Encruzilhada e confrontação com a criança índigo
Redação DM
Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 01:52 | Atualizado há 9 anosCertamente nossos leitores deste caderno de opinião pública têm ainda em mente os conceitos que em artigos precedentes desenvolvemos sobre as crianças índigo, reunidos em nosso livro “A criança índigo e suas revelações” (Goiânia, 2016, edição consorciada Kelps/Diário da Manhã). As crianças índigo são assim chamadas por causa da cor violeta de sua aura luminosa, assim definidas pelos parapsicólogos e videntes como reencarnações de seres especiais que estão chegando a este planeta com uma missão transformadora.
Índigos são criaturas paranormais, superdotadas, autossuficientes, geralmente rebeldes. Não aceitam ordens sem explicação e quase sempre recusam a autoridade de seus superiores (quando agem autoritariamente). Não há confundir crianças índigo, por sua inadaptabilidade e consequente agressividade no âmbito familiar, com os agentes dessa prática grupal de bullying, que é a odiosa discriminação entre jovens na escala social.
As crianças índigo gostam de criar, inovar, quebrar modelos. Sempre resistem a copiar, repetir, imitar. Não ouvir o apelo dessas crianças é como incitá-las à rebeldia. Vivem, num primeiro estágio, entre o mundo imaginário e o mundo real. Acreditam mais no que imaginam do que na realidade fática, eis que sua realidade é a fantasia. Ninguém é capaz de convencer uma criança índigo a desistir, por exemplo, de um brinquedo, nem mesmo adiar o cumprimento de uma promessa.
Como gostam de enfrentar desafios, as crianças índigo são inclinadas a escolher brinquedos perigosos, que as excitam à criatividade, à velocidade e à simultaneidade de ações, mostrando que são capazes de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Levá-las ao parque de diversões, por exemplo, significa redobrar os cuidados, eis que surpreendem sempre com alguma atitude inusitada.
Brinquedos perigosos
Nesses dias natalinos este modesto escriba (ligado a uma criança índigo aqui identificada apenas com as iniciais MEMCPVN), teve que enfrentá-la numa encruzilhada entre o sim e o não, a desafiar a reflexão do vovô, ante a estratégia (leia-se esperteza) por ela utilizada para conseguir seu presentinho de Natal. Chegou trazendo em mãos um cartãozinho criativo com os seguintes manuscritos: “Vovô, eu te amo. Adoro você. Você é especial para mim”. É natural na sociedade capitalista, dar um presente em troca de outro. Não foi em vão que inventaram um Papai Noel para substituir o Menino Pobre da manjedoura. Mas não se pode dizer isso a uma criança sem uma explicação convincente.
– Vovô, como presente de Natal, quero um tênis de rodinha! O vovô viu-se diante de uma encruzilhada: como dizer sim ou não, ante uma expectativa tão ansiosa de uma criança inocente. Arriscou-se a dizer – De rodinha não, minha querida, porque há o risco de você cair e machucar-se, como já vi acontecer com outras crianças, que acabaram sendo levadas ao hospital com partes do corpo quebradas. – Mas eu queeero, vovô! – De rodinha, não! Um tênis de luzinha, sim, mas o vovô não quer ver sua princesinha machucada, concorda? Ela, graciosamente, respondeu com trocadilho: – Com corda, não, com rodinha!
O vovô já estava sensibilizado com o cartãozinho de Natal cheio de estrelas e coraçãozinhos, desenhadas pelas mãos hábeis de sua netinha, com as mencionadas declarações. Na loja, afinal, aonde foram dialogando, ela surpreendeu: – Quero um tênis de rodinha! O balconista, pressuroso, mal ouviu ou viu o sinal de não do vovô na sua retaguarda. Foi preciso explicar novamente, tanto à neta quanto ao apressado vendedor, que só seria adquirido o presentinho com a condição de retirar-se a perigosa rodinha mecânica. Justificativa: recomendação médica, porque o uso de rodinhas é perigoso para fazer ginástica andando mais rápido do que com os próprios pés. – Mas não é pra eu fazer ginástica, vovô! – Sei disso, mas andar sobre rodinhas é como flutuar com risco de dar trombadinhas nas pessoas ou ser empurrada por alguém ao nosso redor. – Tá bem, vovô, então aceito o tênis sem rodinha.
