Rede social: liberdade ou prisão?
DM Redação
Publicado em 4 de setembro de 2025 às 10:11 | Atualizado há 3 horas
O youtuber e humorista Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, de 27 anos, repercutiu nacionalmente após publicar um vídeo de quase 50 minutos no qual, ele denuncia a “adultização” precoce de crianças e adolescentes e a exploração de menores por influenciadores digitais, citando, entre outros casos, o do paraibano Hytalo Santos, que teve sua conta removida do instagram dias após a denúncia.
Felca detalha como algumas crianças são expostas a conteúdos e situações incompatíveis com a idade, muitas vezes sexualizadas ou obrigadas a assumir comportamentos de adultos para gerar engajamento e lucro. Entre os exemplos, menciona uma adolescente que começou a ser explorada, aos 12 anos, aparecendo em vídeos com roupas provocativas, envolvida em relacionamentos públicos e submetida a procedimentos estéticos divulgados online.
Segundo ele, algoritmos das plataformas recomendam conteúdos com alta visualização, mesmo quando há exploração emocional ou sexual. Durante a investigação pessoal, Felca afirma ter sido difamado nas redes sociais, sendo processadas mais de 200 pessoas por calúnia e difamação. Ele propõe que, para a retirada dos processos, os envolvidos façam doações a instituições de caridade e publiquem pedidos de desculpas.
Reações políticas
As redes sociais estão presentes em quase todos os momentos da vida. Elas aproximam pessoas, permitem que qualquer voz seja ouvida e abrem espaço para informação e causas importantes. Mas, ao mesmo tempo, podem prender o usuário em uma rotina de comparações, busca por aprovação e dependência de curtidas e seguidores.
Esse dilema se torna ainda mais delicado quando o assunto é infância. O vídeo gerou repercussão imediata e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que pautará projetos para combater a adultização infantil nas redes sociais, qualificando o tema como “urgente” e “que toca o coração da sociedade”.
A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a regulação das plataformas digitais, responsabilizando-as pela circulação de conteúdos abusivos. Diversos projetos de lei foram protocolados, incluindo o PL 3840/2025, do deputado Zacharias Calil (União-GO), que propõe pena de 3 a 6 anos de reclusão para quem produzir ou divulgar conteúdos que sexualizem ou adultizem crianças e adolescentes, com agravantes em casos de monetização ou envolvimento de responsáveis legais.
Outros projetos abordam controle parental, transparência nos algoritmos, criminalização da exploração digital por familiares e tutores e medidas protetivas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O uso das redes
“Elas podem ajudar ao aproximar pessoas, gerar informação de qualidade e dar voz a causas importantes. Mas também podem atrapalhar quando viram espaço de comparação, cobrança estética, críticas e fake news. O segredo está no equilíbrio.” afirma em entrevista a psicóloga Juliana Meneghelo.
Para ela, a chamada adultização digital é um fenômeno cada vez mais visível: “É quando crianças e adolescentes passam a assumir comportamentos, falas e padrões de consumo típicos de adultos, influenciados pelo que veem online. Essa exposição precoce pode acelerar vivências emocionais para as quais eles ainda não têm maturidade, trazendo riscos psicológicos.”
Entre os riscos do uso excessivo estão dificuldades de concentração, problemas de sono, maior exposição a conteúdos impróprios e até perda de interesse em brincadeiras presenciais, essenciais para o desenvolvimento. Esse ciclo de busca por aprovação gera ansiedade e frustração, especialmente em adolescentes que estão em fase de construção da identidade.
Ao mesmo tempo, quando bem utilizadas, limitar o tempo de uso, seguir perfis que tragam conteúdo positivo e fazer pausas digitais. As redes sociais podem ser espaço de liberdade ou de prisão. Elas aproximam pessoas, dão voz e informação. Mas também podem gerar vício, ansiedade e comparação constante. O segredo está no uso consciente: liberdade quando equilibradas, prisão quando controlam nossa vida.
O projeto
O advogado criminalista Tiago Oliveira avalia o projeto como um avanço, mas destaca pontos de atenção: “O Brasil finalmente cria regras específicas para a proteção da infância digital. Mas precisamos perguntar: será uma legislação moderna e eficaz ou mais uma tentativa apressada, sujeita a efeitos colaterais?”
Entre as principais mudanças trazidas pelo PL estão:
- Obrigatoriedade de controle parental e verificação de idade para menores de 16 anos;
- Remoção imediata de conteúdos de abuso infantil, com notificação às autoridades;
- Proibição de loot boxes em jogos online para menores;
- Multas de até 10% do faturamento no Brasil, podendo chegar a R$ 50 milhões por infração;
- Criação de uma autoridade reguladora para fiscalizar e aplicar sanções.
Um dos pontos mais debatidos no projeto é a retirada imediata de conteúdos, afirma o advogado: “Um dos maiores riscos é o poder de remoção imediata de conteúdo sem ordem judicial. Embora limitado a casos graves, abre-se um precedente perigoso. A linha entre proteção e censura é muito tênue.”
Ele lembra ainda que nenhuma lei substitui o papel da família: “O projeto reforça a necessidade de diálogo e supervisão digital. Leis ajudam, mas não resolvem sozinhas. Sem educação e acompanhamento, a sensação de segurança pode ser ilusória.”