Brasil

Lua de Marte já apresenta sinais de sua futura destruição

Diário da Manhã

Publicado em 11 de novembro de 2015 às 01:45 | Atualizado há 9 anos

RIO – Phobos, a maior das duas pequenas luas de Marte, já apresenta sinais de sua futura destruição pela ação da gravidade do planeta. De acordo com estudo apresentado esta semana durante reunião anual da Sociedade Astronômica Americana (AAS), as longas e rasas fendas em sua superfície indicam que ela já sofre com as forças de maré que deverão despedaçá-la daqui a 30 a 50 milhões de anos. Orbitando a meros 6 mil quilômetros acima da superfície de Marte, Phobos é a lua em posição mais próxima de seu planeta no Sistema Solar e continua sendo gradualmente atraída por Marte, chegando cerca de dois metros mais perto a cada século.

– Acreditamos que Phobos já começou a se romper, e os primeiro sinal deste colapso é a produção destas fendas – diz Terry Hurford, pesquisador do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e um dos autores do estudo.

Os cientistas a princípio acreditavam que as longas fendas em Phobos foram causadas pela colisão de um objeto que formou a cratera Stickney e por pouco não a despedaçou. Com o tempo, no entanto, eles observaram que as fendas não se irradiavam da cratera como se pensava, mas de um foco próximo, levando a proporem que elas teriam sido produzidas pro vários pequenos impactos de material ejetado de Marte.

Hurford e seus colegas, porém, produziram um modelo que sugere que as fendas na verdade são marcas de tração que se formam à medida que Phobos é deformada pelas forças de maré da gravidade marciana. A Terra e a Lua se atraem da mesma forma, o que provoca as idas e vindas das marés nos oceanos e deixa nosso planeta levemente achatado, e não perfeitamente esférico.

Embora a mesma explicação para as fendas tenha sido proposta décadas atrás, depois que as sondas Viking, também da Nasa, enviaram imagens de Phobos nos anos 1970, na época acreditava-se que a lua era razoavelmente sólida. Assim, quando as forças de maré foram calculadas, elas foram apontadas como fracas demais para causar fraturas em uma lua sólida daquele tamanho, com formato irregular e dimensões de cerca de 27 × 22 × 18 quilômetros. Hoje, porém, acredita-se que o interior da lua é, na verdade, formado por uma pilha de escombros que mal se mantém unida, cercado por uma camada de regolito (fragmentos de pedras e poeira) com cerca de cem metros de espessura.

– O que é interessante sobre nosso resultado é que ele mostra que Phobos tem um material de certa forma coesivo no seu exterior – conta Erik Asphaug, pesquisador da Universidade do Estado do Arizona em Tempe e coautor do estudo. – Isso faz sentido quando você pensa no comportamento de materiais poeirentos em microgravidade, mas é um tanto contraintuitivo.

Segundo os cientistas, um núcleo “frouxo” assim faz com que ele se distorça facilmente por não ter a resistência necessária para se manter perfeitamente coeso frente às forças de maré, ainda que relativamente pequenas, da gravidade de Marte. Isto força a camada externa a se reajustar, acumulando estresse que eventualmente levará ao surgimento de fendas, como previsto pelo modelo e observado na superfície da lua marciana. Isso também ajuda a explicar a observação de que algumas das fendas parecem muito mais jovens que outras, o que se encaixa no caso de ser um processo em constante ação.

Tritão, uma das luas de Netuno, deverá ter o mesmo destino de Phobos. A lua netuniana também está lentamente caindo em direção ao planeta e apresenta sinais de estresse em sua superfície. De acordo com os cientistas, o estudo pode ajudar ainda nas pesquisas sobre planetas extrassolares, muitos dos quais orbitam bem próximos de suas estrelas.

– Não podemos fazer imagens destes planetas distantes para saber o que está acontecendo, mas este trabalho pode nos ajudar a melhor entender estes sistemas, pois qualquer planeta que esteja caindo em direção à sua estrela-mãe seria despedaçado da mesma maneira – conclui Hurford.

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