Mingo e Téo
Redação DM
Publicado em 25 de dezembro de 2017 às 22:02 | Atualizado há 8 anos
Mingo e Téo, de livre acordo, consideraram que, sempre que estivessem em público, se elogiassem rasgada e descaradamente, em voz alta, pra que todos ouvissem, e ainda como forma de impressionar as pessoas e atrair as boas graças do mundo. Postaram-se num canto bem movimentado da cidade e principiaram assim, empostando a voz:
— Téo, quem é o sujeito mais inteligente de todos que você já teve a fortuna de conhecer?
— Ora, não resta a menor dúvida de que és tu, caro Mingo.
E Téo prosseguiu:
— Agora, quem é o mancebo mais sábio de todos os mancebos sábios, Mingo?
— Pois tal mancebo está postado bem aqui, diante de mim. És tu Téo.
— Oh, eu? Ora! Gratíssimo pela justiça que me fazes. — falou Téo.
— E o mais bonito? — disse Mingo.
— Certamente que és tu, Mingo. Qual mulher, em sã consciência, há de negar?
— E o mais galante, eim, eim, eim meu prezado Mingo?
— E Mingo apontou, sorrindo abertamente, para Téo.
— Já íamos nos esquecendo dos mais ricos. Quem são?
— Somos nós dois, Téo.
— Tem razão, Mingo, nós dois.
— E os mais sortudos?
— Nós dois também.
A gente só sabe que não havia, por mínima que fosse, nota ou qualidade negativa em Mingo e Téo. Só coisas maravilhosas ou positivas, segundo os próprios. Que ninguém aguentava mais aquele descaramento. Aqueles louvores recíprocos.
Nisto, Drigo e Baldo, há muito amigos de Mingo e Téo, que perambulavam por alí, ouviram aquilo e se deixaram estar por instantes. E era um tal de, “quem é o mancebo mais isso?” e “quem é o sujeito mais aquilo?”, que nauseava o público que se ajuntava entorno. Eis Baldo, que já não suportava mais e estava por aqui com aquilo, alteou a vós e indagou:
— Agora, gente, quem são os dois sujeitos mais cretinos da cidade? Aqueles lá: Mingo e Téo.
A cidade inteira gargalhou.
(Pedro Nolasco de Araujo, escritor)