Do confrontamento
Já em casa, de posse do presentinho, a netinha mostrou-se inconformada com a falta da rodinha mágica. Estava criado um impasse. O vovô resistia ao seu pedido de voltar à loja de brinquedos e pegar as rodinhas que tinham sido substituídas por um tampão de borracha no soalho do tênis luminoso, que certamente não lhe oferecia a emoção desejada. Ora, um meio presente não é um presente inteiro: ou tudo ou nada. Seria o caso de o vovô conseguir as rodinhas ou devolver o presente que não lhe interessava mais. Mas o vovô aprendera quando criança, que palavra de rei não volta atrás.
Passado algum tempo, a netinha aproxima-se do vovô oferecendo-lhe novo cartãozinho feito a mão , com os apelativos dizeres: – Vovô, me desculpe, sei que se preocupa comigo. Mas prometo usar o tênis só dentro de casa. Por favor, vovozinho, vamos pegar a rodinha na loja! Amo você para sempre! Tais palavras escritas do próprio punho e com letras coloridas, comoveram o vovô. Ela, a persistente netinha, não sabia que o vovô já havia retirado da loja a rodinha mágica com que lhe estaria garantida a maior das surpresas: andar flutuando no dia de Natal fazendo rastros de luz como as estrelas no céu. Ora, se a criança índigo tem uma aura iluminada, por que não deveria ter os rastros luminosos?
Mandamentos educacionais
Se há uma coisa que as crianças índigos adoram, é fazer surpresas. Esconder-se, por exemplo, detrás da porta ou debaixo da mesa, para serem descobertas ao grito: acheeei! Isso que parece trivial em outras crianças, nos índigos é uma forma de reforçar sua autoestima e demonstrar a alegria do reencontro. No caso em foco, a aparente insatisfação e incontida rebeldia, é uma forma de autoafirmação a exigir atenção especial da criança que começa a desenvolver o livre arbítrio no caminho da experiência existencial.
É preciso entender que a criança índigo vive sempre em regime de urgência. Não há confundir sua inquietação natural com os sintomas de TDA ou TDAH, transtorno de déficit de atenção ou transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, o que leva a submetê-las a tratamentos inadequados. É preciso compartilhar o pensamento da criança índigo para ensinar-lhe alguma coisa, ao mesmo tempo aprendendo como é seu modo de ser. Adverte a especialista Barbara Condron, em seu livro “Aprenda a educar a criança índigo” (São Paulo: Batterfly, 2008), que “a batalha de vontades que pode ser causada por uma dessas crianças é assombrosa”.
Quem quiser acompanhar a criança índigo em sua evolução e juntar-se ao seu séquito num futuro promissor, deverá observar, pelo menos, dez mandamentos educacionais. 1. Não exigir sem antes ensinar e não ensinar sem exigir, até que o aprendiz aprenda. 2. Não mentir para exigir a verdade: a mentira é o pior dos males a deformar o caráter. 3. Não iludir para não perder a confiança e não prometer sem cumprir. Se por acaso prometer, cumpra. 4. Amar a criança como se fosse você mesmo (a) outra criança a ser amada. 5. Tratar a criança respeitando sua individualidade. 6. Não advertir com ameaça e não dar ordem sob recompensa. 7. Não corrigir sem explicação e não explicar sob punição. 8. Não comprar a criança com agrados, mas agradar com elogios. 9. A melhor das vias a seguir é a da conciliação. 10. O bom exemplo é a melhor de todas as lições.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa – E-mail: [email protected])