Salve, Fraguinha, eterno presidente da Jataiense
Redação DM
Publicado em 7 de março de 2016 às 01:58 | Atualizado há 9 anosEra Primavera e o sopro suave da brisa pressurosa esparzia o aroma da paisagem florida e perfumada das campinas verdejantes que ornamentavam o belo cenário natural da pequena cidade mato-grossense de Alto Araguaia. Envolto em um ambiente relacional de fraterna convivência familiar o lar humilde e generoso do casal Joaquim Inácio Fraga e Nely Ferreira Fraga fora naquele dia 30 de setembro de 1924, agraciado com a chegada de mais um filho aguardado com alvissareira esperança e imensa expectativa.
Ao aportar-se ao mundo das formas o robusto garoto revestido na indumentária física masculina recebeu na pia batismal e no cartório de registro civil o nome de Jerônimo Ferreira Fraga. De origem católica o Fraguinha nunca foi afeito ao cultivo de nenhuma crença de nossas religiões tradicionais cristã, embora sua crença inabalável em Deus. Ainda em tenra idade cursou o primário ali mesmo nas escolas da cidade natal incrustada nas barrancas do Araguaia o rio famoso que, em outra região, agasalha em seu leito as mais belas praias de água doce do interior do Brasil. Ao depois, em busca do conhecimento e do saber demandou a cidade de Guiratinga para concluir o ensino fundamental.
Extremamente jovem, embora franzino, corpo esbelto, músculos ágeis, decide descortinar novos horizontes e vai buscar abrigo seguro na portentosa e acolhedora cidade de Jataí, no Sudoeste de Goiás, aonde chegou a 20 de janeiro de 1945, foi acolhido afetuosa e fraternalmente por sua gente amiga e hospitaleira e dali nunca mais saiu. Assim que chegou à cidade apiária ingressou no Tiro de Guerra e abrigou-se ao serviço militar para em servindo a pátria brasileira cumprir um dever legal de cidadania. Inteligente e perspicaz tornou-se corneteiro oficial daquela unidade militar e quando o pelotão saia às ruas para fazer sua marcha diária não raramente ele se postava em frente à loja do senhor José Cabral da Silva.
Em suas andanças, vestido com a tradicional farda verde oliva do glorioso Exército Brasileiro e ostentado uma postura elegante e garbosa, o soldado Fraga virava seu instrumento musical para o lado daquele estabelecimento comercial e dele começava a extrair sonoros acordes. Em uma destas oportunidades deparou com a imagem formosa e bela da jovem estudante Ruth Cabral filha de Zé Cabral e de dona Carolina de Castro Carvalho por quem se viu enamorado e perdidamente apaixonado. Vencido irremediavelmente pelo cupido quedou-se diante dos encantos daquela jovem extremante delicada, formosa e bela. O namoro e o noivado, à moda antiga, sustentados tão somente com ternos olhares e pouca prosa, sem direito a outras caricias duraram apenas seis meses período em que o jovem casal se encontrou apenas duas vezes.
O enlace matrimonial que haveria de uni-los para sempre foi oficializado pelo magistrado da comarca Pirapitinga Santana Paranaíba e ocorreu às dez horas do dia 24 de novembro de 1946 na cidade de Jataí e fora indelevelmente registrado pelo escrivão Arnaldo Miranda. Ali na então jovem e promissora cidade apiária hoje uma portentosa e encantadora urbe, quase metrópole, estabeleceram morada com animus definitivo e trabalhando e servindo intensamente sob os auspícios da Divina Providência ficaram a aguardar a chegada de sua numerosa prole. Sábio e inteligente o jovem franzino antes mesmo de concluir o curso técnico de contabilidade logo se revelou um exímio comerciante e prosperou profissional e financeiramente para antes de se transformar em um dos homens mais abastados da cidade. Enquanto prosperava no trabalho e crescia materialmente à custa de muitas lutas e com as lágrimas do próprio sacrifício, a família igualmente crescia numericamente.
E desta união longa, estável, e duradoura que perdura a quase 70 anos adveio o nascimento dos filhos: Ailton Cabral Fraga, Adilse Fraga, Ruth Nely Fraga Morais, Alcione Fraga Oliveira Calábria, Carlos Eduardo Cabral Fraga e Adriana Cabral Fraga Freitas. A numerosa prole deu origem ao nascimento dos quatorzes netos do nosso ilustre homenageado: Alexandre, Rodrigo, Carolina, Diego, Ailton Júnior, Ana Carolina, Liana, Taciane, Márcio Júnior, Murilo, Lucas, Mateus, Letícia e Tatiane esta última já non plano espiritual. Os doze bisnetos do casal Fraga e Ruth são: Ana Carolina, Ana Paula, Nicole, João Lucas, Ana Cristina, Rian Lucas, João Emanuel, Emanuele, Gustavo, Guilherme, João Pedro e Otávio Augusto.
