Brasil

Eduardo Cunha, o mais negativo dos símbolos

Redação DM

Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 23:20 | Atualizado há 10 anos

Custa a crer que os trombeteiam pelo impeachment da presidente da República estejam a usar como instrumento o maior símbolo da corrupção que assola a política brasileira.

Quando os deputados federais elegeram presidente da Câmara Federal o sr. Eduardo Cunha, não se tinha ainda conhecimento da extensão e da magnitude dos atos desonestos praticados pelo representante peemedebista do Rio de Janeiro. A revelação dos seus crimes ocorreu de forma paulatina, crescente. E afinal se teve conhecimento de que Eduardo Cunha é o político brasileiro mais envolto em diversos tipos de falta de escrúpulos, afinal constitutiva de várias formas de enriquecimento ilícito. Ao se ver de modo absolutamente inconteste retratado como praticante de numerosos delitos, inclusive tentativa de ocultação em outro país (Suíça), o político alçado à presidência de uma das Casas do Congresso Nacional (como a política brasileira se acha aviltada!). Eduardo Cunha adotou como estratégia contar com apoio não apenas dos seus desonestos aliados mas também de todos os interessados no impeachment da presidente. E o espantoso é que todo esse contingente fez vista grossa para a criminosidade de Cunha e passou a utilizá-lo como instrumento. Eduardo Cunha viu que se tratava de uma grande oportunidade para as suas tentativas de evitar a perda do seu mandato e, consequentemente, a sua derrocada política. Acolheu o pedido encaminhado à sua presidência pelos interessados no impeachment, deu-lhe sequência com um parecer ilegal e satisfez os interesses daqueles para os quais “quanto pior, melhor”.

A esses partidários do “quanto pior, melhor” ocorreu um fato certamente não esperado por eles. O Supremo Tribunal Federal praticamente anulou, em histórica decisão, tudo o que Eduardo Cunha e os aproveitadores da sua irresponsabilidade fizeram relativamente ao pedido contra a presidente: a constituição da Comissão encarregada do comando do processo, bem como o rito estabelecido; e o Senado foi considerado instância constitucional com poder decisório final. A frustração de Eduardo Cunha e seus sequazes foi total.

Uma indagação se tornou dominante nos últimos dias: diante de todas as provas que se acumularam de modo indefensável contra Eduardo Cunha, os deputados que o utilizam, mais aqueles que são seus aliados, sejam quais forem os delitos por ele cometidos, terão a coragem de absolvê-lo e de consequência mantê-lo na presidência da Casa?

Tal interrogação perdurará, ao que tudo indica, ainda por dois ou três meses. Porque as manobras visando adiar indefinidamente as decisões das Comissões e do Plenário da Câmara Federal até agora favoreceram o parlamentar carioca, eleito, como se sabe, surpreendentemente, por centenas de milhares de adeptos de determinado segmento religioso.

O povo brasileiro espera no entanto por uma decisão moralizadora, que terá extraordinária repercussão.

 

(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado,  jornalista e escreve neste jornal às quartas & sextas-feiras – E-mail: [email protected])


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