O POEMA FERTILIZA EMOÇÕES
Redação DM
Publicado em 10 de abril de 2016 às 01:46 | Atualizado há 9 anos
Lúcia Carloni é graduada em Direito, licenciada e bacharelada em História. Funcionária pública federal ocupa o cargo de Procuradora Federal – AGU, lotada na Procuradoria Federal da Universidade Federal de Goiás – UFG.Publica textos, em prosa e verso, em jornais e nas mídias sociais, inspirados nas fotografias da natureza e imagens que produz. Seus poemas e sua prosa poética, inspirados em sua produção fotográfica, irradiam luz, beleza e singularidades em suas dinâmicas páginas no Facebook, com o pseudônimo, Lúcia Fisher.
Possui uma coletânea de textos (em prosas e versos), que aguardam publicação.
Elizabeth Caldeira Brito
Poemas e fotografias de Lúcia Maria Carloni Fleury Curado (Cidade de Goiás – GO).
SEM MOLDURA
Sem moldura,
Simplesmente amar
Sem censura
Sem padrão,
Amar-se primeiro
Pés no chão
Com cautela,
Que o amar é luz de
Tênue vela
Com grito,
Alertar: o amar
É finito.
O POETA A PALAVRA DOMINA
O poeta a palavra domina.
Preza ou abomina. Doma.
Com carinho ou violência embroma.
Divulga, resguarda, guarda.
O poeta é atleta, atrás da palavra corre,
a palavra percorre, leva ao devido lugar,
nas linhas, nua ou vestida.
Santificada ou bandida, nas entrelinhas.
Alcança a palavra que foge,
pega, carrega, prende,
solta, rebaixa e suspende.
A palavra o poeta enrubesce.
Manda recado, comete pecado, promete.
Condena e absolve.
Absorve. Sorve.
O poeta a palavra cala, emudece.
Se cala ou fala, a palavra padece, peca.
Palavra afoita ele joga no chão, e, num safanão,
açoita.
Faz gritar, gemer, soluçar.
Esbofeteia. Se volúvel, algema, retalha, queima.
Chicoteia, pisoteia, ergue e chuta,
seja ela santa, insana ou puta.
Dá pontapés, joga pro alto, e,
num sobressalto, ela cai aos seus pés.
Ofegante, ele a toma e acaricia,
sussurra baixinho.
Ela cede, concede.
Com ela o poeta se deita, deleita em orgia.
A palavra fértil concebe,
emprenha,
parindo versos, poemas,
poesias.
FLOR CABOCLA NAS FENDAS DO CERRADO
Flor cabocla nas fendas do cerrado,
Por descuido encravada num solo em aspereza.
Fragilizada, mas no forte esperançar
Sonhava ser notada pela luz de um olhar,
Mesmo que de lampejo,
De uma ave a vagar ou do rude
Sertanejo.
Esvoaçante ao vento, donzela ainda, ternura infinda,
Tremulante em sentimento, flor cabocla do cerrado,
Presa fácil ao relento.
Flor cabocla, de efêmera beleza,
Ser dali foi sua sina, mas não era o seu desejo.
O sertanejo outras flores (es)colheu e adornou a sua vida.
A rara flor que ali cresceu
Fora por outras preterida, ninguém a percebeu.
A passarada indagou:
__A brisa murmurou?
__Não. Foi a flor cabocla do cerrado,
Que de triste o coração e por tamanha solidão, soluçou.
__A nuvem respingou?
__Não.
__A dor na flor escondida em gota brotou, em meio ao cerrado,
Em pleno calor.
Não foi chuva nem orvalho, a flor cabocla chorou.
__O cerrado pranteou?
__Sim, o cerrado pranteou.
Aos quatro ventos alardeou
Que a flor cabocla do cerrado,
Na tristeza mais dorida
E num último suspiro ,
Pendeu de lado e murchou.
O cerrado perdeu, o sertanejo partiu,
O sonho ruiu, o encanto acabou.
MINHAS PALAVRAS, LÍNGUAS SOLTAS
Minhas palavras, línguas soltas, radicais livres…
“Marias-sem-vergonhas”,
vergonhas de nada, nada!
“Marias-vão-com-as-Outras, caronas!
Borboleteiam rimas,
pernas para o ar, asas sem forças,
ida sem volta, saudade, reviravolta!
Voo rasante, mergulho, sol escaldante,
fornalha, que a caneta derrete,
que faz chorar tinta
que desenha o pensar.
Boquiabertas bocas,
palavras sedentas
que sorvem o mar.
O VENTO JÁ NÃO VESTE DE BRUMAS
O vento já não veste de brumas
as manhãs que invadem
minha janela.
Do vento, apenas o gargalhar
das folhagens que a emolduram.
Também ali já não adentram
os bocejos dos sóis
em gotículas do garoar.
Já não oiço o barulhar
dos pingos despencados do telhado
despertando o meu sonhar.
Mudou o tempo
nova estação.
Vida nova.
Neblinas dissipadas,
as velhas garoas aposentadas
e apenas o sol, a chuva
e o vento vêm me visitar.
Como o sol, bocejei.
Devaneio tem hora, pensei.
É hora de acordar!!!
EM TODO CANTO
Em todo canto
uma árvore morta.
Uma árvore morta
em todo canto.
Uma árvore jaz.
Perdeu o encanto
Dos bem-te-vis
ausente o cantar
Posto que vida
ali não há.
A página Oficina Poética, criada e organizada pela escritora e acadêmica Elizabeth Abreu Caldeira Brito, é publicada aos domingos no Diário da Manhã. Esta é a 216ª edição (desde 08/01/2012). [email protected]