Escritor goiano não tem vez
Redação DM
Publicado em 28 de junho de 2017 às 00:56 | Atualizado há 8 anos
O jornal O Popular publicou neste domingo (25) um caderno de 12 páginas com o título: Arena Ensino Médio inova na educação em Goiânia. O Colégio traz uma programação que proporciona valiosas vantagens para os seus alunos. Selecionou 24 livros para o programa Literatura: “Ler para Ser – Busca incentivar hábito da leitura entre os jovens para melhor formação para o mundo”. O programa está repleto de bons caminhos para a juventude goiana.
Vamos ver alguns tópicos do Suplemento do jornal, mas prestem atenção na relação dos livros adotados: “O Ensino Médio é uma das fases mais importantes da vida de um jovem. É o momento de pensar em respostas para as perguntas que soam como brincadeira na infância. É tempo de decidir o que vai ser quando crescer. Aos 5 anos de idade, é fácil afirmar que seria ator, dentista, astronauta, médico e atleta ao mesmo tempo. Aos 10 anos ninguém se importava de você querer ser advogado e piloto de Fórmula 1 no outro. No Ensino Médio é diferente! O jovem pode se decidir pela profissão que quiser, mas é preciso ter foco para se preparar para o futuro, para tirar uma nota excelente no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para conquistar vagas nas universidades mais importantes do País e do exterior.” “Ler para Ser – Projeto literário exclusivo do Arena Ensino Médio vai incentivar o hábito de leitura entre os jovens para uma melhor formação para o mundo… Infelizmente a maior parte dos brasileiros não tem o hábito da leitura. Quem atesta é o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Uma pesquisa realizada em 2016 mostrou que 44% da população do País não lê e, destes, 30% nunca entrou em uma livraria para comprar um livro. A média de leitores, que totaliza 56% dos brasileiros, lê aproximadamente 4,96% livros por ano. Contudo, somente 2,43 foram lidos até o fim. Os números assustam, e muito, os educadores do Arena Ensino Médio. E a preocupação é redobrada quando a pauta são os jovens, ou melhor, os futuros médicos, engenheiros, empresários, executivos e profissionais que vão conduzir o Brasil futuro… Uma lista, extra, contendo 24 títulos da literatura nacional e internacional, será apresentada aos alunos dos 1º e 2º anos. Cada um dos estudantes deverá ler 12 livros a cada ano, além, claro, daqueles previstos na grade curricular básica… O diretor do Arena Ensino Médio Henrique Oliveira pondera que um dos principais motivos para deficiência de leitura no Brasil é exatamente a falta de estímulo da família, das escolas e da sociedade de forma geral. Mais que simplesmente aulas sobre os livros, nas quais cabe aos alunos apenas anotar e ouvir, o propósito e haja discussão, troca de impressões, construção e desconstrução de juízos acerca do que foi lido. Os 24 livros que constam na lista do projeto são de leitura obrigatória para os alunos e foram selecionados pelo professor Pettras Felício, que afirma: O jovem que entende o poder da leitura compreende melhor o mundo e o seu papel nele.”
“Obras indicadas ao 1º ano: Vidas Secas (Graciliano Ramos); Amor Líquido (Zygmunt Bauman); O Conto da Ilha Desconhecida (José Saramago); Histórias Extraordinárias (Edgar Allan Poe); Tropas e Boiadas (Hugo de Carvalho Ramos); Hamlet (William Shakespeare); O Banquete (Platão); Os Treze Porquês (Jay Asher); 1984 (Jorge Orwell); Capitães de Areia (Jorge Amado); A Peste (Albert Camus); Mongólia (Bernardo Carvalho). Obras indicadas ao 2º ano: Dom Casmurro (Machado de Assis); Guia Incorreto da Filosofia (Luiz Felipe Pondé); Melhores Contos (Lima Barreto); Lavoura Arcaica (Raduan Nassar); Primeiras Estórias (Guimarães Rosa); Macbeth (William Shakespeare); Dois Irmãos (Milton Hatoum); O Mal Estar na Pós-Modernidade (Zygmunt Bauman); Morte e Vida Severino (João Cabral de Melo Neto); Desejo e Reparação (Ian Mc Ewan); A Idade da Razão (Jean-Paul-Sartre); O Mito de Sisifo (Albert Camus).”
Não pegou bem para uma tão importante entidade educacional como prega ser o Arena Ensino Médio, pois dos 24 livros adotados tem somente um goiano: Tropas e Boiadas, de Hugo de Carvalho Ramos. Talvez por ser o centenário de sua publicação (1917-2017) e sair uma nova edição. Nenhum outro goiano mereceu a apreciação do professor Pettras, que é filho de um importante escritor e palestrante com livros adotados em várias escolas, Brasigóis Felício. Nem Bernardo Élis, que foi da Academia Brasileira de Letras; nem Carmo Bernardo, vencedor de prêmio literário em Cuba (O caçador de gatos); nem José J. Veiga, diretor da Fundação Getúlio Vargas e obras publicadas em 18 países. O certo seria uma comissão composta, além do Professor Pettras, mais dois ou três membros da Academia Goiana de Letras e UBE – União Brasileira de Escritores-Seção de Goiás.
O problema aqui é antigo. Em Minas Gerais são adotados 90% de escritores mineiros nos vestibulares. Aqui em Goiás apenas 01, quanto muito, 02. Em 1989 o único livro indicado para 320 mil vestibulandos foi o meu: Meu Tio-Avô e o Diabo. A editora era a Ática, de São Paulo, ao preço de 22 reais, mas para evitar a xerocada nos foi permitida uma edição pela Kelps, que se preparou pra “rachar” de vender, a 7 reais. E o que foi que aconteceu? Todos os estabelecimentos onde o livro fora adotado, já o tinha xerocado a 3,50. Há lei para isso, mas aqui é o Brasil.
O nosso ilustre e querido Governador Marconi Perillo, com o seu programa já vitorioso, Goiás na Frente, deveria fazer valer a lei do ex-presidente da Academia Goiana de Letras por 16 anos e ex-deputado estadual e ainda ex-governador do Estado, Ursulino Tavares Leão, lei de 1969 que obriga todas as escolas goianas a adotarem os livros de escritores goianos e estes proferirem palestras sem auferirem pagamentos. A Lei nunca funcionou. Da minha parte continuo às ordens aqui no nosso Instituto Cultural e Educacional sem nenhum gasto, além da merenda. É só combinar com a nossa secretária, a historiadora e Presidente da Comissão Goiana de Folclore, Izabel Signoreli. 3223-0330.
(Bariani Ortencio, barianiorten[email protected])