Brasil

O emplasto Braz Cubas

Redação DM

Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 00:30 | Atualizado há 9 anos

O emplastro antilírico: Braz Cubas inventou o emplasto anti-hipocondríaco. Hoje algum cientista lunático, um Simão Bacamarte do ramo farmacêutico, poderia inventar o emplasto antilírico:

A fim de inventar os efeitos possivelmente deletérios da expansão, em nível tsunâmico, do poetariado nesta banda tropical do mundo – que muitos, como Jorge Bem Jor, insistem em chamar de paraíso tropical.

Nação bruzungandeira que, se em seu nascedouro, na condição de colônia de Portugal, diziam ser o paraíso, há muito deixou de sê-lo. Estando já encaminhando, com ferrenha determinação, à situação-calamidade  de se transformar no oposto disto.

O falatório na morte – Foram-se os tempos em que velórios eram lugares de fala baixa e de gente com semblante sinceramente comovida com o espetáculo da morte, que alguns chamam de passagem. À qual estamos todos sujeitos, muito a contra-gosto.

Hoje são ambientes de falatório efusivo, de reencontro de pessoas que há muito não se viam – foram engolidos pela cidade, e ao se verem, mesmo em instante funerário, dão vazão à algaravia reprimida.

Não como nos tempos do memorável Braz Cubas, quando o silêncio dos veloristas era tão intenso que “ouvia-se o soluço das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas do tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro”. *

Querendo fazer um negócio da China, chegou à Conchinchina – mas viu que lá só haviam chineses querendo fazer bons negócios para eles.

Bons tempos foram aqueles,  em que o meliante mais temido no Brasil era o Bandido da Luz Vermelha.

Diante da enormidade dos assaltos cometidos contra a bolsa pública, no Brasil, Ronald Bigs, tornado famoso por liderar o assalto ao trem pagador, ficaria sem jeito, ante a insignificância do seu feito.

“O tempo é o senhor da morte”, dizia Machado de Assis. O único que jamais se aposenta. Está sempre de plantão, na ativa. Deitando e rolando, com suas implacáveis sentenças.

No que diz respeito a certas religiões dinheiristas, compensa mais ser tosquiador de ovelhas, do que viver sofrendo a tosquia. É o que se pode deduzir do padrão de vida levado por uns e outros.

 

(Brasigóis Felício, escritor e jornalista. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras)


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