Cultura

Livro retrata alma campineira a partir do Atlético

DM Redação

Publicado em 9 de maio de 2025 às 20:54 | Atualizado há 5 horas

Antônio Accioly: estádio virou símbolo do bairro mais antigo da capital goiana - Foto: Bruno Corsino/ ACGO
Antônio Accioly: estádio virou símbolo do bairro mais antigo da capital goiana - Foto: Bruno Corsino/ ACGO

Com 95 textos, ‘Atlético, Campinas e Accioly — Memórias da Força Quente de um Dragão’ mapeia o cotidiano de Campinas a partir do futebol rubro-negro. Obra traz poemas, contos e crônicas originadas na pena de 76 autores

Marcus Vinícius Beck

Amigo, futebol para mim é uma experiência comunitária. Enlevo e angústia. Sou Vila Nova, o que me faculta certo sadismo. Amo estádios. Amo o Serra Dourada. Amo o Vila. 

Meu aviso aqui não surtirá impacto. No máximo, penso comigo, causará surpresa em uns e outros vilanovenses que lerem estas mal traçadas linhas. Lá vou eu: Atlético, o nosso Dragão campinense, a nossa força quente do povo, o nosso rubro-negro goianiense, é foda. 

Leio a crônica “Nos Caminhos com o Dragão da Campininha”, escrita pelo historiador goiano Paulo Vinícius Maskote: “Pela primeira vez, eu e meu pai assumíamos uma identidade conjunta e, como atleticanos, demos uma entrevista ao Diário da Manhã.” 

Naquele dia, lembra Maskote, rolou algo especial. Era uma união entre pai e filho, uma aproximação com o homem que tanto admirava, um encontro com a pessoa que o fez rubro-negro. Infelizmente, não partilhavam muitos momentos como o menino queria. 

De um lado, recebia influência da madrinha Fânica, que lhe falava sobre as glórias do Vasco da Gama. Por algum tempo, a criança se viu cativada pelo cruz-maltino. Na escola, televisão e imprensa, me sopra o cronista, a moda era torcer nas bandas de cá pelo Goiás. 

Dragão brilhou no futebol goiano em época preterido e deu a volta por cima – Foto: Bruno Corsino/ ACGO

“Quando muito pelo Vila Nova, mas jamais pelo Atlético”, anota Maskote, atleticanamente, em história pinçada por este escrevinhador ludopédico no livro “Atlético, Campinas e Accioly — Memórias da Força Quente de um Dragão”, publicada pela editora Ludopédio.

A obra, aliás, acaba de sair do forno gutemberguiano. Organizada pelos atleticanos Ângela Mascarenhas e Horieste Gomes, traz 95 textos que envolvem poemas, contos e crônicas originadas na pena de 76 autores. A obra tem 43 fotos feitas por seis fotógrafas e fotógrafos rubro-negros. Registre-se: Hélio de Oliveira está entre os profissionais da imagem.

“Memórias da Força Quente de um Dragão” se divide em três partes. A primeira enfoca a devoção ao Dragão e a identidade daquilo que se chama de “campineiro”. O livro adquire dimensão sociológica ao discutir a resistência comunitária contra a destruição do Estádio Antônio Accioly. Já o fim, na terceira parte, celebra a memória de ilustres atleticanos. 

Dentre eles, a publicação destaca três literatos: José Mendonça Teles, Dionísio Teixeira e Bariani Ortêncio — este, por sinal, jogara debaixo da trave atleticana entre os anos 1940 e 1950. Na ocasião, o Dragão estremecia sua rivalidade com o Goiânia, o Galo Carijó. 

Futebol nunca foi, como nunca será, um mero esporte. Em 90 minutos, manifestamos nossa maneira de ser: avistamos a imensidão do gramado e nos emocionamos, comemoramos a vitória suada e suspiramos aliviados, ficamos comovidos com a arte e aplaudimos o belo. 

Capa do livro – Foto: Divulgação

Aficionados

Torcer — nome que se dá a essa conexão entre nós, aficionados — faz com que pertençamos ao bairro do nosso time. Maskote, meu velho, então o que viveste nas arquibancadas? “Acompanhando o Atlético nos estádios, vivi amores, namoros e compartilhei essa parte de mim com muita gente querida, amigo que fiz e fortaleci aos montes”, escreve o historiador. 

“Como cheguei até aqui? Nessa hora eu já conduzi a bicicleta sem as mãos, vou atravessando a avenida Castelo Branco das casas agropecuárias, viro na rua Benjamin Constant, atravesso a Anhanguera, passo em frente ao Mercado de Campinas e sinto o cheiro do Pastel do Inácio, continuo descendo; paro na 24 de outubro”, rememora. 

O historiador, com seu olhar antenado à vida urbana, prossegue na crônica: “Estaciono a bike ao lado do picolezeiro da Changai, que ainda é o mesmo dos tempos de escola, e em meio ao barulho dos ônibus, da fumaça; fecho os olhos e entendo o quanto a família, bairro, amigos e vivência comunitária me fizeram um dos resistentes atleticanos da minha geração.”

Maskote diz que “Memórias da Força Quente de um Dragão” faz parte do esforço para preservar a memória e a história do Atlético Clube Goianiense. “É um componente valioso da cultura do futebol goiano e brasileiro. É preciso destacar que, no Brasil, futebol não é só um esporte ou um momento de lazer. O futebol é parte de nossa identidade.” 

É, amigo, futebol para mim é abraçar aquele desconhecido que está na arquibancada no instante do gol aguardado. Sou Vila Nova, como disse na abertura desta croniquinha de coração vermelho. Mas amo futebol. Amo estádios. Amo Antônio Accioly — apesar das dores vividas ali. O Dragão, leitor, ele é a alma da gente campineira. Vai vendo. 

ATLÉTICO, CAMPINAS E ACCIOLY

Editora Ludopédio

Páginas 338

Preço R$ 50

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