Uma tarde com o Dragão
Redação DM
Publicado em 31 de março de 2016 às 00:57 | Atualizado há 9 anos
O clima estava favorável para uma tarde de futebol. Temperatura amena, sem sol. Apenas alguns pingos de chuva esparsos no rosto.
Comprei uma ‘timemania’ de um cambista, com aposta para o Atlético e peguei a fila para comprar os ingressos.
Uma senhora respeitável me vendeu o bilhete do jogo: lindo, com bordas douradas.
Cheguei atrasada para o jogo Atlético x Vila Nova no Serra Dourada. Perdi o início. Mas quando passei pela revista da Polícia Militar, escutei um grito da multidão, que eu não soube distinguir do que se tratava.
Adentrei no estádio e por sorte, do lado da torcida atleticana.
Sentei-me ao lado de um rapaz e comecei a tirar minhas dúvidas: – Estou do lado certo? O jogo já começou? A torcida do Vila é mesmo animada, comentei.
– Claro, respondeu. Já tomamos um gol.
– Como? Interpelei.
– Ora essa…não vê como aquela torcida está animada? O Vila Nova já fez um gol!
Procurei pelo placar e estava lá: 1×0. Tudo verdade.
-Vixe… pensei cá comigo… mas ainda temos tempo de virar.
Diante da péssima notícia, já que sou atleticana, saí de fininho e procurei um cantinho para mim no estádio.
Arquibancada, primeira fila, pertinho do gol. Podia me levantar com liberdade e ficar rente ao muro que separava o estádio do campo.
Também tinha uma bela visão do campo, com seu gramado verdinho e impecável.
Parecia estar próxima dos jogadores, o que me dava a impressão (ainda que ilusória) de poder reclamar com eles, dar palpites e até orientações técnicas!
Logo se juntaram a mim dois outros torcedores atleticanos: Fagner e Ralf. Pronto! Já tinha companhia.
O jogo se desenrolou nervoso. Cada bola que chegava perto do gol do Atlético me arrancava gritos de pânico, e levava as mãos na cabeça, é claro: meu Deus! Por muitas vezes me faltou ar e achei que, antes da partida terminar, acabaria tendo de ser socorrida pelo Samu.
A impaciência surgiu junto com os palavrões: fdp, pqp, maconheiro e lá vão mais.
Resolvi que não podia assistir a um clássico como esse sem conhecer de perto a torcida organizada.
Caminhei até ela e, disfarçadamente, me coloquei ao lado do líder.
Ele estava nervoso. A essa altura o jogo já estava no segundo tempo e a torcida, mesmo com placar desfavorável, entoava brados de vitória ao Dragão.
Percebi que as moças bonitas gostam de estar ali no meio da torcida organizada. A maioria do público é masculino, mas as menininhas estavam todas por ali…
Quando vi que iria perder a voz se continuasse no meio dos “dragões atleticanos”, resolvi voltar para o meu cantinho.
Foi uma bela tarde de domingo, onde pude assistir a este clássico do futebol goiano. Senti que estava no lugar certo na hora certa. Ir ao estádio num domingo à tarde é uma boa opção de entretenimento.
O jogo seguiu emocionante até o fim. O placar ficou igual ao do começo da partida.
Saí desapontada com o resultado. É claro que a vitória vem a calhar ao torcedor pelo seu time.
Desolada, segui passos rápidos em direção à minha casa, com uma certeza: vamos ganhar na próxima partida.
Moro perto do estádio, então voltei a pé.
Como estava caminhando, aproveitei para refletir sobre a tarde que passei no Serra Dourada, e me perdi em pensamentos: se o amor suporta tudo, é sofredor, paciente e esperançoso, não tem outro jeito: sou Atlético Clube Goianiense.
Sou atleticana, de coração.
(Silvana Marta de Paula Silva, advogada e escritora. Twitter:@silvanamarta15)