Posse do Alaor – III
Redação DM
Publicado em 18 de junho de 2016 às 03:52 | Atualizado há 9 anosE arremata, Kurt Pessek: “Sentar na Cadeira de Carvalho Ramos, dignifica qualquer um”.
Sobre Kurt Pessek, meu antecessor imediato, devo informar que nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1934, e faleceu em Brasília, em 2013. Seguiu a carreira militar, ingressando no Exército, no qual alcançou o posto de Coronel. Atuou, também, na Aeronáutica. Participou do governo federal, na presidência do General Ernesto Geisel. Foi, também, jornalista, tendo dirigido o jornal ‘Última Hora’, em Brasília. De sua atuação política é justo e necessário salientar que prestou valiosa contribuição ao processo de redemocratização do Brasil, ao participar, em 1984 e 1955, da campanha eleitoral do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, candidato a presidente da República, e que, eleito pelo Colégio Eleitoral, faleceu antes de tomar posse do cargo, Pessek escreveu vários livros, entre os quais se salientam: ‘Espada, Terço e Trabuco’, ‘Os Patriotas’, e ‘Os Descaminhos da Liberdade’, ambos de ficção histórica: O primeiro, no dizer de Cassiano Nunes, ‘descreve as primeiras décadas do século XIX no Ceará, as lutas entre os Melos e os Mourões e personagens ligadas à Igreja e ao Exército. Informa mais, Cassiano Nunes: “O volume, baseado em documentos fidedignos, demonstra que a grande luta , no Brasil, foi sempre a luta pela posse da terra, pela grande propriedade, problema que continua atual no sertão, no campo. A obra, com serenidade e imparcialidade, demonstra também que a nossa história real – não a oficial, versão rósea dos fatos – está marcada pela violência e pela crueldade”. ‘Os Patriotas’ reconstitui um breve momento – entre o início de outubro e o decurso de dezembro de 1711- da historia do Brasil: o episódio de quase revolta popular contra a Coroa Portuguesa. ‘Os patriotas’, premiado em 1984 pela Fundação Cultural do Distrito Federal, foi editado em 1985. ‘Os Descaminhos da Liberdade’ é um romance que reconstitui a chamada Inconfidência (que sempre prefiro chamar de Conjuração Mineira).
O trabalho literário que certamente assegura a Kurt Pessek a permanência no concerto dos autores brasileiros, é o ‘Dicionário Interligado, Analógico e Ideias Afins,’ editado, em Brasília, em 2010. Obra de extraordinário fôlego, contém 809.075 verbetes, muitos deles definidos e exemplificados de modo muito minucioso, em mais de uma página. Esse livro exigiu do autor mais de quarenta anos de pesquisas, e mais de trinta anos de trabalho na fase da escrita. Para escrevê-lo, recorreu a sessenta e oito obras de outros autores. Que eu sabia, antes desse dicionário de Kurt Pessek só apareceram, no Brasil, dois outros da mesma natureza: O primeiro, intitulado ‘Dicionário Analógico da Língua Portuguesa (Idéias Afins)’, de autoria de um professor secundário da Cidade de Goiás, Joaquim Ferreira dos Santos Azevedo, e que, embora elaborado ainda no início do século passado, somente veio a ser editado após a morte do autor, já na década de 1940; e o outro, denominado ‘Dicionário Analógico (Tesouro de Vocábulos e Frases da Língua Portuguesa)’, escrito pelo sacerdote jesuíta Carlos Spitzer, alemão criado, a partir dos cinco anos de idade, em Porto Alegre,RS, e que foi professor – lente catedrático – , naquela cidade, no Colégio Anchieta, e falecido com apenas trinta e nove anos de idade, em 1922. Seu Dicionário foi editado, também postumamente, em 1936, em Porto Alegre.
Tive a satisfação e o privilégio de conhecer Kurt Pessek em pessoa, em um encontro único, ocorrido em um almoço do Clube dos 21 Irmãos Amigos, nesta Capital, a que fui generosamente convidado pelo meu saudoso amigo Dario Abranches Viotti, valoroso escritor e jurista mineiro-paulista, de quem tive a honra de ser colega de trabalho, na Consultoria Legislativa do Senado Federal. Durante o almoço, realizado, calculo que em 2002, ou 2003, no Restaurante do Clube de Golfe de Brasília-DF, sentei-me à mesa, ao lado de Kurt Pessek. E conversamos. Ele se revelou um conversador inteligente, culto agradável, generoso. Eu ainda não sabia, então, que ele escrevia. Depois é que o soube, presumo que por informação de Dario Viotti.
Possuo, também, de Kurt Pessek uma palestra de cunho filosófico, gravada em um documento audiovisual, sobre o tema ‘Vida’, que ele pronunciou em 2008, no mesmo ‘Clube dos 21 Irmãos Amigos’, e que me foi gentilmente proporcionado, junto a um exemplar do romance ‘Os Patriotas’, pela sua viúva, Neuza Pessek, a quem devo, mais uma vez, agradecer, desta vez de público, por suas bondosas atenções.
Kurt Pessek ingressou nesta Academia no dia 25 de setembro de 1991, tendo sido saudado pelo professor, ensaísta e poeta Cassiano Nunes, um paulista de São Vicente, que escolheu Brasília para viver a parte mais madura e a derradeira da sua vida. Devo transcrever, do discurso de Cassiano Nunes, estas palavras: ‘Senhor Kurt Pessek! Vós chegastes ao vosso lugar! Aprestai-vos para as campanhas incruentas do intelecto, para o mutirão em que o espírito nacional já está transformando o presente em futuro! Brasília é o lugar ideal para concretizar esse sonho de missão intelectual’. Do discurso de posse de Kurt Pessek, considero relevante apresentar um expressivo texto: “Meus Senhores minhas Senhoras, Sou a dizer-lhes, em nome da gratidão, que, apesar de ter escrito por anos a eito para outros, minha verdadeira oportunidade surgiu na querida Fortaleza, pela mão do Presidente da Academia Cearense de Letras, Cláudio Martins. A ele, e só a ele, devo a publicação do meu livro ‘Espada, Terço e Trabuco’, no qual tento mostrar a atuação das três forças que formavam o Brasil monárquico. Hámister encerra o discurso. Se sou com os confrades desta Casa de Cultura, sou por galhardia de seus notáveis membros. Saibam ter sido esta a maior venera que a vida me ofereceu”.
Mais adiante, depois de informar: “Procurei, exaustivamente, no regionalismo brasileiro, o exemplo de fé capaz de dizer o quanto me vai n’alma”, declarou Kurt Pessek: “Ainda na regionalismo, uso do verso que encontrei no livro “Mil Quadras Populares Brasileiras”, de Carlos Góes (1916).” Serve-me bem de encerro:
“Eu vou dar a despedida / Como deu a São José,/ Foi saindo, foi dizendo / Té amanhã, se Deus quisé”.
Concluo, enfatizando minha gratidão muito profunda a todos os membros da Academia Brasiliense que tiveram a bondade de sufragar meu nome para compor este Sodalício que tanto honra e valoriza a vida cultural de Brasília e do (DF).
Preciso agradecer de modo bastante enfático o apoio, em que se mostrou infatigável, que me prestou o meu amigo Fábio de Sousa Coutinho.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])