O comerciante Jerônimo Ferreira Fraga chamado carinhosamente de Fraguinha foi proprietário do primeiro predinho de três andares da cidade, situado na confluência da Avenida Goiás com a Rua José Carvalho Bastos no centro da cidade, onde durante vários anos teve uma as maiores e mais importantes lojas de tecidos de Jataí. O mato-grossense e marido de dona Ruth foi igualmente proprietário da Farmácia Guarani, da Concessionária Sinca, sócio proprietário do Posto Texaco, Tesoureiro da maternidade Tia Justina, Presidente da Associação Comercial e Industrial, Juiz de Paz e Venerável da Augusta e Respeitável Loja Maçônica 28 de Julho.
Em 11 de janeiro de 1952 o arrojado e brilhante desportista que se imortalizaria mais tarde pela sua audácia, bravura e tenacidade como intransigente defensor do esporte das multidões, em companhia de outros notáveis cidadãos funda a Associação Esportiva Jataiense a primeira e única equipe profissional da cidade abelha. Sua brilhante passagem pelo clube como excelente jogador e extraordinário Presidente deixou marcas indeléveis na bela e gloriosa história do desporto do Sudoeste de Goiás. Embora singelo mais de grande relevância o pequeno e decenário estádio situado no centro da cidade apiária, enquanto existiu foi emoldurado e ostentou em seu frontispício o nome de seu imortal presidente passando a chamar-se ESTÁDIO JERÔNOMPO FERREIRA FRAGA. É forçoso relembrar que na festa inaugural daquela singela e extremamente importante praça esportiva, o então jogador Fraguinha foi protagonista, artista principal e não mero coadjuvante daquele evento fantástico e de raríssimo esplendor.
E naquela tarde o time da velha Associação, que mais tarde viria a ser chamada carinhosamente apenas de JATAIENSE ou Raposa do Sudoeste enfrentaria dentro dos seus domínios o maior rival de sua história, o RIO VERDE ESPORTE CLUBE. Ao final da histórica partida, quando fecharam se as cortinas daquele espetáculo grandioso e de fundamental importância, para a alegria indizível dos torcedores jataienses, o placar acusava a retumbante vitória da equipe anfitriã. A jataiense venceu aquele histórico jogo pelo placar de um a zero com um belo gol de Fraguinha, antes do baile monumental que haveria de acontecer, como efetivamente aconteceu mais tarde no salão de festas Jóquei Clube de Jataí.
O tempo corria celeremente e durante vários anos o nosso ilustre homenageado fez tudo para que a única equipe profissional da cidade se perpetuasse como uma das grandes equipes do futebol goiano. Altaneira e soberana a equipe alviverde da terra do mel viveu momentos de glória. Hoje prestes a completar 92 (noventa e dois) anos vitimado pela ação impiedosa do tempo que passa rapidamente para nunca mais voltar FRAGUINHA que outrora fazia a alegria de muita gente é hoje uma figura praticamente esquecida pela sociedade. A JATAIENSE, altaneira e soberana, lídima e única representante de Jataí na divisão principal do futebol goiano viveu momentos de glória. O brilhante jornalista Edson Pessoa diz carinhosamente que a Raposa do Sudoeste Goiano é hoje um time fora de série: “Fora da série A, fora da Série B, fora da série C, fora da série D e enfim de todas as séries.”
Em verdade para a tristeza da maioria de seus ex-diretores, ex-jogadores e da grande massa de desportista e torcedores da equipe verde e branca, vitimada pela irresponsabilidade e desmandos administrativos de alguns de seus dirigentes a Jataiense já não mais existe. Extinta teve seu estádio praceado e vendido a preço de banana para pagar dívidas. O nosso não é o sórdido objetivo de vibrando negativamente emitir seguro juízo de valor sobre as ações do lobo mau que teria sido o culpado pela desdita que infelicitou a raposa e os desportistas da terra do mel. Infelizmente em dado momento da história do futebol goiano a Raposa do Sudoeste, de gloriosas e honradas tradições e que tão bem representava nossa cidade no cenário do desporto brasileiro teve seus passos interrompidos e saiu da vida esportiva para se perpetuar na história dos clubes imortais. E envolto nesta sublime e gostosa energia de saudosismo, de esperança e fé no futuro dos homens e da humanidade é que audaciosa, altaneira e soberanamente ousamos render ao velho guerreiro de tantas e tantas glórias esta singela e descolorida homenagem.
À mingua de recursos intelectuais e morais para fazê-lo da forma merecida tomamos a liberdade de plagiar Castro Alves o Poeta dos Escravos para repetir a uma só voz em alto e bom som: “Vai Fraguinha, rompe os ares, os seus, os mares, Deus ao chão não te amarrou.”
(Irani Inácio de Lima é presidente da Associação Jurídico Espirita de Goiás e ex-presidente da Jataiense)