Brasil

Lindos Canteiros

Redação DM

Publicado em 17 de março de 2016 às 01:42 | Atualizado há 9 anos

Aquela cidade que lembra, na operosidade do seu povo e na doçura do próprio nome, a abelha jataí, é torrão da abundância. Jataí é túmulo dos meus pais, de outros antepassados, dos meus dois irmãos mais novos, tios, primos e amigos. Ali, Juscelino ao Toniquinho, ao Brasil e ao mundo prometera mudar, da linda e culta Rio de Janeiro, para a urbe que ele mandaria levantar – e levantou – em pagos então jurisdicionados a Goiás, Brasília, a maior obra do século. Antes, Ludovico, outro atrevido, plantara a nova capital goiana, hoje, a 12ª maior cidade brasileira.
Naquela colmeia nasceram dois governadores de Goiás e um da Rondônia, um vice-governador, dois senadores, três presidentes da Assembleia Legislativa, o suplente do senador JK que ali iniciara sua campanha para Presidente e encerrara a sua campanha para o Senado de onde o covarde Castelo, obedecendo o bronco Costa e Silva, o arrancou com a caneta do arbítrio. Jataí é berço de Basileu Toledo França e José Godoy Garcia, integrantes da Academia Goiana de Letras.
Também este pequeno escrevinhador nasceu nesse lugar abençoado onde se encontra a banana-da-terra mais saborosa da Terra, um dos alimentos comuns à mesa da casa onde meus pais, com amor, criaram seus cinco filhos. Abrimo-la ainda quente pelo cozimento para acrescentar manteiga de leite que se derretia ou usávamos açúcar acompanhado ou não de canela em pó.
Foi no segundo semestre de 1950 que em Jataí nos instalamos. Fizemo-lo na casa adquirida, em 1949, do casal José Antônio Barbosa, o popular Zé Toco, e dona Leonor. Vínhamos da fazenda Moranga, então município apiário, hodiernamente, Serranópolis. A evidenciada fazenda, naquele tempo, pertencia aos meus avós maternos Philadelfo e Ana Isabel e situa-se bem perto da pequena e simpática sede do município serranopolino.
Essa casa, depois que meus genitores se foram, deixou de nos pertencer. É o número 1029 da Brasil, que pertence a senhora Márcia, que nela montou sua empresa possuidora da fantasia “Relíquias”, pertinente ao seu ramo.
Ao lado, há um cômodo comercial, que também era nosso. No terreno que o hospeda, durante grande parte da década de 1950, minha mãe, senhora Maria Clara de Oliveira, plantou e zelou do mais bonito jardim da cidade. Flores nos canteiros e nos vasos do alpendre. Eram comuns os jardins nas residências do Brasil, penso que mais no interior. Paravam transeuntes para contemplar aquele lugar encantado. Mamãe trabalhava muito, cozinhando, varrendo, lavando, cuidando dos filhos, dos doentes mentais e mendigos que achavam, ali, carinho, comida farta e saborosa e lhe sobrava tempo para as flores. Meu pai, que nascera em lar muito pobre, era o bem sucedido comerciante Joaquim Borges de Oliveira. Estabelecera-se na Moranga, acima citada, no início da década de 1940, com a “Loja Tupy”, mesma fantasia da que abrira em Jataí, em 1951,alterado para “Comercial Baratém”, na Benjamim, esquina com Rui Barbosa. Também ele dispensava apreço aos pedintes e aos doidos (ou tidos como tais pelos loucos que se dizem sadios). Esse jardim desapareceu na construção de cômodo comercial que, alugado, reforçou orçamento da família.
Agora, beirando 72 janeiros, moro, com minha amada, na casa 412 da 27, Vila Carolina, na pujante Rio Verde. No quintal e na frente da nossa morada há um lindo jardim plantado e cuidado pela senhora Ilsa, minha esposa, natural de Mineiros, filha de Helena Rezende Machado e Isac Rodrigues Machado.
Mudamo-nos para este lugar bendito em setembro de 1973. Éramos três, pois Joaqum Neto, o primogênito, nascera na alvorada de julho de 1972, em Jataí. Tornamo-nos rio-verdenses e em Rio Verde nasceram Patrícia e Fernando, todos criados sob este teto. Patrícia se matrimoniou com o goianiense Avelino Jr, e com ele reside em Brasília; Joaquim se matrimoniou com a rio-verdense Patrícia (homônima da cunhada) e os dois nos deram os netos Mariana e Davi; Fernando é esposo de Larissa, filha desta terra. São os pais de Eloá.
Assim, parte da alvorada vivi junto a lindos canteiros; junto a lindos canteiros vivo quando se avizinha o crepúsculo.

(Filadelfo Borges é auditor fiscal aposentado de Goiás, autor de vários livros, sócio-fundador da Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios. Curso superior incompleto (Letras), natural de Jataí, casado em Mineiros, mora em Rio Verde)

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