Brasil

Tarde de Solidão

Redação DM

Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 23:45 | Atualizado há 10 anos

Ao pensar em minha vida, cheguei a uma constatação na vida se ganha e se perde, relendo meu livro escolar em uma tarde ensolarada percebi o quanto estava triste com a partida de meu pai. Era um domingo, vinte e cinco de setembro ele iria viajar para longe a Alemanha, tinha que resolver uns negócios na capital Berlim.

Entretanto dizia que não ficasse triste, pois voltaria logo assim que se resolvesse tudo, porém algo dentro de mim dizia o contrário, haveria de me esquecer, passaram-se 20 anos, eu estava na adolescência, tinha que trabalhar para ajudar minha mãe. Anos se passaram estávamos morando em um lugarejo chamado Bonfinópolis, lá era  aplausível, tinha um comércio pequeno, mas um povo acolhedor e agradável.

Comecei a trabalhar na construção da estação da estrada de ferro, era pelos idos de 1950, trabalhei, lutei, vendo que não obtinha sucesso e tendo que continuar meus estudos, eu e minha mãe fomos morar no Rio de Janeiro, pois uma irmã de minha mãe morava lá já  fazia algum tempo, tia Jurema, chegando ao Rio, quanta tristeza se abateu sobre mim de lembrar dos amigos que deixei para trás na minha querida Bonfinópolis.

No entanto tinha que lutar não somente por mim, mas por minha mãe, arranjei emprego de engraxate por intermédio de meu tio Honorato, trabalhava muito, mas com o pouco que ganhava ajudava nas despesas da casa de meu tio, minha mãe estava trabalhando de ajudante em uma loja de tecidos de um senhor chamado Rakan, um sírio que estava instalado na Rua do Catete, no centro da cidade.

Íamos lutando com muitas dificuldades, mas Deus dava-me forças para superar os obstáculos, estudando consegui terminar o ginasial e em seguida o segundo grau, estava me preparando para ingressar em uma universidade, porém não tinha condições para isso, pois o salário mal cobria as despesas da casa.

Contudo pensei em uma maneira de ganhar mais dinheiro, foi assim que, juntando as economias minhas com as de minha mãe, montei um pequeno negócio e com o tempo e com o passar dos anos foi-se ampliando, com o rendimento consegui então sonhar em entrar em um curso superior.

Foi assim que, estudando, ingressei e fiz o curso de Direito na Universidade Campos Sales, montei um escritório de advocacia. Passaram-se 10 anos, minha mãe não se encontrava com mais ânimo como antes, estava triste, pois tinha uma doença incurável que não poderia fazer com que se recuperasse. Nesse dia foi o momento mais triste da minha vida, ter que assistir minha mãe morrer e não poder fazer nada. Ela que sempre me apoiava, estimulava a conseguir meus objetivos. Em uma quinta-feira de dezembro, mais precisamente no dia 8, minha mãe falecera. Foi o dia de pesar na minha vida. Contudo, com a força de Deus, consegui amenizar este sofrimento, mas sempre terei minha mãe em meu coração, que tenho certeza iluminará minha vida, meus objetivos.

Andando um dia pelas ruas, encontro um velho barbudo, pergunto-lhe o nome dele e ele me diz que se chamava Fábio, que tinha perdido o contato com a família fazia anos e que estava procurando seu filho e sua esposa. Naquele momento percebi que aquele homem poderia ser meu pai. Então perguntei de onde ele era e ele me falou que era de São Paulo, do Bairro do Bexiga e  era filho de Werner Schwan. Não, não poderia ser, era meu pai. Olhei para ele e disse: pai, sou eu, o Paulo. Neste momento ele arregalou os olhos de alegria e compulsivamente disse: filho, filho, como te procurei, você e sua mãe. Me perdoa, fui a Berlim resolver uns negócios, perdi quase tudo com bebidas e jogos. Voltei ao Brasil e fui enganado por outras pessoas, ou seja, perdi tudo.

Naquele momento, senti pena daquele homem e ao mesmo tempo alegria por ter encontrado meu pai, que estava sumido há anos. Quando lhe contei da morte de minha mãe, ele chorou sem parar. Percebi o quanto ele a amava, então levei para minha casa e estou cuidando dele com a minha esposa Catarina e meus filhos Francisco e Renata. Meu nome é Paulo Castilho Schwan, estou escrevendo isso para dizer que, apesar de se ter tardes de solidão, devemos ter sempre em nossos corações que o amor é infinito a tudo. Perdi minha mãe, mas reencontrei meu pai, que hoje é a força para minha vida e esperança de tempos melhores e sonhos que se realizam no amanhã de uma nova aurora.

 

(Ruy da Penha Lôbo, graduado em Letras Espanhol – UCG – Hoje PUC Goiás – blog http://imruy.blogspot.com twitter: @ penha Lobo – residente em Bonfinòpolis – Goiás)

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