração e virou marca registrada de Júnior, Joesley e Wesley. Com a missão de internacionalizar a JBS, Wesley chegou aos EEUU, em 2007, para negociar a compra da Swift sem saber falar sequer “My name is Wesley”. Quando tudo parecia que ia dar errado, saiu da sala e avisou aos americanos com a sua fala mansa de goiano: “Ó, aqui tá a nossa proposta. Vamos lá no quarto botar uma bermuda e ir pra piscina beber uma cerveja. Quando vocês tomarem uma decisão, avisem.” Minutos depois, o telefone tocou e o negócio foi fechado.
Certo dia, ao visitar a linha de produção do frigorífico, pegou o facão e começou a ensinar os funcionários a retalhar um boi, com a precisão e a rapidez que aprendera com o pai antes de saber dirigir um automóvel. Na mesma velocidade, a JBS tornou-se líder da carne nos EEUU e não demorou ser a maior empresa do setor no planeta, “dirigida pelos cowboys de Anápolis, que fingem de donos da Casa de Carne Mineira”, como ironizou uma conceituada revista de circulação nacional. Não seria aquele pequeno açougue o maior case de sucesso que inspirou o inconfundível jeito “Fron Goiás” de administrar e levou a JBS ao topo do mundo?

(Manoel Vanderic, jornalista)

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