PaTifaria explícita
Redação DM
Publicado em 8 de abril de 2016 às 03:22 | Atualizado há 9 anos“Não havendo justiça, o que são os governos senão um bando de ladrões?”
Santo Agostinho
Leandro Karnal, historiador brasileiro, professor da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, na área de História da América, disse em recente entrevista sobre o seu livro: “A história da detração, a arte do mal dizer”; que no país deste momento todas as pessoas são juristas, emitem pareceres constitucionais, antagonizam e criticam decisões judiciais e estão capazes de emitir suas opiniões sem nenhuma insegurança.
Concordando em parte com o historiador e não me atrevendo a entrar nas diversas manifestações da Suprema Corte brasileira, que para alguns demonstra subserviência explícita; a falar das atitudes do juiz curitibano, que tem sido para milhões de brasileiros o símbolo da esperança e da Justiça; e, enfim, sem querer apenas adjetivar uma opinião contrária ou um lado, o que desejo é exprimir minha revolta incontida frente a atitudes que ferem mais do que princípios legais; mas a ética, a compostura e o mínimo senso de decência.
Temos visto, no Palácio do Planalto, inúmeros encontros políticos, com conteúdo vazio e com um único jargão: “Não vai ter golpe!”, criando um clima de insurgência em líderes classistas pouco pensantes, que colocam a cor partidária e sua bandeira a serviço de réus confessos e prevaricadores de nossa Pátria.
Fiquei pasmado, estupefato e aturdido, com a declaração, na última sexta-feira, do secretário de Administração e Finanças da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Aristides Santos, em evento de assinatura de medidas de regularização fundiária, no Palácio do Planalto, a incentivar invasões de terras e de gabinetes de parlamentares ruralistas, chamados por ele “a bancada da bala” do Congresso, com forma de evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Falando em bala, relembro o 1º de agosto de 1968, quando da tentativa frustrada de assalto ao Banco Mercantil de São Paulo, sob a coordenação da sra. Patrícia, quando ficou para trás um comparsa morto e outro seriamente ferido. No dia 6 de outubro do mesmo ano, o assalto a mão armada ao Banco Banespa da Rua Iguatemi, em São Paulo, de onde a sra. Vanda e seus parceiros levaram 80 mil Cruzeiros Novos (aproximadamente R$ 690 mil nos dias de hoje). Patrícia e Vanda, nada mais eram do que codinomes de nossa atual presidente Dilma Rousseff, capturada em 16 de janeiro de 1970.
Ex-integrante da Política Operária – Polop, do Comando de Libertação Armada – Colina e da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares – VAR-Palmares, muitos são os atos da presidente, que argumenta que todas as ações foram em nome da libertação do Regime da Ditadura Militar. Mais eis a questão: os fins justificam os meios?
Hoje, não vimos (ainda) armas nas mãos, mas a caneta que assina decretos que nomeiam, demitem, barganham, doam, desviam, roubam e que continua a praticar toda espécie de ações passíveis de questionamentos jurídicos, sobre as quais reitero a minha incapacidade de comentá-los. Mas que os façam!
O Palácio do Planalto virou comitê de campanha contra o impeachment. O líder do governo no senado, Humberto Costa (PT-PE), disse em entrevista que sem votos não haverá cargos. E “dá-lhe” canetadas para expulsar os “infiéis” e convites para a cooptação dos que, indubitavelmente, aceitarão o convite em troca do voto e do cabresto. Aliás, são 600 cargos de ministros e diretores de estatais, fundações e autarquias; salários que vão de R$ 13.000,00 a R$ 30.000,00 e liberação de verbas de emendas parlamentares em um fisiologismo evidente. Para termos uma ideia, o governo federal possui 20 mil cargos de confiança.
Isto é o que evidencia o verdadeiro golpe para evitar o que a maioria dos brasileiros espera dos congressistas no processo do impeachment. Falam em democracia e fecham os olhos aos brasileiros que morrem à espera do atendimento na saúde pública, na falta de infraestruturas mínimas ao país, na inflação em ritmo acelerado, na estagnação da economia brasileira, no maior índice de desemprego das últimas décadas, e ainda ao descrédito internacional e a este desastre econômico e esse desgoverno que amargamos.
Fácil demais jogar a culpa nos que se opõem. Isto não é o terceiro turno de uma eleição, mas o brado retumbante da população por justiça e pelo fim da corrupção.
Fui e voltarei quantas vezes forem necessárias às ruas, vestido de verde-amarelo, para bradar meu grito de indignação, revolta e clamor por Justiça. Entristece-me a cada dia ver empresas fechando suas portas, trabalhadores dispensados e sem haver sequer esperança de um novo emprego. Olho para os meus filhos e neto e preocupa-me o rumo que o Brasil pode tomar, caso não venhamos a pedir o fim da impunidade e da corrupção.
Fechando este modesto artigo com a entrevista do professor Leandro Karnal, que lembrou uma das grandes pérolas de Sir Winston Churchill, quando George Bernard Shaw, um dos maiores dramaturgos e escritores ingleses de todos os tempos, convidou o brilhante político britânico para a estreia de uma peça sua. Shaw mandou-lhe um bilhete com os dizeres: “Tenho o prazer e a honra de convidar Sua Excelência, o primeiro-ministro, para a primeira apresentação da minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver.” Churchill enviou-lhe um telegrama em seguida: “Agradeço ao ilustre escritor o honroso convite. Infelizmente, não poderei comparecer à primeira apresentação de sua peça. Mas prometo que irei à segunda, se houver.”
Frente ao medo que aperta os corações de milhões de brasileiros, resta-nos a certeza de que teremos muitos amigos que falarão e votarão por nós. Não estamos sozinhos neste momento de possibilidade de um novo curso na política brasileira.
Àqueles que ironicamente debocham de quem se opõe e julgam que esta peça teatral, iniciada na campanha presidencial financiada pelas “benesses” da Petrobrás, continuará, aviso que em breve ela chegará ao fim, para o bem da Nação brasileira.
(Cleverlan Antônio do Vale, graduado em Administração de Empresas e Gestão Pública, pós-graduado em Política Públicas e Docência Universitária, doutorando em Economia – articulista do DM. [email protected])