Opinião Pública

O impacto no mercado de trabalho a partir da adoção e evolução da inteligência artificial

Redação Diário da Manhã

Publicado em 4 de julho de 2025 às 07:08 | Atualizado há 5 horas

Por Adner Uema

A inteligência artificial está longe de representar uma ameaça fatal ao emprego humano. Pelo contrário: oferece caminhos concretos para elevar o padrão profissional e gerar novas oportunidades de carreira.

O avanço da IA no mercado de trabalho inspira visões radicais. Algumas são alarmistas; outras, excessivamente otimistas. Não faltam previsões apocalípticas sobre um futuro sem empregos, dominado por máquinas. Na realidade, porém, o impacto da inteligência artificial é mais sutil e promissor do que muitos imaginam. A IA expande as capacidades humanas e aumenta a produtividade.

Estudos indicam que a inteligência artificial pode adicionar até US$ 4,4 trilhões à economia global por ano — o dobro do que o Brasil gerou em riquezas em 2024, quando registrou um PIB de US$ 2,1 trilhões (ou cerca de R$ 12 trilhões). Esse cenário revela ganhos significativos de produtividade, à medida que a tecnologia automatiza tarefas rotineiras e libera os profissionais para se dedicarem a atividades mais complexas e criativas.

É preciso reconhecer, no entanto, que alguns empregos estão mais expostos à transformação provocada pela IA. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que cerca de 27% dos postos de trabalho em economias desenvolvidas correm alto risco de automação, especialmente aqueles com rotinas previsíveis, como operação de máquinas ou processamento repetitivo de dados. Diante disso, os profissionais precisam, e devem, compreender como navegar nesse novo cenário em constante transformação.

Mais do que nunca, empresas valorizam pessoas capazes de interagir com tecnologias avançadas. A habilidade de utilizar a inteligência artificial como uma ferramenta de ampliação de competências torna-se essencial. Um estudo do World Economic Forum (WEF) confirma essa tendência: seis em cada dez empresas já consideram as habilidades relacionadas à IA fundamentais para futuras contratações. Isso cria uma demanda direta por profissionais que dominem essas tecnologias.

E o mais interessante: longe de ser apenas uma ferramenta técnica, a IA tem impacto direto na qualidade do trabalho. Ao reduzir tarefas monótonas, as ferramentas baseadas em IA também contribuem para diminuir o estresse e aumentar a satisfação profissional, especialmente em setores como serviços financeiros, saúde e comunicação. Essa realidade reforça que, quando bem utilizada, a inteligência artificial pode humanizar processos mais do que automatizá-los.

Outro aspecto crucial é o investimento em capacitação profissional. Empresas líderes, no Brasil e no exterior, já direcionam recursos para preparar suas equipes internas, com foco em empregabilidade e retenção de talentos. Uma pesquisa da Deloitte aponta que 79% das empresas com programas robustos de capacitação observaram melhorias significativas na experiência profissional de seus colaboradores.

No Brasil, apesar de desafios estruturais, iniciativas educacionais e corporativas começam a reduzir o déficit de competências tecnológicas. Há exemplos práticos nos setores de telecomunicações, energia e bancos, onde equipes treinadas em IA estão assumindo funções estratégicas até então inexistentes, como engenheiros de IA, analistas de automação ética e gestores de interações entre máquinas e humanos.

É imprescindível, contudo, reconhecer que o avanço da inteligência artificial exige atenção às desigualdades sociais que podem se aprofundar, sobretudo em economias emergentes. Segundo o Banco Mundial, trabalhadores com menor qualificação estão mais vulneráveis ao desemprego se não tiverem acesso a programas eficazes de qualificação digital. Por isso, políticas públicas e privadas precisam atuar em conjunto para garantir que a transformação tecnológica não amplie disparidades socioeconômicas.

A inteligência artificial deve ser compreendida como uma revolução com potencial profundamente humanizante, desde que adotada com estratégia e responsabilidade social. Profissionais que veem a IA como uma aliada para expandir suas próprias capacidades terão acesso às melhores oportunidades do mercado de trabalho. Afinal, a inteligência artificial é uma ferramenta poderosa para quem entende que o futuro, e o presente, do trabalho depende da soma inteligente entre humanos e máquinas. Para esses profissionais, as máquinas não serão ameaças. Serão sempre oportunidades.

Adner Uema é diretor de Gente & Cultura da Positivo Tecnologia

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