Sinhozinho, Gustavo e história musical em Goiás
Redação DM
Publicado em 12 de agosto de 2022 às 13:21 | Atualizado há 3 anos
A história da cultura musical goiana está recheada de músicos talentosos, obras magníficas e acontecimentos emblemáticos. Da música erudita do século XIX, com a formação das primeiras bandas até o movimento, que teve o seu apogeu na década de 1980, transformando Goiânia na capital brasileira da MPB ao vivo nos bares, há um acervo valiosíssimo a ser pesquisado e apreciado pelos amantes da cultura.
Nessa impressionante trajetória, a partir da construção de Goiânia, sob o pioneirismo dos músicos da antiga Vila Boa, destaca-se, no estilo erudito, a formação da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG, com a contribuição fundamental de Belkiss Spencière, neta da ativista cultural, Nhanhá do Couto, responsável pela fundação da primeira orquestra de cinema Luso-Brasileira.
Já a tradição das modinhas, encontrou na voz da vilaboense, Eli Camargo, uma das suas principais referências. Por sua vez, o estilo mais popular, que forjou a profissionalização de músicos extraordinários, a partir das bandas de baile, passando pelos festivais Universitário, Secundarista (Comunica-Som), Gremi e outros pelo interior, a MPB ao vivo nos bares até os festivais underground, como, Goiânia Noise, Bananada e Vaca Amarela, revelou artistas notáveis e uma produção autoral fantástica, exibindo a riqueza da diversidade cultural musical goiana.
Muitos desses artistas populares são herdeiros da melhor tradição musical familiar. É o caso de Rinaldo e Marcelo Barra, com vínculos sanguíneos a José Joaquim da Silva Barra e Euny Velasco Barra, os “namoradinhos do rádio”, nas décadas de 50/60 e as musicistas, Honorina e Luisa Barra.
Outro exemplo de quem bebeu na fonte da família é o violonista, arranjador, cantor e compositor Gustavo Ribeiro. Ele nasceu vendo o pai, Eliodório Pereira Oliveira, o lendário Sinhozinho encantar o público goiano com os seus repentes, cordéis e sambas. Autor de “Outro Futuro”, “Samba na Praça”, “Náufrago”, “Doce Que É Você” e “Pirenópolis”, em parceria com Carlos di Sá, Gustavo começou a cantar nos bares aos 16 anos, inspirado no pai, na mãe, cantora Beth Ribeiro e no tio Epaminondas, o “Pirulito da Guitarra”, primeiro band leader de Goiás, sob a orientação do professor Sidney Barros, o Gamela. Formada por músicos da família, havia a banda de baile, “Os Politonais” e o pai, Sinhozinho tinha também um conjunto voltado à musicalidade regional.
Gustavo Ribeiro se identifica como um músico da rua e do meio do povo, que canta com a mesma disposição num bar mais sofisticado da área central ou num boteco da periferia. Seja no presídio, na igreja católica, no templo evangélico, num centro de umbanda, no bar, no casamento ou numa assembleia de trabalhadores, lá está o filho do Sinhozinho, mostrando a sua arte.
Aliás, o seu pai, que faleceu ainda jovem aos 46 anos, quando estava prestes a conquistar o reconhecimento nacional, foi uma das figuras mais conhecidas da música goiana, nas décadas de 60 e 70. Ele animou a primeira exposição agropecuária de Goiânia. Foi autor do jingle de Lúcio Lincoln de Paiva, o famoso “Deputado Manda Brasa”, que combatia a ditadura.
Sinhozinho, que celebrou o nascimento do filho Gustavo, compondo “Baby, sou brasileiro”, além de exímio músico – tocava todos os instrumentos de percussão, acordeon e violão -, era mestre na arte do improviso e exibia a sua notável capacidade intelectual, declamando poesias de Castro Alves, Augusto dos Anjos e outros célebres autores da literatura brasileira.
Até hoje, mais de quatro décadas após o seu falecimento, em 6 de março de 1979, algumas de suas músicas permanecem bem vivas e sendo cantadas, como, “Uma Canção por Pirenópolis” e “Exaltação a Anápolis”.