Uso de cigarros eletrônicos está aumentando no Brasil
DM Redação
Publicado em 26 de agosto de 2025 às 08:52 | Atualizado há 5 horas
De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, o uso de cigarro eletrônico entre adultos brasileiros atingiu 2,6% em 2024, o maior índice desde o início da série histórica em 2019 e uma alta de 24% em um ano. Esse percentual representa cerca de quatro milhões de pessoas que utilizam esses dispositivos. Já dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) indicam que 9,3% da população adulta, equivalente a 19,6 milhões de pessoas, se declararam fumantes em 2024. A prevalência é maior entre homens, com 13,8%, contra 9,8% entre mulheres.
Para chamar atenção sobre o tema, 29 de agosto é o Dia Nacional de Combate ao Fumo e o uso crescente de dispositivos eletrônicos têm se tornado uma nova preocupação para os especialistas, especialmente entre jovens, que representam um grupo de risco em potencial. A pneumologista Daniela Campos comenta sobre isso. “O cigarro eletrônico, o famoso vape ou pod, atrai muitos jovens pela nova roupagem, alguns são até customizados. Além disso, não tem cheiro ruim e tem sabores, não tem aquele gosto ruim do alcatrão igual ao cigarro convencional”.
A especialista, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, comenta sobre os malefícios dos vapes. “Mesmo sendo um produto novo é uma droga que já vem sendo estudada. Em 2019 vários jovens faleceram de uma doença chamada EVALI, que é um dano alveolar difuso que vem causando nesses pacientes que levam a uma insuficiência respiratória aguda grave por um tapetamento, como se fosse um cimento que gruda no pulmão. Os pacientes internam como se fosse uma pneumonia e não é”, afirma. “Recentemente também foi descoberto o pulmão de pipoca, que é uma bronquiolite obliterante. E várias outras alterações sem serem pulmonares, como risco de câncer de boca, laringe, AVC, infarto, etc”, completa.
Mentira de mercado
Quando chegaram ao mercado, muitas pessoas começaram a usar os cigarros eletrônicos achando que seria uma forma de largar o cigarro. “A indústria começou com esse engodo, de que estavam lançando um produto para que ajudasse as pessoas a parar de fumar e algumas acreditaram, porque foi falado que existia uma quantidade de nicotina em gotas que a gente conseguia tatear. Por exemplo, o paciente fumava 20 cigarros, então a gente ia começar com o eletrônico com X gotas. Só que isso nunca existiu para nós médicos, porque a gente nunca soube a real quantidade de nicotina que tinha naquela gota. E a maioria desses cigarros eletrônicos já vinham com THC, que é um derivado da maconha”, pontua a pneumologista.
Alguns usuários dos cigarros eletrônicos falam que é possível controlar a quantidade de nicotina nas essências e até fazer sem essa substância, mas Daniela Campos contesta esse argumento. “É muito difícil controlar a quantidade de nicotina, mas mesmo que não tenha nicotina, tem o derivado da maconha, que é o THC. E mesmo que não tenha THC, tem amônia, propilenoglicol, chumbo, produtos extremamente tóxicos, nocivos e cancerígenos para o pulmão. Então vai fazer mal praticamente do mesmo jeito”, ressalta. “A a sua fumaça também tem substâncias tóxicas que podem levar ao enfisema e doenças pulmonares, como uma asma, em quem não é o fumante, mas inala essa fumaça”, acrescenta.
Existem projetos de lei em andamento para regulamentação dos cigarros eletrônicos no Brasil, mas a especialista é contra essa possibilidade. “Nenhuma das sociedades médicas sérias apoiam a legalização do cigarro eletrônico, já que a gente viu que países como a Inglaterra e Reino Unido, que liberaram o uso dele, estão penando hoje com internações e a falta de leito por conta da EVALI e do pulmão da pipoca, que é a bronquiolite. E com jovens de 12, 13 anos usando, porque foi permitido. Então, nós somos contra. A Sociedade Goiana de Pneumologia é contra. A Sociedade Brasileira de Pneumologia é contra. Continuaremos contra”, salienta a médica.