DOS ENCANTAMENTOS DE NARCISA
Redação DM
Publicado em 14 de agosto de 2016 às 03:31 | Atualizado há 9 anos“O que se observa na poética de Narcisa é o mergulho profundo no abismal e no infinito dos significados. Poesia carregada de densidade, de espiritualidade, de aguda dor do mundo; que se configura com o olhar místico da autora; uma simbiose entre magia, paz e encantamento.”
BENTO ALVES ARAÚJO JAYME FLEURY CURADO
(Prof. Dr. Presidente da Academia Trindadense de Letras e Artes)
“Venho acompanhando a trajetória artística de Iza Costa, e em cada estação de seu caminhar novas surpresas, novos indicadores, novos recados de quem faz da arte uma segunda natureza… Gosto do desenho de Iza Costa como um delta no qual vem desembocar muitos referentes ligados à mitologia ocidental e os resíduos da infância transcorrida no espaço tropical sob a força do arquétipo que ressurgem sobre a forma de sugestivos apelos.”
ÁTICO VILAS BOAS DA MOTA
(Citados por Amaury Menezes no livro: “Da caverna ao museu: dicionário das artes plásticas em Goiás” Fundação Pedro Ludovico Teixeira, 1998)
Poemas, do livro “In Totum” – Goiânia: 1990, da arquiteta, escritora Maria Narcisa Abreu Cordeiro. (Goiânia-GO). Imagem: capa do livro, com ilustração da artista plástica Iza Costa (Anicuns-GO), que ilustrou, também, os poemas constantes da publicação.
LIBERTAÇÃO
Ando a passos largos
Como cavalo raivoso
Em nada atropelo.
Me acelero,
E num arremesso
Coo pássaro asas soltas
Me oculto veloz
Atrás dos morros, das nuvens,
Das luzes de um entardecer.
Deixo atrás de mim
O último observador.
Agora entre constelações abertas
Sou a lua ou o sol, como quiseres.
Lá embaixo ficou todo meu corpo
Minhas pernas, meus braços, meu cansaço;
Aqui em cima só
Minha cabeça,
Meu pássaro.
LIBERTAÇÃO IN TOTUM
Não existem fronteiras físicas
As esferas se alinham em frequência
Os espaços comunicantes
Os raciocínios agudos acima do alto.
Não existem coleiras astrais.
Céleres asas brancas
Involuntários acenos de energia.
Relâmpago azul metal.
TERRA, POEIRA SOLTA, VIDAS MORTAS
Milhões de sóis, milhões de terras
Milhões de outras partículas, matéria.
Envoltas numa só coleira astral.
Indefinidamente sós…
Tristeza, profundamente triste.
Esferas de mofo, brancos ossos,
Tênues sombras…
Se não fôssemos sós,
Assim tudo seria.
FLASH I
Ah1…
Sempre…
Todos os dias
Pensava em você
Como perfume alado, inalado
Que todos os dias precisava de um trago.
O tempo ninguém o detém
Edifiquei outros mundos
Não voltarei jamais
Na mesma imensidão
Quando me soerguer no tempo
E lembrar que existo
Na expectativa de me encontrar
Disponível como fera
Não exausta,
Não mais conseguirá,
Não adianta a lupa
A me enfocar.
Nenhum gesto estará
A acenar que gosto
Que quero de novo
Esmaecida me encontrará
Amor desfeito para sempre
Na longa espera
E na agonia
Que nada mais existe
De longe nos olharemos
Como imensas montanhas estáticas
FLASH II
Passageiro ligeiro
Ali naquele corredor
Vem uma senhora,
Um transeunte
Outro a conversar.
A vida passa
Eu morro
Ninguém lembrará.
Sou como passageiro ligeiro
Preciso definir meus desejos
E logo executar.
NADA
Não existem telhados.
Nada me aplaca,
Nada me protege,
Nada me sossega,
Me estanca, me dá sombra.
Sou como ferida
Volátil
Que em febre
Anda, anda…
E por onde passa
Em tudo se fere e assombra.
Você gosta do nada?
Sim, gosto e estou
Até apaixonada por nada.
LIBIDO E NATUREZA
Arrola sobe mim
Corrente d’água
Pérolas sem fim,
Borbulhantes alvéolos
A abrir em espumas…
À minha volta
Grandes blocos de
Pedras blocos de
Pedras, mornas
Cascatas
Do Tocantins,
Cenário de palmeiras
E matas
De Brasil Império.
O sol a brindar
A leitura
De uma transação,
Livro aberto
Com a natureza.
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica
Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã.
Esta é a 234ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]