Por que cada vez mais ansioso?
Redação DM
Publicado em 16 de março de 2023 às 11:00 | Atualizado há 2 anos
“Dores
no peito, mãos e pés frios e trêmulos, muita dor de cabeça e soando frio,
aparentemente sem motivos e muita falta de ar” – Infelizmente está cada vez
mais comum esta escuta na clínica ou até mesmo em conversas entre amigos,
familiares ou colegas de trabalho. Isto porque estamos convivendo em uma
sociedade cada vez mais ansiosa e ansiogênica, que ao mesmo tempo vivem as consequências
de altíssimas demandas psíquicas, mas também contribuem para que isto se
perpetue, e de uma maneira quase que “normal”. E talvez aqui, vale o
questionamento do que é normal ou comum, pois pode-se falar sim que pós
pandemia do COVID-19, o tema e queixas sobre saúde mental alcançou ambientes e
pessoas que até então não se permitia discutir tais temas.
O Brasil tem o terceiro pior índice
de saúde mental em ranking com 64 países. Esta pesquisa que já está em sua
terceira edição, mas é a primeira incluindo o Brasil, busca traçar um panorama
da saúde mental da população, atribuído via quociente de saúde mental (MHQ, da
sigla em inglês). Nesta pesquisa nosso país fica atrás apenas da África do Sul
e do Reino Unido, e outro dado revelado é que os jovens são os mais atingidos,
com esta pandemia de saúde mental.
Este pódio não muito digno de
comemoração é o reflexo exato de uma sociedade esmagada por demandas cada vez
mais exigentes e limitações frutos de condições econômicas, sociais e
culturais, e acima de tudo vive-se a partir de um ideal de felicidade,
competência e sucesso longe do que a realidade se apresenta.
A ansiedade é um afeto que surge
como um resultante de um conflito interno, e claro todos nós já experimentamos
este estado psíquico de instabilidade emocional, mas aqui vale a pena
distinguir o que é uma ansiedade, dentro de um contexto controlado, e o quando
ela se torna crônica e debilitante, comprometendo assim nossa qualidade de vida.
É possível falar em uma ansiedade positiva, ou seja, aquela quando eu aguardo e
crio uma gostosa expectativa com um encontro, com uma viagem ou até mesmo em
conhecer um livro, uma cafeteria, ou algo assim. E aquela que tanto me oprime
que me paralisa, me faz sofrer e muito tem consequências no meu dia a dia.
Nós somos essencialmente psicossomáticos,
ou seja, o que experimentamos em nossa psique se manifesta em nossa carne e corpo.
É por isso se explica aquelas queixas que apresentei no início de nossa
conversa, o que na psicanálise chamamos de sintomas. E estes precisam ser
analisados com calma para que se chegue a perguntas corretas do que está por
trás ou inserido em todos estes sintomas e angústias.
Quando nos expomos à um mal-estar
prologando ou demandas exacerbadas nosso corpo grita e mostra que precisamos
ter calma e cuidado conosco mesmo. E como falo com meus analisandos e
pacientes: Tenha calma e paciência contigo!
Como uma realidade que nos expõe
inevitavelmente, nos dias atuais, estão as redes sociais, onde estamos cada vez
mais “jogados” e expostos a todo tipo de situações altamente ansiogênicas, ou
seja, causadoras de ansiedade. Nos colocamos numa situação de observador e
observados e a partir disto uma cobrança e comparações não justas conosco mesmo
e com os outros; e exigências de sucesso a qualquer custo e de todas as formas,
e um imperativo de felicidade quase que desumano.
Precisamos
falar disto urgentemente, e tratar nossa angústia como algo que precisa ser
visto com todo respeito humano possível. Um grande psicanalista francês, Jaques
Lacan nos diz que “A angústia não mente, é o único afeto que não mente”, e por
isso mesmo precisamos ter a coragem de ir além dos sintomas e nos perguntar: o
que está doendo tanto?
E você, tem se permitido olhar para
as dores e angústias e ser sincero contigo mesmo sobre os sintomas que seu
corpo insiste em manifestar? Me conte
mais sobre como tem se sentido lá no meu divã no instagram @eliassilva.psi
E seja bem-vindo à este lugar de
conversa, partilha e acima de tudo de escuta!
Bom café a todos!