Minha eterna lição de casa
Redação DM
Publicado em 20 de abril de 2016 às 02:15 | Atualizado há 9 anos
Acredito ter começado a praticar essa minha eterna missão de casa, que defino como ofício de escritor ou o que já os antigos gregos chamavam “scholé”, palavra que designava a “condição de um indivíduo que é dono de si, que tem livre disposição de si”, ao completar meus 12 anos de vida, no mais pleno sertão de Poço da Pedra, em Casa Nova, Bahia, onde imaginei, não sei fundado em quê, nem o por quê, que ia ser advogado, escritor e jornalista, certamente o que posso chamar “de opinião”, que por certo faço, curiosamente escolhendo como cidade a exercer esse difícil mister a então capital do país, o Rio de Janeiro.
Jamais imaginei que a força inexplicável do destino levar-me-ia para Mato Grosso (Poxoreo e Cuiabá), onde fui surpreendido por outra força mágica, a do Amor e seus mistérios, na criatura da adorável Chica que, além de forte influência em minha vida profissional, onde sofri e venci, consolado pela Literatura, converteu-se em fio condutor dos meus escritos. Com seus dons telúricos, forte característica da terra goiana, mudou minha trajetória estudantil para Goiás, Goiânia, Capital, onde dei os primeiros passos na escrita, na imprensa e fantasia de “A moça que ria muito” – 1964 –, de onde passei a perceber não ser fácil o ofício de escritor, a partir da concepção romântica, encontrando um jardim florido, sentindo o perfume das flores, abrangendo a beleza da poesia. Isto prossegue mexendo comigo, minhas liberdades, meus descansos, ócios, jeito de ocupar o tal tempo livre – “estudo”, “saber”; ou o tal lugar dedicado aos meus estudos, onde me escondo do cinismo da hipocrisia e me divorcio da falsidade social.
Contudo, o que foi mais importante para mim, é que a Chica, por algum desígnio divino, trouxe-me para Mineiros, onde consegui, com ela e os filhos Vasco, Rui e Kátia, a transformar a cidade no Rio de Janeiro cá dos meus sonhos de adolescente do sertão de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, convertê-la em motivo de orgulho, assim surgindo a Biblioteca de seis mil volumes, chamada “Mariano José dos Santos e Maria Isabel Silva”, meus pais, onde comecei a pensar na “eterna lição de casa”, a tal condenação de todo escritor, que queria ser em todos os tempos.
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego, mestre em história social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – [email protected])