Brasil

O sofisma totalitário

Redação DM

Publicado em 21 de fevereiro de 2016 às 22:43 | Atualizado há 10 anos

Esses ensaios que costumeiramente posto por aqui não visam responder muitas coisas; não tem por objetivo aferrar respostas prontas e acabadas para o turbilhão de problemas que nos atropela dia após dia. Nada disso! A base (se é que existe alguma base!) no que digo está em pelo menos questionar o vivido; indagar os “porquês” de tantos dilemas e que tornam nossas vidas batalhas duras e cotidianas.

É no movimento por questionar o estabelecido que me ponho a refletir sobre as razões de algumas pessoas “de bem” sairem por aí, por exemplo, se agarrando em supostas opções assumidamente totalitárias como possibilidade de melhoramento ou aperfeiçoamento de nossa franzina democracia; me espanta que “gente boa” saia pelo anômico e desregrado mundo das redes sociais ou mesmo em círculos de convivência defendendo abertamente a assunção de personagens, pautas ou plataformas político-eleitorais inspiradas no autoritarismo ou mesmo em praticas assumidamente fascistas.

Me espanta que gente “moderna” e estudada desconsidere tão agressivamente a história para vocalizar ainda hoje, em favor de golpes, golpismos ou bravatas moralistas e que, como se sabe, arruinaram com a vida nacional em uma longa treva de duas décadas de ditadura militar onde a ciência fora ceifada, a arte amiudada e o pensamento nacional em prol de efetivo desenvolvimento fora arracando pela raiz.

Onde está o exemplo concreto e objetivo de que ditaduras ou totalitarismos aperfeiçoaram uma democracia? Que experiência mundo afora demonstra que a arbitrariedade e o terror de estado elevam padrões comportamentais para níveis superiores de existência e ocorrência? Quem disse que ameaças a minorias, a guetificação de grupos sociais nos torna mais livres e cosmopolitas? Quem falou que repressão por sobre repressão aplaca ou erradica levantes populares?

Os levantes seguirão! Enquanto não houver justiça para todos e todas, é direito histórico dos injustiçados, dos desesperados e dos massacrados se ergurerem contra o mal da fome, da miséria e do obscurantismo.

É não saber ou não querer saber! Totalitarismos geram mais totalitarismos; repressão gera mais repressão e; ódio por sua vez, gera mais ódio e, finalmente, em um cenário com tais caracteres não há sociabilidade que se mantenha, não há cotidiano que se realize, não há fluxo social que aconteça.

Democracia gera democracia como gentileza gera gentileza, já nos ensinou certo profeta das ruas do Rio de Janeiro. E em um país de parca tradição democrática como o Brasil é que este dispositivo deve ser acionado ao nível do micropoder, das experiências mais pessoais e domésticas de modo e maneira que a democracia em sua mais alta potência e abrangência seja a própria sociabilidade brasileira matizada pela delicadeza e pelos direitos humanos.

E não me venham com requentamentos! História só serve se renovada em favor e serviço da justiça, da igualdade e do bem comum, afora isso, é delírio cotidiano e que de uma forma ou de outra, acomete a todos nós.

 

(Ângelo Cavalcante é economista, cientista político, doutorado em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.)

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