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Redução do analfabetismo funcional estagna no Brasil e atinge 29% da população

DM Redação

Publicado em 5 de maio de 2025 às 10:01 | Atualizado há 6 horas

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Isabela Palhares – Folha Press

O Brasil estagnou na redução do analfabetismo funcional e a condição atinge 29% da população de 15 a 64 anos. Esse é o mesmo patamar que o país tinha em 2018 e ainda um recuo em relação a 2009, quando alcançava 27% dos brasileiros.

O resultado é do Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), estudo coordenado pela Ação Educativa e que teve início em 2001. Até 2009, o indicador seguiu em contínua queda na proporção de analfabetos funcionais no país, mas desde então segue praticamente inalterado.

O estudo entrevistou 2.544 pessoas em todas as regiões do país. As entrevistas foram feitas pessoalmente com a aplicação de testes com perguntas que refletem situações do cotidiano, em diferentes graus de dificuldade. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

O indicador considera que o analfabetismo funcional pode ser dividido em dois níveis: absoluto e rudimentar.
Na última edição, 7% da população dessa faixa etária é considerada analfabeta absoluta, são aqueles que não conseguem ler palavras ou um número de telefone. Outros 22% ficam no nível de alfabetismo rudimentar, que é quando sabem ler e escrever, mas têm dificuldade para entender textos mais longos ou fazer contas com números maiores.

“A alfabetização é um processo contínuo, por isso, consideramos que existem níveis de proficiência dentro dele. É bastante preocupante que a proporção de jovens e adultos brasileiros no analfabetismo funcional esteja estática há tanto tempo. De 2018 para cá, não houve avanço”, diz Ana Lima, coordenadora do estudo.

O estudo indica que a maioria dos analfabetos funcionais são pessoas mais velhas, 65% deles têm entre 40 e 64 anos. Mas há ainda uma proporção significativa entre os jovens de 15 e 29 anos e com os que têm entre 30 e 39 anos, ambos com 17%.

Os dados também indicam uma transformação no cenário educacional brasileiro. Para os pesquisadores, a queda do analfabetismo funcional nos primeiros anos do indicador são reflexo da ampliação do acesso ao ensino fundamental e médio e a ampliação de jovens que concluem a educação básica.

No entanto, a estagnação do indicador nos últimos anos reflete a baixa qualidade da educação brasileira, já que os dados mostram uma proporção grande de pessoas que passaram pela escola e, mesmo assim, não tiveram garantido o direito de serem plenamente alfabetizadas.

O estudo identificou que 17% da população que concluiu o ensino médio ainda está no nível do analfabetismo funcional. Até mesmo entre os que concluíram o ensino superior, 12% estão nessa condição.

“Uma percentual grande da nossa população jovem está saindo da escola condenada a passar a vida toda como analfabetos funcionais. A pandemia justifica uma parte desse problema, já que as escolas ficaram fechadas por dois anos e atrapalhou o aprendizado, mas não é isso”, avalia Ana.

Para ela, só garantir o acesso dos jovens à educação não é suficiente, mas é preciso que o país invista de fato na oferta de um ensino de qualidade e significativo. “Muitos jovens na periferia enxergam a escola como algo que atrapalha a vida deles, como algo sem sentido.”

Ana também destaca que os dados mostram a importância de o país investir na ampliação da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que vive nos últimos anos um processo de esvaziamento. Ela avalia ainda a importância de se repensar a oferta dessa modalidade, a qualificando para as demandas atuais.

“Há alguns anos, se associava à EJA como a educação voltada para a alfabetização de adultos. Nosso problema é que agora não temos só apenas aquele idoso que não aprendeu a ler e escrever porque teve que trabalhar na roça quando era criança, agora a gente tem jovens de 16 ou 17 anos saindo da escola sem ser plenamente alfabetizado.”

ALFABETIZAÇÃO NO CONTEXTO DIGITAL

Pela primeira vez, o Inaf também avaliou a inclusão do alfabetismo da população no contexto digital. De uma maneira geral, os dados indicam que 25% dos brasileiros com idade entre 15 e 64 anos têm baixo desempenho em atividades digitais.

Essa proporção, no entanto, aumenta conforme o menor grau de alfabetismo que possuem. Os dados mostram que 40% dos alfabetizados proficientes apresentaram médio ou baixo desempenho em tarefas digitais e 95% dos analfabetos tem um desempenho baixo.

Para avaliar as habilidades digitais, o estudo pediu aos entrevistados que realizassem tarefas corriqueiras usando um celular. Em uma delas, eles precisavam fazer uma compra e pagar via pix. Em outra, eles precisavam fazer um cadastro em um site.

“A grande constatação é que, quanto mais frágil é o alfabetismo tradicional, mais aquela pessoa fica vulnerável no ambiente digital. Incluímos a avaliação do alfabetismo no contexto digital porque cada vez mais as pessoas estão sendo obrigadas a entrar para esse mundo e, se não dominam essas habilidades, acabam até mesmo por perder direitos básicos.”


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